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A Música Popular Brasileira (MPB) e suas influências negras
Comemorado anualmente desde o ano 2012, o Dia da Música Popular Brasileira (MPB) homenageia o nascimento da primeira compositora oficial do gênero, a carioca Chiquinha Gonzaga, e relembra a cada 17 de outubro, personalidades fundamentais aos registros da diversidade brasileira a partir da música. Considerando a influência afro-brasileira na MPB (além da indígena e europeia) a Fundação Cultural Palmares (FCP) homenageia aos artistas, ressaltando a contribuição de personalidades negras que se destacaram nos diferentes aspectos da música nacional: letras, melodias, harmonias, ritmos e técnicas vocais.
“A música do nosso país é muito rica e devemos esse legado a artistas de diferentes gerações como Pixinguinha, Jair Rodrigues, Sandra de Sá, Jorge Ben Jor, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Leci Brandão, Elza Soares, Mart’nália entre muitos e muitas que podem ser considerados a própria arte”, destaca Vanderlei Lourenço, presidente da FCP, lembrando que as raízes da MPB vêm do período colonial, se esboçando como gênero musical nas grandes cidades a partir dos séculos XVIII e XIX, se consolidando na década de 1960 tal como é conhecido nos dias atuais.
A música é um aspecto importante da cultura de um povo. Além de uma linguagem é ainda um mecanismo de registro da história, pois perpetua fatos e cotidianos marcantes de determinados tempos, permitindo esse referencial às gerações futuras tal como acontece na história oral. Por meio da pesquisa A Música Como Documento em Sala de Aula, a especialista Dilcéia Boaventura dos Santos defende a utilização da música como fonte histórica em sala de aula. “Possui sua importância na construção da identidade do aluno como agente histórico crítico-reflexivo”, afirma em seu estudo.
Kátia Cilene Martins, pedagoga e também coordenadora-geral do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC/FCP) também recomenda a prática. “Levei a música para a sala de aula com a intenção de trabalhar disciplina, mas os alunos se identificaram e se envolveram mais. Então, mudei de estratégia e comecei a utilizar como um recurso didático para as aulas de Português e de Literatura, os resultados foram incríveis”, conta, recordando as experiências que teve em escolas de Ensino Fundamental no Maranhão.
Segundo Kátia, a música deve ser valorizada como instrumento linguístico, comportamental, literário e muito mais, pois, sabendo ser usada, desperta o interesse dos estudantes para toda e qualquer área do conhecimento. Ela, que muitas vezes se referenciou com as canções de Djavan, destaca que a música “Facilita a compreensão de como funcionaram, por exemplo, as Escolas Literárias ao mesmo tempo em que transforma o agora, harmonizando o espaço escolar”.
Os movimentos da MPB – Para além do gênero musical, a MPB se tornou uma ampla frente cultural com o objetivo de promover a reflexão social sobre decisões que interferem no coletivo nacional. A Jovem Guarda e a Tropicália, foram desdobramentos da MPB que, na década de 1970, ganharam força. Cristiane de Oliveira Silva Madeira, especialista em Letras Inglês-Português, destaca em seu artigo A Música Popular Brasileira em Sala de Aula que, muitos compositores brasileiros utilizaram essa forma de expressão como meio de tornar públicas as suas discordâncias políticas e sociais.
Referenciando estilos – A MPB sempre se caracterizou pela mistura em sua procura por resgatar a tradição brasileira. “É reflexo da soma de diferentes estilos musicais, também assimilando elementos modernos”, explica o historiador Fernando Saroba, em entrevista ao blog Ndmais. Para exemplificar, ele cita combinações como as feitas de um baião com toque de guitarra elétrica, a marcha acompanhada por teclado, um rock com chorinho, mesclas do que é tradicionalmente brasileiro com o que é típico das influências estrangeiras.
A partir dos anos 2000 surgiu a Nova MPB, trazendo nomes e talentos como Seu Jorge, Ellen Oléria, Bia Ferreira, Marcelo Café, Xenia França, Luedji Luna. Apesar de ser vista como uma continuidade contemporânea da MPB tradicional, o Novo estilo traz algo ainda mais dinâmico quanto à melodia e a composição, porém, não alcançando o mesmo espaço midiático dos movimentos anteriores. Atualmente, um investimento vem sendo feito por empresas televisivas por meio de programas que selecionam novos talentos musicais, onde vêm se destacando cada vez mais as vozes e as influência negras.