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As mulheres do ON:
Em 1975, foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Dia Internacional da Mulher, uma data de reflexão e reivindicação por igualdade de gênero em todo o mundo. Também se celebra nesta data os progressos alcançados e os atos de coragem e determinação de mulheres pioneiras.
A primeira vez que o Dia Internacional da Mulher foi celebrado foi em 1911, em Alemanha, Áustria, Dinamarca e Suíça, com comícios em que as mulheres exigiam direitos como voto, trabalho, formação profissional e não discriminação no emprego. Naquele mesmo mês, em 25 de março, mais de 140 jovens trabalhadoras morreram no trágico incêndio na fábrica Triangle em Nova York. O episódio trágico teve grande impacto no direito do trabalho nos Estados Unidos, e as comemorações subsequentes do Dia Internacional da Mulher fizeram referência às condições de trabalho que levaram ao desastre.
Embora tenha havido muitas conquistas, ainda há bastante trabalho a ser feito para que a igualdade de gênero seja alcançada nas mais diversas esferas da sociedade e na área da Ciência isso não é diferente.
O tema do Dia Internacional das Mulheres de 2023 é “Por um mundo digital inclusivo: inovação e tecnologia para a igualdade de gênero”, em alinhamento com o tema prioritário da 67ª sessão da Comissão da ONU sobre a Situação das Mulheres (CSW): “Inovação, mudança tecnológica e educação na era digital para alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas”.
Segundo a ONU, trazer mulheres para a tecnologia resulta em soluções mais criativas e com maior potencial para inovações que atendam às necessidades das mulheres e promovam a igualdade de gênero. De acordo com o relatório UN Women’s Gender Snapshot 2022, da ONU Mulheres, a exclusão das mulheres do mundo digital eliminou 1 trilhão de dólares do produto interno bruto (PIB) de países de baixa e média renda na última década.
O ON está comprometido com a igualdade de gênero e promove diversas ações e programas nesse sentido, como o projeto “Meninas no MAST”, em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST); o Projeto "Mulheres e Meninas na Astronomia", em parceria com o NOC-Brasil; e o “Garotas do ON”.
O ON também estimula a participação feminina em seus programas de pós-graduação. De acordo com a Divisão de Pós Graduação do ON, na Astronomia, já foram formadas 51 mestras (1981 a 2022) e 34 doutoras (1983 a 2022). Já na Geofísica, foram 31 mestras (1992 a 2020) e 08 doutoras (1998 a 2021) – totalizando 124 mulheres tituladas!
Ao longo de seus 195 de anos de história, já passaram pelo Observatório Nacional mulheres de grande destaque nas áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação, dais quais pode-se destacar Yedda Ferraz, a primeira mulher a trabalhar no Observatório Nacional e a primeira astrônoma do Brasil e a astrônoma brasileira Duilia de Mello, que descobriu a Supernova 1997D enquanto desenvolvia o pós-doutorado no Observatório Nacional.
Com o objetivo de promover uma reflexão sobre a importância do Dia da Mulher e sobre o tema deste ano, o Observatório Nacional conversou com mulheres que fazem parte de sua história e traz, nesta reportagem, seus depoimentos. Servidoras, bolsistas, colaboradoras e terceirizadas comentaram quais são os principais desafios em ser mulher dentro de uma instituição de ciência, tecnologia e inovação e destacaram a importância da presença de mulheres nessas áreas.
