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Evento no Observatório Nacional Celebra os 110 Anos da Hora Legal Brasileira
No último dia 27 de novembro, o Observatório Nacional (ON/MCTI), em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), realizou um evento especial para comemorar os 110 anos da Hora Legal Brasileira (HLB), atribuição do ON desde 1913.
O encontro, que ocorreu no campus ON/MAST, contou com uma programação diversificada que envolveu participantes em mesas redondas, visitas mediadas e momentos de reflexão sobre o papel fundamental do Observatório na determinação e disseminação da hora no Brasil.
Evento de 110 Anos da Hora Legal Brasileira
A abertura do evento foi marcada pelos discursos do Dr. Jailson Alcaniz, diretor do ON, e do Dr. Ricardo José de Carvalho, gestor da Divisão do Serviço da Hora Legal do Brasil (DISHO/ON). Eles destacaram a importância histórica do evento e a relevância contínua da Hora Legal Brasileira na vida cotidiana.
“Celebramos os 110 anos do serviço da Hora Legal Brasileira, que é um serviço público, feito por mais de um século e com excelente qualidade. Então, não é trivial, não é qualquer serviço que pode ter esse tipo de celebração e não é qualquer instituição que pode desenvolver esse serviço. Na qualidade de diretor do ON, eu gostaria de manifestar publicamente meu apreço pelo trabalho que os profissionais da DISHO desenvolvem, mesmo com todos os desafios”, declarou Jailson.
Abertura do evento dos 110 anos da HLB
A primeira parte da programação contou com uma mesa redonda intitulada "As diversas noções de tempo" com participação de Jailson Alcaniz, Ricardo José de Carvalho, Rodrigo Turim (UNIRIO) e coordenação de Heloísa Meireles Gesteira, pesquisadora titular do MAST.
Mesa redonda intitulada "As diversas noções de tempo"
Na palestra “O que é o tempo?”, Jailson Alcaniz falou sobre o conceito de tempo na física, abordando a irreversibilidade dos processos físicos, a seta e a relatividade do tempo. O diretor do ON também falou sobre o trabalho da DISHO, que é a única instituição legalmente designada para gerar, conservar e disseminar a Hora Legal Brasileira (HLB).
Palestra “O que é o tempo?”
Rodrigo Turin, professor associado de Teoria da História da UNIRIO, falou sobre “Os tempos da História”, a mudança da concepção de tempo ao longo da história, analisando percepções do tempo como vivência, com noções de passado como memória e de futuro como expectativa, mediadas historicamente por agentes, valores e instituições socialmente constituídos. Trouxe ainda reflexões sobre a pluralidade de tempos na História, ao considerar a coexistência da diversidade de concepções na nossa realidade brasileira, considerando as cosmologias dos povos indígenas e quilombolas.
Rodrigo Turin fala sobre os tempo da história
O chefe da DISHO, Ricardo José de Carvalho, ministrou a palestra “Hora Legal Brasileira: passado, presente e futuro”. Em sua apresentação, Ricardo falou sobre as necessidades que demandaram a criação de um serviço da hora no Brasil e as legislações que atribuíram ao ON a responsabilidade pela Hora Legal Brasileira. Ricardo também falou sobre serviços mais recentes desenvolvidos pela DISHO como o serviço de sincronização certificada, a rede de carimbos do tempo certificado à HLB, a hora falada, a hora web, entre outros. Para o futuro, Ricardo destacou que haverá a redefinição do segundo em 2030 e a DISHO trabalhará com foco nesta mudança.
Ricardo fala sobre a Hora Legal Brasileira
A segunda mesa redonda, coordenada por Marta de Almeida, falou sobre os “Acervos históricos sobre a hora legal e seu potencial” e reuniu Selma Junqueira (ON), Sabina Luz (UNIRIO) e Mariza Bezerra (MAST).
