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49º Aniversário do Bloco afro Ilê Aiyê
O Ilê Aiyê celebra o aniversário de 49 anos com show especial no dia 1º de novembro, na Senzala do Barro Preto, no bairro da Liberdade. Considerado o primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê completa 49 anos de história e promete celebrar a data em grande estilo, com uma festa especial em Salvador.
A celebração terá início às 19h30, com a tradicional caminhada do Plano Inclinado até a Senzala do Barro Preto ao som da Band’ Aiyê. A partir das 21h, o grupo anfitrião receberá a participação de convidados especiais que prometem agitar o público.
Conheça a origem do Ilê
A história do Ilê Aiyê mistura-se à história do terreiro Ilê Axé Jitolu e sua responsável, a Ialorixá Mãe Hilda. A expressão em língua iorubá, Ilê significa casa, e Aiyê, significa terra. Por isso, a tradução do nome pode ser entendida como “nossa casa” ou “nossa Terra”, indicando a ligação do bloco com as heranças dos orixás e com os costumes sociais e culturais da mãe África.
Fundado em 1° de novembro de 1974 por Antonio Carlos dos Santos Vovô, conhecido como o Vovô do Ilê, o surgimento do grupo evidenciou a fragilidade do conceito de democracia racial, provocando críticas como as vinculadas na mídia na época.
A data de sua criação coincide com um momento histórico e importante para a sociedade negra mundial, como o surgimento do movimento Négritude, da prisão de Angela Davis (EUA), da criação do Dia da África (ONU) e da independência de vários países africanos, como Cabo Verde, Angola e Moçambique, entre outros eventos.
O objetivo da entidade é preservar, valorizar e expandir a cultura afro-brasileira. Para isso, desde que foi fundado, vem homenageando os países, nações e culturas africanos e as revoltas negras brasileiras que contribuíram fortemente para o processo de fortalecimento da identidade étnica e da autoestima do negro brasileiro, tornando populares os temas da história africana vinculando-os com a história do negro no Brasil, construindo um mesmo passado, uma linha histórica da negritude.
Foi nesse contexto que surgiu o bloco Ilê Ayê, que chegou com uma proposta até então inédita no país: um bloco formado exclusivamente por negros. Na época, a ideia desagradou vários setores da sociedade, mas não houve desistência e o projeto seguiu em frente.Em 1975, o bloco saiu às ruas da capital baiana pela primeira vez, como o Vovô do Ilê tocando timbal. Aliás, o nome que ele tinha pensado para o bloco era bem diferente do que ganhou fama nacional e internacional.
Em 1978, o artista Jota Cunha criou a identidade visual do bloco: uma máscara. A máscara africana com quatro búzios abertos na testa e que formam uma cruz foi batizada de Perfil Azeviche.
E a escolha desse objeto revela um simbolismo poderoso. Afinal, a máscara, que pode receber outros nomes dependendo de cada etnia, é um objeto ritualístico importante em diversas culturas africanas, representando a natureza, a humanidade, a coletividade e a transcendência espiritual.
Além da máscara em si, suas cores também carregam diversos significados. O azeviche, por exemplo, é um tipo de mineral negro que é associado ao barro preto das terras de Liberdade e, ao mesmo tempo, à pele negra.
Já os traços brancos representam a paz; o amarelo faz referência à beleza e riqueza cultural; enquanto o vermelho lembra o sangue do povo negro que foi derramado durante as lutas por libertação.
Se inspirando nessas cores, Dete Lima, estilista do Ilê Aiyê, desenvolveu os turbantes com amarração e as fantasias com tecidos estampados que destacam os integrantes e se tornaram a marca registrada do bloco.
Além disso, o Ilê também resgatou o uso de enfeites de palha, contas e búzios em suas roupas e adereços, permitindo a formação de um visual rico de cores, texturas e sensações.
Em 1979, foi criada a Noite da Beleza Negra, que é realizada até hoje. Através desse evento, que costuma ser realizado cerca de 20 dias antes do Carnaval, a beleza da mulher negra do Brasil é exaltada.Apesar do sucesso na década de 1970, o primeiro disco do bloco só foi gravado em 1984 e recebeu o nome de Canto Negro I. Desse disco, as músicas “Que bloco é esse?”, “Mãe Preta” e “Depois que o Ilê passar” são alguns dos destaques.
Em 1989, o segundo disco do bloco, Canto Negro II, foi lançado. Mas foi somente na década de 1990 que as músicas do Ilê Ayê e de outros blocos afros da Bahia, como Araketu e Olodum, ganharam espaço no show business e começaram a fazer grande sucesso entre o público.
Em 1996 é realizada a gravação do terceiro disco do bloco: o Canto Negro III. E em 1998, o que muita gente não imaginava aconteceu: a gravação do disco Ilê Aiyê 25 Anos, um marco na história do bloco.
O tempo passou e o Ilê continuou sua trajetória de sucesso. Por isso, em 2015 foi realizada a gravação do CD e DVD, intitulado Bonito de se ver, em comemoração aos 40 anos do Ilê Ayê.
Por isso, diferentemente de outros blocos, o Ilê não se limita a canções de militância tocadas apenas durante os dias de folia. Trata-se de um projeto amplo que defende questões éticas, de educação e transformação social, oferecendo educação e arte aos jovens do bairro.
O Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê inaugurou a série Caderno de Educação, idealizado pelo poeta, professor e então diretor do bloco Jônatas Conceição, e pela pesquisadora, professora e diretora do bloco Maria de Lourdes Siqueira.
Por meio dessa ação, além da cultura negra, os participantes do projeto também recebem aulas de percussão, literatura, dança, canto, coral, entre outros assuntos que contribuem para sua formação pessoal, social, cultural e profissional.
Fonte: https://ileaiyeoficial.com/