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Pesquisadores do ON fornecem posições precisas dos 5 maiores satélites de Urano
O Observatório do Pico dos Dias, sítio astronômico localizado em Minas Gerais e administrado pelo Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), possui um tesouro com décadas de observações de corpos do Sistema Solar. Entre essas observações, estão milhares que contêm imagens do sistema de Urano.
A partir delas, e tendo em conta observações de 1982 a 2011, pesquisadores do Observatório Nacional (ON), unidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), e de outras instituições, realizaram um estudo no qual apresentam a astrometria dos cinco maiores satélites de Urano: Miranda, Ariel, Umbriel, Titânia e Oberon.
A astrometria é a parte da Astronomia dedicada à determinação das posições dos astros bem como das variações dessas posições como função do tempo. As posições determinadas pelos pesquisadores ajudam, principalmente, a melhorar os modelos dinâmicos dos maiores satélites de Urano bem como a órbita do gigante gelado.
No estudo em questão, os pesquisadores do ON, Dr. Julio Camargo, Dr. Carlos Henrique Veiga e Dr. Roberto Vieira Martins, e seus colegas, fizeram uma reanálise de medidas e imagens utilizadas em publicações anteriores.
No trabalho foi utilizada a coronagrafia digital, que é uma técnica que consiste em computar o perfil de luz de um objeto brilhante dentro de uma dada área. Esse perfil é então descontado da imagem original, de forma a atenuar consideravelmente o efeito da luz difusa do objeto brilhante (Urano) sobre objetos próximos e mais tênues. Na imagem abaixo, são mostradas duas imagens dos principais satélites de Urano obtidas em julho de 1992, no Observatório Pico dos Dias . A imagem da esquerda é a imagem original e a da direita é a obtida após a aplicação da coronagrafia digital, utilizada para atenuar o efeito da luz espalhada oriunda de Urano (corpo central brilhante na imagem da esquerda).
As estrelas de referência do estudo são aquelas do Gaia Early Data Release 3 (Gaia EDR3) que permitem, além de uma maior precisão na determinação das posições dos satélites, a obtenção de tais posições a partir de um número maior de imagens em relação aos trabalhos anteriores.
Imagens dos principais satélites de Urano obtidas em julho de 1992, no Observatório Pico dos Dias. Esquerda : imagem original. Direita: imagem após a aplicação da técnica de coronagrafia digital .
“Fornecemos um conjunto bastante preciso, entre 40 e 50 mas (milissegundos de arco), de posições dos principais satélites de Urano espalhadas por quase três décadas de observações”, destacou o pesquisador principal do artigo, o Dr. Julio Camargo. “Este conjunto de dados representa a história observacional de nossa equipe de 1982 a 2011 associada à astrometria dos satélites principais de Urano.”
Os pesquisadores ainda apontaram desvios entre as posições observadas dos satélites e aquelas determinadas com auxílio de efemérides planetárias de uso frequente pela comunidade astronômica. Os diferentes satélites apresentaram desvios similares, indicando que o trabalho realizado pode contribuir para melhorar o conhecimento da órbita de Urano.
O trabalho resultou no artigo intitulado “ The five largest satellites of Uranus: astrometric observations spread over 29 years at the Pico dos Dias Observatory ” aceito para publicação na revista Planetary and Space Science em dezembro de 2021. Além de pesquisadores do ON, o estudo contou com a colaboração de pesquisadores do Observatoire de la Côte d’Azur, Valbonne (França), e do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.