Selma apresentou a palestra “O Fundo da Hora Legal Brasileira e a Preservação da Memória Institucional”. Conforme destacou Selma, o fundo é um conjunto de documentos restrito no tempo e no tema que conta uma determinada história, neste caso, a história do Observatório Nacional e do serviço da hora. Também falou e mostrou como é armazenado o acervo, que inclui manuscritos, obras raras, livros e periódicos.
Selma Junqueira fala sobre O Fundo da Hora Legal Brasileira
Sabina ministrou a palestra “Sinais horários para o Brasil e para o mundo: a incorporação da radiotelegrafia ao serviço da hora do ON”. Na apresentação, Sabina falou sobre a internacionalização do serviço horário e a transmissão da hora, destacando as relações internacionais do final do século XIX e início do século XX, nas quais o Brasil teve papel relevante e desafiador frente às transições políticas e à mudança da própria sede do Morro do Castelo para o Morro de São Januário, no Rio de Janeiro.
Sabina fala sobre os sinais horários para o Brasil e para o mundo
Mariza apresentou “O Relógio de Sol do Parque da Cidade e o Observatório Nacional: reflexões sobre um instrumento e monumento de Brasília”. Na ocasião, falou sobre sua pesquisa envolvendo o Relógio de Sol que está no Parque da Cidade de Brasília (Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek) e exibiu imagens históricas. Segundo Mariza, as imagens têm um valor significativo tanto do ponto de vista científico quanto do ponto de vista da popularização da Ciência.
Mariza palestra sobre o Relógio de Sol do Parque da Cidade
Na segunda parte do evento, Douglas Falcão, tecnologista sênior do MAST, falou sobre “Popularização da Ciência e Instrumentos Científicos Históricos”.
Douglas Falcão fala sobre popularização da ciência
Em seguida, os participantes do evento conheceram as instalações da DISHO e houve uma visita mediada sobre a geração e a disseminação do tempo oficial brasileiro com mediação de Juliana Vilaça e Mariana Gomes, do MAST. Os participantes conheceram a exposição “Do céu ao Césio: de onde vem o horário de Brasília?”
Visita à DISHO
Exposição “Do céu ao Césio”
O evento foi concluído com a exibição dos filmes históricos do antigo INCE, Instituto Nacional de Cinema Educativo, relativos ao tema: “A medida do tempo” (direção de Humberto Mauro e consultoria de Allyrio de Mattos, de 1936) e “A medida do tempo 2” (direção de Jurandyr Passos Noronha e consultoria de Luiz Muniz Barreto, de 1964).
Exibição dos filmes
Os filmes são curtos e abordam a história dos princípios e formas de medida do tempo baseadas no movimento de rotação da Terra e expõem diversos instrumentos como relógios, cronômetros, pêndulos, sextante, teodolito, luneta meridiana, clepsidra e ampulheta.
No segundo filme há imagens dos jovens astrônomos Ronaldo Mourão, Luiz Muniz Barreto e do Sr. Cláudio Imbuzeiro, funcionário do Observatório desde 1916 onde iniciou seus serviços como ajudante de estação meteorológica e transitou entre as instalações de São Januário, o Morro do Castelo, Observatório Magnético de Vassouras. Ele trabalhou como assistente de operações, inclusive dos osciladores eletrônicos. Por sua longa atuação de trabalho no Observatório, foi entrevistado pelo Grupo de Memória da Astronomia (GMA) em 1983, narrando um pouco sobre suas vivências nesses espaços de trabalho.
Essa entrevista foi digitalizada recentemente pelos historiadores da ciência do MAST e, juntamente com a exibição dos filmes, pôde-se ouvir um pequeno trecho de seu relato, fazendo assim uma justa homenagem aos funcionários que se dedicaram e dedicam incansavelmente ao Observatório Nacional, caso também do Sr. Ozenildo Dantas que esteve na audiência e foi seu contemporâneo na instituição.
Assista à transmissão ao vivo do evento: https://www.youtube.com/watch?v=wjZgGQt4LlA