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Colisão de navio com a Ponte Rio-Niterói gera terremoto registrado em sismógrafo do Observatório Nacional
Um sismógrafo localizado dentro do campus do Observatório Nacional, no bairro de São Cristóvão, no Rio, registrou o impacto do navio que colidiu com a Ponte Rio-Niterói no dia 14 de novembro. O navio graneleiro São Luiz, que estava ancorado na Baía de Guanabara desde 2016, foi arrastado pelo vento e se chocou contra a estrutura da Ponte perto de Niterói. O impacto induziu um terremoto de magnitude 1.6.
Registro do impacto do navio na Ponte Rio-Niterói
Conforme explicou o sismólogo do ON, Dr. Diogo Coelho, que analisou os dados desse evento, imediatamente após o acidente, ondas sísmicas foram geradas no ponto de colisão entre o navio e a ponte.
“Essas ondas sísmicas se propagam de forma radial em alta velocidade, com velocidade mínima de 1000 m/s. Pouco tempo depois, essas ondas sísmicas foram registradas na estação sismográfica ON02, que fica no subsolo do prédio da Coordenação de Geofísica no campus do ON, instalada diretamente em contato com um afloramento rochoso. Essa instalação direta na rocha é feita para amplificar o registro das ondas sísmicas”, disse o sismólogo.
Diogo também produziu uma “sonificação” do impacto do navio com a ponte:
O aparelho que registrou esse impacto, e que registra tremores e sismos, se chama sismógrafo. Esse equipamento é, em geral, constituído de um sismômetro que é o transdutor (dispositivo utilizado em conversão de energia de uma natureza para outra), que "percebe" os movimentos do solo, e um registrador. O sismômetro basicamente funciona com uma massa suspensa por molas (ou um pêndulo). Assim, quando o solo oscila a massa também balança e esse movimento relativo é registrado.
Esses aparelhos são muito sensíveis, tanto que esse impacto do navio na ponte, que ocorreu a mais de 5 quilômetros de distância da estação do ON, e que não foi um terremoto propriamente dito, foi muito bem registrado.
O registro da amplitude das ondas sísmicas em função do tempo é chamado de sismograma. A partir das análises e interpretações das amplitudes registradas nos sismogramas, pode-se estimar vários parâmetros associados ao evento sísmico, como: epicentro (foco do terremoto), duração, magnitude e o tipo de mecanismo que gerou o evento sísmico.
“O registro da amplitude máxima da onda sísmica no sismograma nos dá a magnitude do evento sísmico em questão. A escala de magnitude local é um escala instrumental, isto é, medida diretamente a partir do registro das ondas sísmicas geradas. A colisão do navio com a ponte Rio-Niterói gerou um evento de magnitude 1,6. Segundo a classificação de terremotos pela escala de magnitude, tremores com magnitudes menores que 3 são considerados microtremor e por muitas vezes são imperceptíveis à maioria da população. Somente quem está muito perto do foco sentirá esse tipo de terremoto”, ressaltou Coelho.
Ainda segundo o sismólogo, existem inúmeras fontes de microtremores. Até mesmo um estádio de futebol cheio de pessoas pode causar um evento deste tipo.
“Um exemplo clássico é a equipe de futebol americano Seattle Seahawks do estado de Washington (EUA). Existem vários sismogramas do ano de 2013 das estações da Rede Sismográfica do Noroeste do Pacífico (PNSN) com vários eventos sísmicos de magnitude entre 1 e 2 nos dias dos jogos. Um exemplo recente e não tão bom para os brasileiros foi a postagem do Departamento de Geofísica de Zagreb, na Croácia. Na publicação, os pesquisadores disseram que vários sismogramas registraram um aumento da amplitude sísmica no horário do gol de empate da seleção croata no jogo com o Brasil pelas quartas de final da Copa do Mundo de Futebol no Catar”, destacou Diogo.