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O papel do Observatório Nacional em 200 anos do Brasil Independente
A história do Observatório Nacional se confunde com a própria história do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. A instituição fundada em 1827, apenas cinco anos após a independência do Brasil, desempenhou um papel essencial no estabelecimento das bases da Astronomia, da Geofísica e da Metrologia em Tempo e Frequência no Brasil, nucleando os pioneiros grupos de pesquisa e os serviços fundamentais nessas áreas.
Lançamento da Pedra Fundamental Observatório Nacional
Os observatórios são instituições de caráter originário na história das sociedades. Os observatórios nacionais são espelhos das preocupações dos governos de suas épocas em institucionalizar o conhecimento do mundo natural. Essas instituições sempre ocuparam a posição de principais centros científicos e refletiram o interesse da nação em demonstrar uma posição de prestígio através do cultivo de um ideal superior de cultura.
Os observatórios nacionais estão entre as primeiras instituições criadas em países colonizados no novo mundo, expressando objetivos comuns de dedicação à ciência e atendimento a serviços fundamentais de determinação da hora, de posições geográficas e do clima.
Sede do Observatório Nacional em São Cristóvão (RJ) até 1985
No tempo da criação do Observatório Nacional, juntava-se aos objetivos citados anteriormente uma necessidade urgente: o ensino do uso de instrumentos astronômicos e geodésicos para a Escola Militar, que precisava treinar seus alunos no que diz respeito à determinação do lugar, ou seja, da latitude e da longitude.
Também era necessária a prática das observações astronômicas aplicáveis à geodésia, tendo em vista a determinação dos limites do território nacional. Além disso, os alunos da Academia da Marinha precisavam praticar as observações astronômicas necessárias à navegação.
Desde sua criação, o Observatório Nacional do Brasil mudou de nome e de lugar. Até 1889 tinha o nome de Imperial Observatório do Rio de Janeiro e ficava no Morro do Castelo.
Até 1889 o Observatório Nacional era ‘Observatório do Rio de Janeiro’ e ficava no Morro do Castelo
O porto do Rio de Janeiro era frequentado por inúmeras embarcações e os capitães precisavam conhecer a declinação magnética, a hora e a longitude. Na verdade, a localização e as atribuições ficaram a cargo de uma comissão que demorou um pouco a tomar decisões.
Em 1922 o Observatório Nacional tem sua sede principal no Rio de Janeiro, no Bairro Imperial de São Cristóvão. A instituição passa a contar com um observatório no Sertão de Itaparica – no município de Itacuruba no estado de Pernambuco – e dois observatórios magnéticos: um em Tatuoca, na região amazônica, e o centenário Observatório Magnético de Vassouras, no município de Vassouras, Rio de Janeiro. Somente em 1846 saiu o decreto que estabeleceu como deveria funcionar o Observatório.
Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI)
Observatório Magnético de Tatuoca (PA)
Observatório Magnético de Vassouras (RJ)
Como exemplo de serviços relevantes para o país ao longo de sua história, podemos citar as expedições para a escolha do local onde seria construída a nova Capital (1892 e 1894) e para a demarcação da fronteira do Brasil com a Bolívia (1901).
Outro exemplo foi a criação em 1909, por decreto governamental, da Diretoria de Meteorologia, que ficou subordinada ao ON até 1921 e foi responsável pela implantação da rede de estações meteorológicas no país.
O ON também foi fundamental para a confirmação da Teoria da Relatividade Geral, que o físico Albert Einstein havia publicado em 1915, através da observação do eclipse total do sol em Sobral, Ceará, em 1919. O Brasil foi protagonista deste importante feito: as fotografias registradas em Sobral confirmaram o valor previsto na Teoria da Relatividade Geral sobre a deflexão da luz. Foram feitas três expedições para a cidade, organizadas pelo então diretor do Observatório Nacional, o astrônomo Henrique Morize.
Visita de Albert Einstein ao Campus do ON em São Januário em 1925
As transformações mais importantes que concorreram para a moderna inserção do ON no cenário da pesquisa científica ocorreram a partir da década de 1950, com o crescimento da comunidade científica e a criação da pós-graduação no Brasil. No ON, os cursos de pós-graduação em Astronomia e Geofísica foram criados em 1973 e 1982 e atualmente possuem conceito CAPES 6 e 5, respectivamente.
Na área de Astronomia, o antigo sonho do ON de implantar um moderno observatório astrofísico na montanha foi realizado com a aquisição, na década de 1970, do telescópio refletor de 1,60 metros. Instalado em Brasópolis, Minas Gerais, o Observatório Astrofísico Brasileiro, como foi chamado, foi desmembrado do ON em 1985, dando origem ao atual Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA).
