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Missão DART é concluída com sucesso; astrônomo do ON/MCTI explica os próximos passos
Foi concluído com sucesso o primeiro teste de defesa planetária em escala real da história conduzido pela NASA. Na noite da última segunda-feira (26/09), exatamente às 20h14 (horário de Brasília), a espaçonave do Double Asteroid Redirection Test – DART (Teste de Redirecionamento de Asteroides Duplos, em português) colidiu de forma planejada com o satélite Dimorphos, que orbita o asteroide Didymos.
“Em sua essência, o DART representa um sucesso sem precedentes para a defesa planetária, mas também é uma missão de unidade com um benefício real para toda a humanidade”, disse o administrador da NASA, Bill Nelson. “Enquanto a NASA estuda o cosmos e nosso planeta, também estamos trabalhando para proteger esse lar, e essa colaboração internacional transformou a ficção científica em fato científico, demonstrando uma maneira de proteger a Terra.”
A lua do asteroide Dimorphos vista pela espaçonave DART 11 segundos antes do impacto. Créditos: NASA/Johns Hopkins APL
O objetivo da Missão DART é testar a técnica de impacto cinético para mudar a velocidade do objeto impactado. A DART colidiu com o satélite a cerca de 22.500 km/h e a NASA transmitiu o teste em tempo real para todo o planeta. ( veja aqui )
O alvo do DART foi o sistema binário de asteroides próximos da Terra composto por Didymos, que possui um diâmetro de aproximadamente 780 metros, e pelo seu satélite Dimorphos, que orbita Didymos e tem um diâmetro aproximado de 160 metros. O tamanho desse satélite é similar ao da maioria dos asteroides que representam risco para a Terra.
Asteroide Didymos (canto superior esquerdo) e sua lua, Dimorphos, cerca de 2,5 minutos antes do impacto da espaçonave DART da NASA. Créditos: NASA/Johns Hopkins APL
Conforme destacou o astrônomo e pós-doc do Observatório Nacional (ON/MCTI), Dr. Filipe Monteiro, esse teste espera mostrar que a técnica de impacto cinético é uma forma viável que poderia ser usada um dia para desviar um asteroide em rota de colisão com a Terra, caso algum seja descoberto.
“Até o momento, não existe nenhum asteroide conhecido que ofereça um perigo de colisão com o nosso planeta nos próximos 100 anos. Perceba, eu disse nenhum asteroide conhecido! Muitos asteroides ainda estão por aí para serem descobertos. A missão DART é realmente uma grande conquista da humanidade, para que nós possamos reduzir as chances de seguirmos o mesmo destino dos dinossauros”, enfatizou Monteiro.
Lançada no final do ano passado, a Missão DART é um teste fundamental que a NASA e outras agências espaciais americanas e internacionais estão realizando antes que qualquer necessidade real esteja presente, preparando melhor as nossas defesas caso descubramos um asteroide em rota de colisão com a Terra.
A última imagem completa da lua do asteroide Dimorphos a cerca de 12 quilômetros do asteroide e 2 segundos antes do impacto. A imagem mostra um pedaço do asteroide com 31 metros de diâmetro. Créditos: NASA/Johns Hopkins APL
A partir desse teste, uma equipe global de cientistas vai usar dezenas de telescópios ao redor do mundo e no espaço para observar o sistema de asteroides localizado a 11 milhões de quilômetros da Terra. Nas próximas semanas, eles irão caracterizar o material ejetado e medir com precisão a mudança orbital de Dimorphos para determinar a eficácia com que o DART desviou o asteroide.
Segundo Filipe, os resultados ajudarão a validar e melhorar os modelos computacionais científicos para prever a eficácia desta técnica como um método confiável para a deflexão de asteroides.
“ Após o impacto, espera-se que a velocidade orbital de Dimorphos diminua ligeiramente, reduzindo assim o período orbital do satélite em torno de Didymos. Outra consequência é que como a velocidade do objeto vai diminuir, a órbita do satélite também será reduzida. Assim, Dimorphos, depois de um tempo, vai ficar mais próximo de Didymos. O impacto do DART de cerca de 500 kg a mais de 22 mil km/h deve produzir uma mudança de velocidade estimada na ordem de 0,4 milímetros por segundo, o que levará a uma pequena mudança na trajetória do sistema de asteroides. Ao longo de alguns anos, a mudança de trajetória cumulativa poderia ser suficiente para afastar o risco de um asteroide realmente perigoso atingir a Terra”, diz Filipe.
Para além do impacto cinético, Filipe destaca a possibilidade de essa missão permitir conhecer um pouco mais o nosso Sistema Solar.
‘’A missão também proporciona o melhor entendimento da história do nosso Sistema Solar. Cada vez que estudamos um asteroide de forma tão próxima estamos olhando um fóssil do sistema solar primitivo. Eles guardam informações da época em que os planetas como a Terra estavam se formando. Então, eles podem nos fornecer informações importantes sobre os primórdios do Sistema Solar, sobre a formação e a estrutura dos asteroides, além de como a água e outros elementos importantes para a vida chegaram até a Terra e permitiram o desenvolvimento da vida aqui, por exemplo’’, explica.
Em cerca de quatro anos, o projeto Hera da Agência Espacial Europeia realizará pesquisas detalhadas de Dimorphos e Didymos, com foco particular na cratera deixada pela colisão do DART e uma medição precisa da massa de Dimorphos.
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Com informações da NASA .