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A Voz da Raça – A voz da população negra excluída pós-abolição
Hoje, 18 de março, completam 86 anos da criação do periódico “A voz da Raça”, meio de comunicação jornalístico que revolucionou o início do século XX; uma voz da população negra excluída da sociedade pós-abolição.
Criado em 1933 pelo membro da Frente Negra Brasileira (FNB), Fernando Costa, o jornal se tornou um documento oficial do grupo. Ele expandia a militância política da luta pelos direitos da população negra na época. “Em São Paulo, há uma infinidade de negros desempregados. Os lugares são ocupados por estrangeiros. Há patrões e chefes de obras que não contratam operários Brasileiros, sobretudo negros” (A VOZ DA RAÇA, n.44,1934, p.2).
A Voz da Raça foi uma publicação inovadora para o século XX: contava com sistema de assinaturas, impressão em grande escala e distribuição feita para outros estados brasileiros. Seu formato era composto por quatro páginas preenchidas por artigos, notícias, notas e chamadas intituladas pela frase de Isaltino Veigas dos Santos “O preconceito de cor no Brasil, só nós os negros, podemos sentir”.
Além da finalidade informativa, o periódico tinha como objetivo dar voz à população negra. O combate ao racismo, preconceito de cor e a marginalização da população negra eram denunciados em suas páginas. A discursão sobre etnicidade também tinha seu espaço no jornal.
Os temas abordavam a arte, cultura, poesias e colunas escritas por mulheres negras. A religiosidade afro-brasileira, samba, capoeira e outros eram abordados como elementos culturais presentes na sociedade que não eram devidamente respeitados. Divulgação de notícias esportista era outra pauta, dando destaque a atletas negros, como Josse Owens.
Outro papel importante do jornal era trazer ao público o conhecimento sobre os abolicionistas negros José do Patrocínio e Luiz Gama, grandes nomes que eram referencias para o ativismo da época. Zumbi do Palmares também era enaltecido pela criação do Quilombo do Palmares, que se tornou referencia de estado formado e comandado por negros.
Após 45 anos da abolição, a população negra ainda se encontrava escravizada pelo preconceito e racismo e não estava inserida de forma digna na sociedade. A criação de veículos de informações voltadas a esse grupo étnico resultou no fortalecimento de vários movimentos sociais e políticos de combate ao preconceito racial. Dessa forma, a imprensa negra passou a ter relevância na construção do pensamento político, apesar do índice de analfabetismo ainda estar concentrado entre a população afro-brasileira, no inicio do século XX.
Com o golpe instaurado em 1937, na gestão de Getúlio Vargas, todos os partidos políticos, incluindo a FNB, foram extintos. Os veículos de comunicação, A Voz da Raça e outros, sofreram censura e logo foram extintos também. Ao todo, A Voz da Raça teve 70 edições publicadas e, no início do lançamento eram distribuídos semanalmente ao passo que no ano de sua extinção, passou a ser distribuído mensalmente.
Fontes: