Notícias
Mais uma superterra na vizinhança solar
Em artigo publicado em 8 de novembro, um grupo de pesquisadores europeus e argentinos mostra resultados que sugerem a existência de um planeta em torno da estrela Ross 128 (Proxima Virginis). Esta estrela está localizada a aproximadamente 11 anos-luz da Terra e é bem mais fria que o Sol, com diâmetro igual a ~20% do diâmetro solar.
O artigo, liderado por Xavier Bonfils, da Universidade Grenoble, França, apresenta uma análise de 157 espectros da estrela obtidos entre 2005 e 2016 pelo espectrógrafo HARPS, localizado no Observatório Austral Europeu em La Silla, Chile. Graças à alta resolução e à estabilidade dos espectros deste instrumento, os astrônomos puderam medir a variação da componente da velocidade da estrela na direção da Terra com grande precisão. O movimento de planetas em suas órbitas em torno de estrelas provoca uma variação regular nestas velocidades, e esta é uma das formas como os astrônomos podem achar planetas fora do Sistema Solar. Neste caso, os autores encontraram variações com períodos entre 9.86 e 9.88 dias. Usando medidas da variação do brilho da estrela no tempo (curvas de luz) obtidas por outros pesquisadores, os autores puderam determinar que o período de rotação da estrela é de aproximadamente 121 dias. Este valor é bem diferente do período de ~9.8 dias obtidos dos espectros, o que sugere que a variação do espectro não deve estar relacionada com a rotação estelar e reforça a hipótese da variação espectral ser causada por um planeta.
Usando o período orbital de ~9.8 dias e a massa da estrela, é possível calcular que a distância média do planeta à estrela é igual a apenas 5% da distância média da Terra ao Sol. Mas como Ross 128 é bem mais fria que nossa estrela, o planeta recebe apenas 40% mais radiação luminosa que a Terra e, com isso, as temperaturas em sua superfície poderiam estar próximas de valores que permitiriam a existência de água líquida. A partir da amplitude da variação da velocidade medida, os autores determinaram que a massa do planeta deve ser de no máximo 35% maior que a massa da Terra.
Mais observações são necessárias para confirmar a existência do planeta ou se há indicação da presença de outros planetas em Ross 128. Da mesma forma, mais observações da estrela vão ajudar a determinar as características físicas do planeta e se ele pode ou não suportar vida. O estudo da dinâmica de exoplanetas e a caracterização física de estrelas com planetas são linhas de pesquisa desenvolvidas no Observatório Nacional.
Texto: Jorge Carvano, pesquisador do Observatório Nacional, com atuação na área de ciências planetárias