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Micronovas: Astrônomos descrevem novo tipo de explosão estelar
Um novo tipo de explosão estelar foi observado por uma equipe de astrônomos. Trata-se de uma micronova, explosão que acontece na superfície de algumas estrelas.
De acordo com os pesquisadores, a micronova é capaz de queimar em apenas algumas horas 20.000.000 trilhões de kg de material estelar composto basicamente de hidrogênio e hélio – ou o equivalente a cerca de 3,5 bilhões de Grandes Pirâmides de Gizé.
“Descobrimos e identificamos pela primeira vez o que estamos chamando de micronova”, explica Simone Scaringi, astrônomo na Universidade de Durham, Reino Unido, que liderou o estudo sobre estas explosões publicado no dia 20 de abril na revista Nature. “O fenômeno desafia o nosso entendimento de como é que as explosões termonucleares ocorrem nas estrelas. Pensávamos que já sabíamos isso, mas esta descoberta nos propõe um modo completamente novo disto acontecer”, acrescenta.
Concepção artística de uma micronova. Crédito: Mark Garlick
O cientista destaca também que as micronovas podem ser mais abundantes do que se pensava anteriormente. "Isso só mostra o quão dinâmico é o Universo. Esses eventos podem ser bastante comuns, mas, por serem tão rápidos, são difíceis de serem capturados em ação”.
Embora poderosas, as micronovas são pequenas em escalas astronômicas. São muito menos energéticas, por exemplo, que as explosões estelares conhecidas como novas. Tanto a nova quanto a micronova ocorrem em anãs brancas, estrelas “mortas” com uma massa comparável à do nosso Sol, mas tão pequenas como a Terra, o que significa que são corpos muito densos.
Num sistema de duas estrelas, uma anã branca pode "roubar" material, principalmente hidrogênio, de sua estrela companheira se estiverem suficientemente próximas. Quando isso acontece, o hidrogênio que cai na superfície quente da estrela se funde em hélio de forma bastante explosiva. No caso das novas, as explosões ocorrem em toda a superfície estelar, fazendo a anã branca brilhar intensamente por semanas.
Já no caso das micronovas, o processo ocorre em menor escala e é mais rápido, com uma duração de apenas algumas horas. Este tipo de explosão tende a ocorrer em anãs brancas com campos magnéticos fortes, em que o material é atraído pelos polos.
Os astrônomos fizeram a observação de três micronovas ao analisar dados do satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA. Duas das micro-explosões ocorreram em anãs brancas conhecidas e a terceira necessitou de mais observações com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), para se confirmar que se tratava também de uma anã branca.
Conforme destacou o Dr. Marcelo Borges Fernandes, astrônomo e pesquisador do Observatório Nacional (ON), os autores analisaram dados obtidos com o TESS e verificaram a presença dessas explosões nos três objetos. Então, propuseram um novo cenário para explicar a origem desse fenômeno:
“Essas explosões, ou ‘bursts’, chamadas de micronovas, não são um fenômeno exatamente novo. Na verdade, elas já vêm sendo observadas há cerca de quatro décadas em pelo menos um desses objetos, que é o TV Columbae. No entanto, neste novo estudo, os pesquisadores apresentam uma hipótese mais plausível para a origem dessas explosões”, explicou Marcelo.
Agora, a equipe quer fazer novas observações para desvendar com mais detalhes o que são essas misteriosas micronovas.
Acesse aqui a publicação “Localised thermonuclear bursts from accreting magnetic white dwarfs”.
Fonte: Nota de imprensa científica do ESO “Astrônomos descobrem micronovas, um novo tipo de explosão estelar” – Tradução para português: Dr. Eugênio Reis Neto (pesquisador colaborador do MCTI)