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Astrônomo do ON comenta descoberta da Supernova 2022hrs
O astrônomo japonês Koichi Itakagi descobriu no dia 16 de abril deste ano uma supernova de brilho intenso que recebeu o nome de 2022hrs.
Cinco horas após sua descoberta, o astrônomo amador italiano Claudio Balcon obteve o espectro da SN 2022hrs usando o telescópio de 0.2m pertencente ao projeto italiano de busca de supernovas . Os espectros das supernovas fornecem informações sobre a localidade, a composição química e também quando aconteceu o pico do brilho destes eventos extremos. Utilizando o programa GEneric cLAssification TOol (GELATO) que classifica as supernovas através dos espectros, Claudio identificou a SN 2022hrs como uma supernova tipo Ia, ou seja, uma supernova que resulta da violenta explosão de uma anã branca que compõe um sistema estelar binário.
A SN 2022hrs foi descoberta na galáxia espiral NGC 4647 (próxima à galáxia elíptica M60), na direção da constelação de Virgem. NGC 4647 está a 63 milhões de anos-luz de distância. Isso quer dizer que a 2022hrs explodiu há 63 milhões de anos.
Imagem de 2022hrs por Koichi Itakagi
A SN 2022hrs foi descoberta com uma magnitude de +15 mas atualmente apresenta aproximadamente +12.6. Ou seja, o brilho da supernova está aumentando. Em sua análise, Claudio sugeriu que o brilho máximo da SN 2022hrs deve acontecer em cerca de duas semanas. .
A magnitude aparente é a grandeza que mede o brilho de objetos astronômicos observados da Terra e depende da luminosidade intrínseca do objeto, sua distância da Terra e qualquer extinção da luz causada pela poeira interestelar. Quanto mais brilhante um objeto parece, menor é sua magnitude.
A estrela Sirius, por exemplo, que é a mais brilhante do céu noturno, tem magnitude aparente -1,45. O olho humano consegue enxergar o brilho dos astros cuja magnitude chegue a, no máximo, 6,5 — se estiver em condições de baixíssima poluição luminosa. Isso significa que não é possível ver a supernova 2022hrs a olho nu.
Imagem de 2022hrs do dia 25/04/2022, capturada utilizando telescópio robótico de 0.4m da rede LCO Global - Projeto Céu Profundo.
O que são supernovas?
O astrônomo do Observatório Nacional - unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (ON/MCTI) - Dr. João Victor Sales Silva explica que as supernovas são um dos eventos explosivos mais energéticos conhecidos. Essa explosão estelar pode surgir da evolução de estrelas com massa maior que 9-10 vezes a massa do Sol ou da interação de sistemas estelares binários. Por não estar contido em nenhuma destas situações, o nosso Sol não irá passar pela fase de supernova.
“Em estrelas de alta massa, as supernovas acontecem no final da sua vida. Durante grande parte da vida das estrelas, as reações nucleares no interior estelar geram radiação causando uma pressão que contrapõe o colapso gravitacional. Esse cenário deixa a estrutura da estrela estável”, explica João Victor.
Mas o que acontece no núcleo da estrela quando a queima de elementos cessa? Neste caso há o colapso gravitacional do núcleo e é exatamente este colapso que gera a supernova no final da vida de estrelas de alta massa. O colapso gravitacional acaba “amassando” os núcleos atômicos existentes no centro da estrela, combinando os prótons e elétrons em nêutrons no núcleo estelar.
“Neste ponto do núcleo, espremido e rico em nêutrons, uma pressão de ordem quântica denominada de pressão de degenerescência dos nêutrons resiste ao colapso gravitacional. Essa resistência do núcleo provoca um choque entre o núcleo e as camadas mais externas da estrela que continuam colapsando, gerando uma onda de choque direcionada para fora. Essa onda de choque gera uma queima explosiva e extremamente energética nas camadas mais externas da estrela, surgindo o fenômeno de supernova”, completa o astrônomo do ON.
Um outro tipo de supernovas são as tipo Ia que tem origem em sistemas estelares binários. A SN 2022hrs é uma supernova deste tipo. Essas supernovas podem ser geradas através da fusão de duas anãs brancas (final de vida das estrelas de baixa massa) ou transferência de material de uma estrela para uma anã branca.
Segundo João Victor, as supernovas tipo Ia acontecem devido a anã branca atingir o limite de massa de estabilidade – também chamado de limite de Chandrasekhar – pelo acréscimo de matéria proveniente da estrela companheira. Esse cenário causa uma queima descontrolada que se espalha pela estrela, criando uma explosão catastrófica que destrói a anã branca. Grande parte do ferro que observamos no Universo, como por exemplo o ferro contido no nosso sangue, foi produzido por supernovas do tipo Ia.
“As supernovas são importantes objetos de estudo para compreensão do Universo. Em 1998, observações de supernovas do tipo Ia realizadas por pesquisadores do Supernova Cosmology Project e do High-z Supernova Search Team mostraram que o Universo está em expansão acelerada. Esse cenário indica a existência de algo no Universo que provoca essa aceleração. Denominamos esse ‘algo’ de energia escura. A natureza dessa componente exótica não é bem conhecida sendo atualmente alvo de intenso estudo pelos cosmólogos”, finaliza o astrônomo.
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