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ON investiga terremotos antigos na região do Pré-Sal com ‘veículo subaquático autônomo’
Pesquisadores da área de geofísica do Observatório Nacional (ON/MCTI) estão investigando terremotos antigos por meio de um veículo subaquático autônomo, ou “glider”. O objetivo da pesquisa é compreender melhor os processos geológicos da paisagem acústica submarina da região de exploração do Pré-Sal.
Conforme explica o sismólogo e pós-doc do ON, Dr. Diogo Coelho, envolvido no estudo, o ON está executando o Projeto Piloto chamado “Avaliação do Uso de Gliders para Extração de Sismos”, liderado pelo pesquisador do ON, Dr. Sergio Fontes. A pesquisa está buscando registros de terremotos entre 2015 e 2019 do Projeto de Monitoramento da Paisagem Acústica Submarina da Bacia de Santos (PMPAS-BS).
Esse projeto foi concebido a partir de uma demanda do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) à PETROBRAS no âmbito do processo de licenciamento ambiental federal dos sistemas de produção do Pré-Sal da Bacia de Santos.
“O PMPAS-BS visa a caracterização da paisagem acústica submarina e o monitoramento do nível de ruído submarino avaliando se as atividades de produção na região estão impactando a biota marinha”, diz Diogo.
Paisagem acústica submarina
A paisagem acústica submarina é formada por processos geológicos (geofonia), representados por ondas, chuvas, tempestades, eventos sísmicos e sons de origem biológica (biofonia), gerados por diversos organismos marinhos.
Somado a isso, o aumento da exploração de recursos marinhos iniciou a produção de ruídos acústicos gerados por atividades antropogênicas (antropofonia), como pesca, navegação, exploração de petróleo, etc.
Segundo Diogo, o estudo da paisagem acústica marinha fornece informações importantes sobre a qualidade do meio, se é um ambiente saudável ou em deterioração, principalmente analisando o impacto do ruído sonoro em função do tempo no ambiente submarino.
O foco do estudo são as regiões Sul e Sudeste da plataforma continental brasileira. Isso porque essa região costeira conta com extensa atividade de exploração de hidrocarbonetos que vem sendo desenvolvida por diversas operadoras, dentre elas a Petrobras, com foco nas bacias de Campos e Santos.
Sismicidade na região Sul e Sudeste
A sismicidade na região Sul e Sudeste da plataforma continental brasileira conta com registros de terremotos históricos e recentes, com magnitudes variando entre 2 (dois) e 6 (seis). Dentre os sismos importantes, podemos destacar o terremoto de Vitória/ES de 1955 (6,1 mb), de Ubatuba/SP de 1967 (4,1 mb), de São Vicente/SP ocorrido no ano de 2008 (5,2 mb) e o terremoto na plataforma continental de São Paulo no dia 25/03/2020, com magnitude 4,2 mb.
Neste estudo, os pesquisadores estão utilizando “gliders” com sensores hidroacústicos acoplados:
“Sensores hidroacústicos demonstraram a capacidade de detecção de registros de terremotos locais e regionais. Estes sensores, quando acoplados a veículos submersíveis de navegação autônoma, os gliders, mostram-se como uma alternativa de custo mais atraente para o monitoramento contínuo em tempo quase real da zona costeira”, explica o sismólogo.
Os gliders permitem medições acústicas com veículos deslocando-se no plano horizontal em toda a região de estudo e no plano vertical até 1000 m de profundidade. Estes equipamentos são controlados remotamente por satélite quando retornam à superfície do oceano, sendo capazes de mergulhar a profundidades de até 1.000 metros e de seguir rotas programadas pelo usuário.
Neste caso, os gliders possuem trajetórias mais controladas e foram programados para permanecerem próximos das plataformas de produção da região Pré-Sal da Bacia de Santos e para realizarem outras missões dentro da área Geográfica da Bacia de Santos (AGBS). Além de dados hidroacústicos, os gliders também coletam de forma contínua dados oceanográficos de temperatura, condutividade e profundidade.
“Com esses dados em mãos, o nosso experimento piloto visa analisar os dados hidroacústicos já existentes (período entre 2015 e 2019) do PMPAS-BS para buscar registros de terremotos locais, regionais e globais e desenvolver procedimentos, estudos teóricos e adaptação de ferramentas de Sismologia Marinha para sensores hidroacústicos acoplados a gliders submarinos”, pontua Diogo.
O projeto fará a curadoria e análise de aproximadamente 50 campanhas de aquisição de dados que geraram por volta de 9.000 horas de dados acústicos.
As primeiras análises exploratórias dos dados mostraram resultados promissores que fornecem elementos para a continuação do estudo, onde grandes terremotos globais foram registrados pelos gliders, assim como terremotos locais de magnitudes elevadas, eventos sísmicos com magnitude maior que 3.
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Nesta quarta-feira (26), às 7h10, o Diogo fala sobre essa pesquisa no Ciência no Rádio, parceria do ON com a Rádio MEC. Saiba mais.