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Copa do Mundo no Qatar deixará lições sobre aquecimento global?
Está em andamento a Copa do Mundo de futebol masculino no Qatar e o clima desértico do país intensificado pelos processos de mudanças climáticas, é uma das principais preocupações.
Quando o Qatar foi escolhido para sediar o torneio há 12 anos, o calor extremo da região já era uma preocupação e, desde então, a situação só piorou.
Devido ao aquecimento global, à sua geografia peninsular e ao desenvolvimento intensivo, a temperatura média anual no país aumentou cerca de 1°C desde que o Qatar foi escolhido como sede da Copa 2022. A temperatura do país nesta época do ano gira em torno dos 30°C e a umidade se aproxima de 60% – o que aumenta a sensação de calor. No alto verão, que naquela região do mundo acontece no mês de julho, as temperaturas ultrapassam os 50°C e umidade 95%, o que promove sensação térmica acima disso, inclusive à noite.
Conforme explicou a pesquisadora da área de Geofísica do Observatório Nacional, a Dra. Suze Guimarães, os estádios climatizados estão reduzindo a exposição ao calor dos torcedores e atletas na Copa do Mundo. Porém as equipes ainda podem sofrer algum estresse térmico, devido a distância entre as saídas do ar refrigerado – que estão localizados abaixo dos assentos e nas paredes das construções – e o centro do campo, onde os atletas estão atuando fisicamente. Ou seja, o calor precisa percorrer uma distância considerável até alcançar os atletas que estão se exercitando. O calor intenso e a alta umidade promovem o aumento dos riscos à saúde dos jogadores, que também têm o seu desempenho prejudicado.
Segundo Suze, a questão de como preservar o desempenho atlético em meio ao calor extremo está se tornando mais urgente à medida que o aquecimento global aumenta as temperaturas. Até mesmo o sindicato dos jogadores de futebol profissional, o FIFPRO, com sede em Amsterdã - Holanda, instou a indústria do futebol a prestar mais atenção em jogar no calor, devido às exposições a temperaturas insalubres intensificadas pelo processo de mudanças climáticas.
Para a pesquisadora, esse tipo de preocupação deve se tornar uma tendência global.
“A adaptação não só de atletas como de todas as pessoas ao aumento da temperatura global certamente se tornará uma tendência nos próximos anos. A Copa de 2022 oferece uma prévia preocupante do futuro, com ondas de calor recordes assolando todos os países, e esta é uma das consequências do aquecimento global”, diz.
Essas temperaturas crescentes mudarão o futuro do trabalho, por exemplo, tornando as atividades ao ar livre cada vez mais perigoso para a saúde humana nas partes mais quentes do ano, na maior parte do globo.
Pesquisas recentes de cientistas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) indicam que, até 2070, as ondas de calor na região do Qatar serão “intoleráveis” para a habitação. De acordo com um estudo de pesquisadores da NASA e Columbia University (Raymond, et al. 2020) publicado na revista Science Advances (Climatology), em 2100, as temperaturas podem subir a tal ponto que apenas sair por algumas horas em algumas partes do Oriente Médio, África e Ásia excederá o “limite superior de sobrevivência, mesmo com condições idealizadas de saúde perfeita”.
"Com base nisso, é possível que a Copa deixe lições sobre o mundo em aquecimento. Afinal, com sua escala e capacidade de atingir um público amplo, o futebol pode desempenhar um papel importante na atual transição ecológica, inclusive por meio de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas", diz Suze.
A FIFA, responsável pela competição, foi uma das primeiras federações esportivas internacionais a se comprometer com o Quadro de Ação Climática dos Esportes das Nações Unidas (S4CA). Em 2018, a entidade assinou um acordo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2030 e chegar a zero nas emissões líquidas até 2040. Além disso, se comprometeu a tornar a Copa do Mundo de 2022 o primeiro torneio neutro em carbono - uma meta que dependerá fortemente da compensação de carbono.
Vale destacar que segundo a FIFA, as emissões para esta Copa do Mundo — incluindo viagens aéreas e hospedagem, além do desenvolvimento— totalizarão cerca de 3,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Então, compensar tudo isso não vai ser uma tarefa fácil. Além disso, é importante notar que as altas temperaturas exigirão ainda mais o uso de climatizadores dentro dos estádios, que é uma fonte significativa de emissões de carbono.
Mas como o futebol não é o único esporte que é vítima das mudanças climáticas, é necessária uma ação urgente da comunidade esportiva como um todo.
Este assunto será tema do próximo programa Ciência no Rádio, parceria entre o ON e a Rádio MEC. O programa vai ao ar na próxima quarta-feira, dia 30 de novembro, às 7h10, no site da Rádio Sociedade. Saiba mais aqui.