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ON reforça compromisso com igualdade de gênero no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência
No dia 11 de fevereiro é celebrado o “Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência”, instituído em 2015 pela Assembleia das Nações Unidas. A criação da data visa fortalecer o compromisso global com a igualdade de direitos entre homens e mulheres e dar mais visibilidade à pauta, visto que ainda são necessários esforços para a participação igualitária das mulheres nas ciências.
De acordo com dados da ONU e da UNESCO, as mulheres representam menos de 30% dos pesquisadores no mundo todo. No Brasil, elas representam 54% das pessoas que fazem doutorado e publicam 70% dos artigos científicos do país – embora recebam apenas 24% das bolsas de produtividade.
Esses dados mostram que, embora tenha havido avanços, ainda persistem as barreiras e a baixa representatividade de mulheres e meninas, sobretudo em áreas como ciências, tecnologia, engenharia e matemáticas.
A igualdade de gênero é fundamental para o alcance das metas de desenvolvimento acordadas internacionalmente, incluindo a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5: “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”.
A inserção de meninas e mulheres na ciência é um compromisso global, que engloba as instituições públicas. Portanto, o ON também busca avançar em direção à igualdade entre homens e mulheres nas ciências, promovendo diversas ações e programas nesse sentido.
De acordo com a Divisão de Pós Graduação do ON, na Astronomia, já foram formadas 51 mestras (1981 a 2022) e 34 doutoras (1983 a 2022). Já na Geofísica, foram 31 mestras (1992 a 2020) e 08 doutoras (1998 a 2021) – totalizando 124 mulheres tituladas!
Já com relação aos projetos para engajar meninas e mulheres na ciência, o ON promove, em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), o projeto “Meninas no MAST”, que tem como objetivo trabalhar em conjunto com escolas públicas do bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, no empoderamento de meninas do Ensino Fundamental e Médio, incentivando-as a seguir carreiras científicas e tecnológicas por meio de temas de astronomia e ciências afins.
Outro projeto que faz parte do esforço da comunidade científica para incentivar a participação feminina na ciência é o “Garotas do ON”. Criada pelo Observatório em 2019, como parte das celebrações dos 100 anos da União Astronômica Internacional, a iniciativa é desenvolvida ao longo de todo o ano, com palestras periódicas em escolas públicas.
O ON também promove o Projeto "Mulheres e Meninas na Ciência”, em parceria com a Coordenação Nacional de Divulgação da Astronomia (NOC, na sigla em inglês). A ação visa dar visibilidade ao papel e às contribuições fundamentais das mulheres nas áreas de pesquisa científica e tecnológica.
Em celebração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, conversamos com algumas pesquisadoras do ON. Elas compartilharam os desafios da carreira científica para as mulheres, contaram o que (ou quem) as inspirou a seguir essa carreira e deixaram conselhos para meninas e mulheres que desejam ser cientistas.
Da Coordenação de Astronomia (COAST/ON), ouvimos a Dra. Josina Nascimento e Dra. Simone Daflon. Da Coordenação de Geofísica (COGEO), a Dra. Katia Pinheiro e a Dra. Suze Guimarães e da Divisão de Serviços da Hora Legal Brasileira (DISHO/ON) a MSc. Hamilce Simas Iozzi Codá Santos.
O que/quem te inspirou a seguir a carreira científica?
Dra. Josina Nascimento: “Eu venho de uma família muito pobre. Meu pai era analfabeto e trabalhador braçal, minha mãe era empregada doméstica desde criancinha e, apesar de muito sábia, só cursou as duas séries iniciais do ensino fundamental. Há mais de 46 anos, não havia incentivo para seguir uma carreira científica. Mas, minha mãe nos ensinou que querer é poder e eu e meus irmãos estudávamos muito além do que nossas humildes escolas ensinavam. Nossa mãe também nos levava para visitar museus e bibliotecas e nos motivava a ler bons livros, enciclopédias e bons jornais. Na época, sem políticas públicas, ingressar em uma universidade federal era para quem tinha estudado em boas escolas e/ou tinha feito cursinho. Mas, com a motivação da minha mãe, eu passei para a UFRJ de primeira, sem nunca ter feito cursinho. Então, minha mãe, D. Dalva, foi a grande motivadora para mim. Ela foi uma science influencer espetacular!”
Dra. Katia Pinheiro: “Desde criança eu tinha uma grande curiosidade sobre ciência. Eu fazia muitas perguntas para meu avô e para meu pai, que me incentivaram muito a seguir a carreira científica.”
Dra. Simone Daflon: “Eu sempre me interessei por ciências em geral. Quando eu tinha uns 10 anos, a TV apresentava a série Cosmos, com o astrofísico e divulgador científico Carl Sagan, e eu acompanhava super interessada. Logo em seguida, ganhei uma pequena luneta do meu pai e comecei a observar a Lua e alguns planetas e aglomerados estelares, usando uma carta celeste. Isso foi aumentando meu interesse cada vez mais. Quando terminei o ensino médio, eu optei por fazer astronomia na UFRJ.”
