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Relato de 1875 de ex-diretor do Observatório Nacional revela aurora austral no Rio de Janeiro
Neste mês de maio, um evento cósmico de proporções extraordinárias capturou a atenção dos observadores do céu em todo o mundo. A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA) anunciou a detecção de atividade em uma mancha solar na superfície do Sol. Esta ocorrência desencadeou uma tempestade geomagnética intensa durante o fim de semana subsequente, resultando em um espetáculo celestial incomparável: as deslumbrantes auroras boreais.
O fenômeno, normalmente restrito às regiões polares da Terra, tornou-se visível em locais incomuns devido à magnitude da tempestade geomagnética. No Hemisfério Sul, moradores de algumas cidades da Argentina também foram agraciados com a visão das auroras austrais, nome dado para a versão do evento que ocorre no sul do planeta.
Este evento, classificado pelo NOAA como uma das maiores explosões solares das últimas duas décadas, pintou o céu em uma paleta de cores verde, vermelha, roxa e rosa, proporcionando um espetáculo celestial memorável.
Ilustração da aurora austral vista em Santiago do Chile, em 1859
Mas você sabia que o Brasil já registrou uma Aurora Austral? Pois é, em 15 de fevereiro de 1875, o astrônomo francês Emmanuel Liais, então diretor do Observatório Imperial no Rio de Janeiro (hoje Observatório Nacional), observou nos céus da cidade um fenômeno raro: uma forte e duradoura Aurora Austral. Este evento, até então pouco conhecido, ganha destaque na história da astronomia brasileira como um dos primeiros registros documentados de uma aurora no país.
O relato de Liais foi publicado nos jornais da época, como o Jornal do Commercio (RJ) e A Nação: Jornal Politico, Commercial e Litterario (RJ). No artigo intitulado "A possible case of sporadic aurora observed at Rio de Janeiro", pesquisadores resgatam essa observação de Liais e descrevem detalhadamente seus relatos.
Durante cerca de 40 minutos, Liais testemunhou uma exibição celestial digna de nota: raios de luz branca movendo-se de oeste para leste, adquirindo tons avermelhados na parte inferior e esverdeados na superior. Esta rara ocorrência, agora reconhecida como um possível caso de aurora esporádica, expande nosso entendimento sobre os fenômenos solares e suas interações com o planeta Terra.
A observação de Liais, realizada no Morro do Castelo, onde o Observatório Imperial estava sediado na época, representa o primeiro registro esporádico de uma aurora na América do Sul e o segundo no hemisfério sul. Sua credibilidade científica e a precisão de suas descrições adicionam uma importante contribuição ao estudo das auroras e à história da astronomia brasileira.
O cientista francês Emmanuel Liais foi nomeado para a direção do Observatório em 1871, permanecendo em sua direção por dois períodos de gestão, de janeiro a julho de 1871 e de 1874 a 1881.
Relato da observação em jornal local na época