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Pesquisadora em Geofísica do ON/MCTI, Dra. Suze Guimarães, detalha fenômeno
Erupção do vulcão em Tonga em janeiro ainda influencia céu brasileiro: pesquisadora do ON explica
A erupção do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, localizado no arquipélago de Tonga, no Oceano Pacífico, ocorreu há cerca de quatro meses, em 15 de janeiro deste ano, e foi uma das mais explosivas dos últimos tempos.
Contudo, embora o vulcão esteja localizado a mais de 12.000 quilômetros de distância do Brasil, o fenômeno explosivo segue influenciando a paisagem brasileira, dando tons rosados e avermelhados nos crepúsculos matutinos e vespertinos.
Amanhecer rosado no Rio — Foto: Elisa Soupin/Arquivo pessoal
De acordo com a Dra. Suze Guimarães, pesquisadora em geofísica do Observatório Nacional – unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (ON/MCTI) – esse fenômeno colorido ocorre devido ao caráter violento da explosão vulcânica:
“A explosão foi tão violenta que chegou a superar a potência de bombas atômicas, segundo a Nasa [agência espacial dos Estados Unidos]. Além disso, como efeito da erupção, as partículas expelidas alcançaram até mesmo o Brasil, deixando o céu mais avermelhado. Embora seja algo bonito de se ver, vale destacar que isso trata-se de poluição eruptiva.”
Suze explica que o fenômeno é causado pelo reflexo da luz solar nas partículas vulcânicas lançadas na atmosfera.
Segundo cientistas da NASA , a pluma vulcânica lançada na última erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai chegou a uma altura aproximada de 58 quilômetros em seu ponto mais alto. Gás, vapor e cinzas expelidas por essa explosão viajaram para a atmosfera atingindo a mesosfera, que está localizada a aproximadamente 80km de altura em relação a superfície terrestre.
Imagens de satélite de antes e depois mostram uma nuvem de fumaça subindo do vulcão subaquático dias antes de sua erupção em 15 de janeiro. Fonte: Reuters
Suze explica que, por ser uma região extremamente fria com temperaturas variando entre -10 a -100ºC, os gases na mesosfera tornam-se mais rarefeitos e ocorre o aumento da incidência da radiação ultravioleta emitida pelo Sol. Assim, esses gases se tornam densos o suficiente para vaporizar partículas e materiais que ali se encontram, facilitando o espalhamento desse material expelido pelo vulcão.
Cerca de duas semanas depois da explosão, materiais vulcânicos expelidos como: cinzas vulcânicas, SO2, CO2 e vapor de água viajaram pela atmosfera atravessando o continente africano e oceano Atlântico chegando ao Brasil, colorindo os crepúsculos matutinos e vespertinos de cidades mais próximas ao nível do mar como Rio de Janeiro e São Paulo.
“A abrangência desta erupção foi estimada e modelada através de observações infravermelhas adquiridas por dois satélites geoestacionários, o GOES-17 e o Himawari-8, lançados para estudos meteorológicos e de mudanças climáticas. Assim, se tudo ocorrer dentro dos fatores iniciais previstos do modelo, o espalhamento das partículas vulcânicas também é dimensionado”, comenta Suze.
Ainda segundo a pesquisadora em Geofísica, apesar da beleza da coloração distinta avermelhada no céu, esse fenômeno é um sinal de poluição na atmosfera atuando como um bioindicador:
“Sabemos que toda poluição atmosférica está intimamente ligada às mudanças climáticas, especialmente pela presença de gases altamente tóxicos e prejudiciais à saúde humana como os citados na erupção explosiva. Os impactos causados por essa poluição, no entanto, são minimizados à medida que se percorre grandes distâncias e parte desse material é perdido ao longo do caminho”, conclui.
Tsunami elevou nível do mar no Rio
Como consequência da erupção vulcânica submarina, houve uma tsunami que devastou a região de Tonga. Os impactos da onda gigante também chegaram ao Brasil. Dados da Estação Maregráfica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio, mostraram que o tsunami elevou em oito centímetros o nível do mar na costa brasileira.