Dra. Suze Guimarães: “O que me moveu para a carreira científica foi a curiosidade de desvendar a natureza e os fenômenos naturais. E a minha mãe, que também tinha apreço por esses fenômenos, me ensinou a buscar as respostas. No início da minha carreira, eu tive uma inspiração muito grande de uma professora do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás chamada Célia Dantas. Ela trabalhava no Departamento de Física , um meio muito masculino. Célia era a única professora do Instituto na época que eu estudava lá. Então, ela me inspirou muito a buscar o meu lugar dentro da Ciência.”
MSc. Hamilce Santos: “Sou engenheira civil de formação acadêmica. Eu iniciei a carreira cursando um curso técnico de Edificações, depois cursei Engenharia Civil e mestrado. O que me motivou nesta carreira foi a diversidade de áreas em que uma engenheira pode seguir, desenvolvendo várias habilidades, vislumbrando uma colocação profissional.”
Quais são os principais desafios dessa carreira?
Dra. Josina Nascimento: “Para mim o principal desafio é ser cientista e ao mesmo tempo ser mãe, avó, esposa, dona de casa, filha, irmã e tia. O nosso trabalho não tem hora para começar e muito menos para terminar. O tempo, ah o tempo… O tempo é sempre muito curto para tudo que precisa ser feito. Esse é o desafio que eu enfrento todos os dias.”
Dra. Simone Daflon: “Como em qualquer carreira profissional, é importante conseguir conciliar carreira com vida pessoal. No caso das mulheres, pode ser ainda mais complexo quando tem maternidade envolvida. A astronomia é uma carreira que demanda uma dedicação bem grande durante o curso de graduação e depois no desenvolvimento das pesquisas. Quem gosta do que faz, acaba se empolgando e dedicando muito mais tempo ao trabalho. Isso pode ser bom, mas tem que ter um equilíbrio. Encontrar o equilíbrio não é fácil.”
Dra. Katia Pinheiro: “Para quem gosta de desafios, essa é a profissão certa!. São muitos os desafios, como a produção de pesquisas científicas, a busca de financiamento para realizá-las, a orientação de alunos, desenvolvimento de colaborações, trabalhos de campo, administração de projetos, divulgação científica, dentre muitos outros. É importante mencionar que as mulheres têm um desafio a mais, que é a luta constante para reafirmar o nosso papel na ciência, vencendo preconceitos e lutando pela igualdade de direitos dentro da comunidade científica.”
Dra. Suze Guimarães: “Esses desafios são os mesmos desafios enfrentados pelas mulheres em busca do seu lugar dentro da sua profissão. Mas na área das exatas, que é a minha área, ainda é um ambiente muito masculino. Hoje em dia, com organizações debatendo pautas femininas dentro do nosso ambiente, isso tem melhorado bastante. Então, o principal desafio é superar adversidades e conseguir conciliar a vida pessoal e profissional. Muitas vezes, as mulheres têm dupla ou tripla jornada e o profissional acaba em segundo plano.”
MSc. Hamilce Santos: “Os desafios em qualquer área do conhecimento para mim são a determinação e dedicação. Muitas vezes temos que conciliar trabalho secular, família; abrir mão muitas vezes de lazer e descanso. Na época de minha formação não haviam tantos recursos tecnológicos, e tínhamos que fazer fila em bibliotecas para reservar livros didáticos. Também havia uma certa dificuldade de competição na carreira, onde os homens eram a maioria. Mas tudo foi superado. Trabalhei em excelentes empresas e hoje sou servidora do ON, com muito orgulho.”
Um conselho para meninas e mulheres que desejam ser cientistas.
Dra. Josina Nascimento: “O conselho é se deixar encantar pela natureza, arranjar tempo para olhar para a natureza e se perguntar o porquê das coisas, mesmo que não tenha uma pessoa por perto para responder, mesmo que as pessoas respondam de forma negativa, vá em frente! Continue se perguntando, imaginando como seria se algo fosse um pouquinho diferente. Procure ler sobre as histórias das cientistas e se inspirar nelas e, também, tente se aproximar dos projetos voltados para meninas e mulheres na ciência.”
Dra. Simone Daflon: “Precisamos repetir sempre que o lugar da mulher é onde ela quiser. Então, se uma menina ou mulher se interessa por ciências, em especial astronomia, deve se preparar academicamente e traçar estratégias para atingir seus objetivos, sem se deixar intimidar por algum comentário ou ação contrária.”
Dra. Katia Pinheiro: “Se você quer ser cientista, é fundamental ser persistente. Meu conselho é nunca desistir, superar as dificuldades e buscar o seu sonho até conquistá-lo.”
Dra. Suze Guimarães: “O que eu costumo dizer nas aulas e palestras que eu dou para mulheres é que você pode ser o que você quiser. Se você tem essa curiosidade de compreender os fenômenos naturais, procure seus professores que eles lhe darão o direcionamento do caminho a seguir. Mas nunca deixe de perguntar e questionar. A curiosidade é o que move a ciência. E para as mulheres eu repito: você pode trabalhar com o que você quiser, ser astrônoma, geofísica, astronauta … O que você desejar!”
MSc. Hamilce Santos: “Sigam sempre o seu ideal, dediquem-se para serem excelentes no que fazem ou irão fazer. Interajam com colegas e/ou equipes, cooperando com o seu melhor e visando um objetivo comum. Desejo sucesso para vocês!”