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O que são os fenômenos aéreos não identificados (UAPs)?
Luzes misteriosas que foram vistas por pilotos de aviões e por moradores no céu do Sul do Brasil nas últimas semanas será o tema da próxima edição do "Ciência no Rádio", um dos quadros do programa "Rádio Sociedade", que vai ao ar todas às quartas-feiras às 7h10min da manhã (Hora Legal de Brasília).
As imagens dos referidos avistamentos, conhecidos como fenômenos aéreos não identificados (UAPs, na sigla em inglês) viralizaram na internet e deixaram os observadores intrigados. Mas o que podem ter sido essas luzes? Elas podem ser classificadas como fenômenos aéreos não identificados?
Para falar um pouco mais sobre esse fenômeno, foi convidado o astrônomo Marcelo de Cicco. Ele é coordenador do projeto de monitoramento de meteoros Exoss, ligado ao Observatório Nacional. Marcelo possui graduação em Astronomia pelo Observatório do Valongo/UFRJ e mestrado e doutorado em Astronomia pelo ON. Atualmente é pesquisador da Diretoria de Metrologia Científica do INMETRO.
Fenômenos aéreos não identificados (UAPs)
Conforme explica Marcelo, os fenômenos aéreos não identificados (UAPs) não se referem a objetos ou luzes de origem extraterrestre. Só significa algo no céu que, no momento, não tem explicação. Pode ser um objeto ou uma luz. Em geral, essas aparições podem ser fenômenos naturais, como planetas, reflexos, nuvens e outras ocorrências atmosféricas, objetos ou luzes gerados pelo homem, como drones, balões e lasers, ou então, em último caso, permanecem sem explicação.
“Nestes casos, em participar, nós do Exoss acreditamos se tratar de um conjunto de fatores que vêm ocorrendo nas noites, podendo ser uma mistura de vários eventos naturais e do homem”, explica Marcelo.
Segundo o astrônomo, as imagens registradas por câmeras mostraram diversas luzes pontuais, e por vezes com um leve rastro que leva a crer que ali podem também ocorrer a passagem de algum tipo de drone e drones soltando fogos de artifício, além de outros efeitos artificiais.
Os registros de celulares a bordo do avião também mostram luzes paradas, aparentemente, o que pode ser devido a efeitos de movimentos relativos e paralaxe (deslocamento aparente de um objeto quando se muda o ponto de observação).
Os registros de câmeras de alta definição mostram características bem altas de rastro de meteoros ou algum satélite. Vale salientar que os militares da FAB iniciaram treinamentos aéreos na região do Sul do Brasil, nas redondezas desses avistamentos. O que chama atenção, porém, é que nenhuma dessas luzes foram registradas em radar. Isso fortalece a hipótese de fenômeno natural, ou de alvos que estejam longe do alcance dos radares.
Também não se descarta a hipótese de as luzes terem alguma relação com os satélites da Starlink. Isso porque as condições astronômicas dos dias em que as luzes foram vistas podem embasar a teoria de alguns flares de Starlink na região observada.
“Mas não acredito que todas as luzes vistas sejam de satélites Starlink. Fizemos uma análise inicial, com base no dia 9 e 10 de novembro, utilizando a base de dados do NORAD, com o total de quase 3300 satélites do Starlink. Concluímos que cerca de 2690 satélites estavam passando nos céus de Porto Alegre. Calculamos então o número de satélites em altura de visibilidade ideal de objetos espaciais e chegamos a 714 satélites. Vale salientar que muitos desses satélites podem ser contados de forma repetida pois eles têm um período orbital de cerca de 90 minutos”, diz Marcelo.
Com base nisso e em cálculos complementares, a equipe do Exoss concluiu que existe a possibilidade desses flares estarem ocorrendo por conta de alguns Starlinks em altas latitudes. Ainda assim, isso não explica a totalidade de casos ali ocorridos, que são um conjunto de efeitos naturais e do homem: meteoros, drones, treinamento militar na região e o novo efeito de flares de Starlinks.
“Caso sejam de fato flares de Starlink, deveremos ver esses fenômenos se repetirem até o final do ano, e paulatinamente diminuírem até a chegada do inverno”, explica Marcelo.
Vale destacar que recentemente a NASA selecionou 16 pessoas para participar de sua equipe de estudo independente sobre os UAPs. Ao longo de nove meses, a equipe estabelecerá as bases para estudos futuros sobre a natureza dos UAPs. Para isso, a equipe identificará como os dados coletados por entidades governamentais civis, dados comerciais e dados de outras fontes podem ser potencialmente analisados para esclarecer os UAPs. Em seguida, a equipe recomendará um roteiro para uma possível análise de dados de UAPs pela agência daqui para frente. Um relatório completo contendo as descobertas da equipe será divulgado ao público em meados de 2023.
Sobre o Programa Ciência no Rádio
O programa Ciência no Rádio é resultado de uma parceria do Observatório Nacional (ON) com a Rádio MEC, criada em 2015 para levar ao público informações científicas ligadas às três áreas de atuação do ON: astronomia e astrofísica, geofísica, metrologia em tempo e frequência. São mais de 300 programas ao longo desses anos! E todos estão disponíveis em nosso site Clique aqui para ouvir.
Em maio de 2021, o "Ciência no Rádio" passou a ser transmitido também por outras frequências, alcançando São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Brasília, além do Rio de Janeiro. Além disso, passou a ser disponibilizado um contato de WhatsApp para que o ouvinte possa interagir com sugestões de temas para o programa: (21) 99710-0537.
Não perca! Na 4ª feira, dia 23 de novembro, às 7h10min!
Programa Rádio Sociedade, quadro Ciência no Rádio, Rádio MEC AM.