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‘‘País com maior população negra do mundo’’, Nigéria vai às urnas neste sábado (16) escolher o seu presidente e parlamentares
(© Pius Utomi/AFP via Getty Images)
O país mais populoso da África, com 203 milhões de habitantes, maior produtor de petróleo e uma das maiores economias do continente, a Nigéria escolhe neste sábado (16) o seu 6º presidente democraticamente eleito desde o fim do regime militar, em 1999.
Apesar do registro de 73 candidaturas, o pleito é protagonizado pelos representantes dos dois principais partidos políticos que desde a redemocratização vêm se alternando no poder: Muhammadu Buhari, de 76 anos, candidato à reeleição pelo Congresso de Todos os Progressistas (APC) e Atiku Abubakar, 72 anos, vice-presidente do país entre os anos de 1999 e 2007, pelo Partido Democrático do Povo (PDP). Apesar da centralidade destes dois candidatos, a popularidade da ex vice-presidente do Banco Mundial para a África, Oby Ezekwesili, que em janeiro retirou-se da disputa presidencial, precisa ser notada. Ezekwesili é uma ativista do movimento #BringBackOurGirls, que protagonizou a luta pela liberação de meninas sequestradas pelo grupo extremista nigeriano, Boko Haram.
Estão inscritos para votar 84 milhões de nigerianos, nesta que é uma das maiores eleições do mundo a serem realizadas neste ano. No dia 2 de março, os nigerianos voltam às urnas para eleger governadores e para as assembleias dos estados.
A eleição se desenvolve em um contexto de tímida saída deste gigante africano da recessão econômica, registrada entre os anos de 2016 e 2017. Além disso, o presidente eleito precisará enfrentar as altas taxas de desemprego, o aumento da extrema pobreza e a violência, sobretudo a orquestrada pelos ataques do Boko Haram. Os ataques deste grupo extremista se concentram, especialmente, nas regiões norte e nordeste da Nigéria, atingindo também países vizinhos como Chade, Camarões e Níger. Os números de afetados pelos ataques do Boko Haram são uma triste marca: mais de 203 mil refugiados nigerianos, mais de 1,7 milhões de deslocados internos, mais de 482.000 deslocados internos em Camarões, Chade e Níger e, desde 2009, 27.000 mortes.
Apesar do temor de ataques do Boko Haram e da grande estratégia de segurança montada, espera-se que as eleições ocorram em clima de tranquilidade, considerando também que a decisão entre os candidatos não ocorrerá por força da religião, da região de origem ou da etnia, já que ambos são hauçás e muçulmanos, contrastando com eleições anteriores que opuseram candidatos cristãos e muçulmanos, em um país dividido entre um sul predominantemente cristão e um norte dominado pelos muçulmanos, além de mais de 250 grupos e línguas étnicas.
Em termos de relações com o Brasil, o contato é histórico e remonta a vinda de escravizados, sobretudo dos povos hauçás (malês) e iorubas. Na segunda metade do século XIX, as relações se davam por meio dos agudás, ex-escravizados brasileiros que retornaram para a região. Em Lagos, maior cidade do país e segunda maior cidade africana há, inclusive, o Brazilian Quarter (bairro brasileiro), local onde se estabeleceram estes ex-escravizados brasileiros retornados.
Atualmente, cerca de 8.000 nigerianos vivem no Brasil, de acordo com a embaixada e, as relações Brasil-Nigéria se dão por meio da cooperação técnica, da compra de petróleo e de parcerias comerciais. Em janeiro deste ano, o Brasil fechou um acordo de crédito de US$ 1,1 bilhão de dólares para financiar a venda de máquinas e equipamentos agrícolas para a Nigéria, o maior projeto agropecuário do continente.
A Nigéria é um dos 21 (de um total de 54) países do continente africano que, ao longo de 2019, realizam ou realizaram eleições presidenciais, legislativas ou regionais, entre os quais também a República Democrática do Congo, Senegal, Guiné-Bissau e Moçambique, estes dois últimos, países lusófonos.
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