No mesmo ano de 1985 é fundado o Museu de Astronomia e Ciências Afins, o MAST, herdando todo o acervo histórico do ON.
Hoje, o Observatório Nacional tem por Missão “realizar pesquisa, desenvolvimento e inovação em Astronomia, Geofísica e Metrologia em Tempo e Frequência”. Além disso, forma pesquisadores em seus cursos de pós-graduação, capacita profissionais, coordena projetos e atividades nestas áreas e gera, mantém e dissemina a Hora Legal Brasileira.
Astronomia
Os desenvolvimentos do ON na Astronomia se tornaram mais intensos com o aumento das parcerias institucionais, formalizadas a nível internacional, e também a partir da maior colaboração entre pesquisadores de diferentes grupos de pesquisa.
Ainda na década de 1980, em cooperação com o Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics , pesquisadores do ON produziram o Southern Sky Redshifft Survey (SSRS), o primeiro mapeamento extenso de galáxias no hemisfério sul, além do superaglomerado local.
Luneta Equatorial 46 do ON e sua cúpula
Nos fins de 1990, o convênio com o European Southern Observatory (ESO), para tempo de observação em telescópios, fortaleceu os projetos em curso e ampliou os grupos de pesquisa do ON.
Geofísica
Na área de Geofísica, o pioneirismo do ON nos levantamentos geofísicos do território nacional consolidou-se com a implantação de redes de referência. A Rede Magnética Brasileira teve origem em 1915, com a criação do Observatório Magnético de Vassouras (RJ). Em 1957, o ON colocou em operação o Observatório Magnético de Tatuoca, situado numa ilha no Rio Amazonas, próxima a Belém, na região do equador magnético.
A Rede Gravimétrica Fundamental Brasileira (RGFB) foi criada em 1978, apoiando empresas, laboratórios metrológicos e instituições científicas com um conjunto crescente de estações gravimétricas de alta precisão. Atualmente, são 525 estações gravimétricas distribuídas por todo o país compondo a RGFB.
Mapa atual da RGFB
O Observatório Nacional é também uma instituição pioneira na realização de medidas sismológicas no país, iniciadas na década de 1890. A instituição conserva desde 1915 a estação sismográfica de código internacional RDJ no campus do ON no Rio de Janeiro. Em 2008, com o auxílio da Petrobras, o ON iniciou a implantação de uma Rede Sismográfica abrangendo o Sul e o Sudeste Brasileiro – RSIS.
Estação sismográfica de Trindade (RJ)
Assim, na área de Geofísica, o ON coordena as redes Sismográfica, Gravimétrica e Geomagnética, cujos dados são essenciais à indústria da mineração e de petróleo e gás.
Metrologia em Tempo e Frequência
Outra área fundamental do ON, hoje denominada Metrologia em Tempo e Frequência, teve sua origem no tradicional Serviço da Hora, responsável desde 1913 pela geração, conservação e disseminação da Hora Legal Brasileira, uma atividade intrínseca dos observatórios nacionais. Este serviço vem sendo cumprido com regularidade por toda a existência da instituição, incorporando os desenvolvimentos tecnológicos da área.
Pêndulas utilizadas para medir intervalos de tempo e distribuir sinais horários.
A partir da instalação de padrões atômicos, o ON qualificou sua participação nas redes internacionais de tempo e frequência e recebeu do INMETRO, em 1983, o credenciamento como Laboratório Primário de Tempo e Frequência, credenciamento este renovado em 2019. Nos últimos anos, a cooperação internacional foi buscada para capacitação de pessoal, interação técnico-científica e inserção em redes de rastreabilidade.
Sala da Divisão de Serviços da Hora Legal Brasileira (DISHO/ON)
Também constantes têm sido as ações nas áreas de qualidade e certificação, buscando ampliar e melhorar os serviços prestados à sociedade. Atualmente a Rede de Sincronismo à Hora Legal Brasileira e a Rede de Carimbo de Tempo Certificado a Hora legal Brasileira contam com a parceria de diversas empresas usuárias e prestadoras de serviços.
Campus atual do ON em São Cristóvão
No dia 15 de outubro, o Observatório Nacional completou 195 de história! Clique aqui e saiba mais sobre a trajetória de uma das instituições científicas mais antigas do país.
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FONTES:
Observatório Nacional 185 anos ( acesse aqui o livro digital )
História do Observatório Nacional: a persistente construção de uma identidade científica ( acesse aqui o livro digital )
O Eclipse de 1919 ( acesse aqui o livro digital )