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“A falta de representatividade e o sentimento de não pertencimento são os maiores desafios em ser mulher dentro da comunidade acadêmica/científica e acredito que esses sejam os maiores motivos da elevada evasão das meninas e mulheres da academia. Acredito que a presença de mulheres na ciência, tecnologia e inovação é de extrema importância sobretudo para incentivar a entrada e a permanência de mais mulheres nesses espaços. Nada melhor do que entrar em uma sala de aula e não ser a única mulher no lugar!” – Ester Costa, bolsista PICT da Coordenação de Geofísica do ON (COGEO). |
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“Um dos principais desafios é lidar com a desigualdade no número de mulheres e homens atuando dentro da instituição, no qual observo uma predominância masculina. É muito importante ter uma representatividade feminina nas ciências exatas para que outras mulheres possam ser incentivadas de que elas também são capazes de atuar na área.” – Amanda Silva de Araujo, bolsista da Coordenação de Astronomia (COAST). |
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“É um grande desafio ser ‘super’... Mãe, amiga, esposa, namorada, filha, profissional etc e saber lidar com os problemas que a sociedade ainda impõe sobre nós. Precisamos fazer a sociedade entender que não somos apenas geradas para cuidar e reproduzir, podemos sim produzir ciência.” – Lindalva Floriano, secretária do Serviço de Recursos Humanos (SERHU). |
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“O principal desafio sempre foi trabalhar numa instituição essencialmente masculina, como ocorre na maioria das instituições na área científica. Infelizmente, na maioria das vezes, para serem respeitadas, as mulheres devem se esforçar para serem melhores do que os homens. Uma vez alcançado esse respeito, aí não tem problema, mas muitas pesquisadoras, principalmente jovens, acabam desistindo antes disso. O que é muito triste. A humanidade é formada por pessoas de diferentes gêneros e qualquer atividade, seja ela econômica, acadêmica ou de serviços, deve refletir essa diversidade. Nenhuma atividade é uma "bolha" separada do resto do mundo. Mulheres têm competências às vezes diferentes e às vezes complementares às dos homens e o conjunto de todas essas competências permite alcançar melhores resultados.” – Daniela Lazzaro, pesquisadora da Coordenação de Astronomia (COAST). |
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“De modo geral, as mulheres são sub-representadas em muitas áreas de ciência, tecnologia e inovação, o que significa que há uma grande quantidade de talento e habilidade que ainda não foi aproveitada.” – Lorena Amaro, jornalista da Divisão de Comunicação e População da Ciência (DICOP). | |
“Na verdade os desafios em ser mulher estão no dia a dia, não somente dentro de uma instituição de ciência, tecnologia e inovação, os desafios diários incluem conciliar a convivência em família, os preconceitos machistas, e o posicionamento em situações onde cargos são consideradas ‘para homens’. As mulheres são maternas, cuidadosas e atenciosas. Acredito que a presença desse grupo na área fará com que os projetos sejam tratados com cautela e exatidão.” – Micilda Machado, secretária do Serviço de Recursos Humanos (SERHU). | |
“O principal desafio está no percurso percorrido até chegar nesses ambientes. Seguir uma carreira científica requer muito tempo dedicado, seja na universidade ou na pós-graduação. E na nossa sociedade isso é um fator que dificulta a presença de mulheres, pois como sabemos, a sociedade não dá o suporte necessário para mulheres que têm o trabalho como foco. E uma vez conquistado esse espaço, é necessário lidar com um ambiente de maioria masculina, o que torna, muitas vezes, as problemáticas enfrentadas por nós não compreendidas. Acredito que a presença de mulheres serve principalmente como exemplo para outras mulheres seguirem carreira científica, e também para mulheres que já estão na área terem modelos femininos para seguir. Outro fator importante é levar problemáticas sociais femininas para a academia, para assim tornar um ambiente cada vez mais acolhedor para as novas mulheres que entrarem. Mostrar para todos que podemos ocupar todos os espaços é de extrema importância, principalmente quando esses espaços são ocupados em maioria por homens.” – Plícida Arcoverde, pesquisadora e bolsista pós-doc PCI da Coordenação de Astronomia (COAST). | |
“Eu fico feliz em ver que nós, mulheres, estamos tendo cada vez mais lugar na sociedade e na ciência, mas um dos desafios que ainda enfrentamos são os estereótipos de gênero. As pessoas estão condicionadas a pensar que os homens têm maior racionalidade e senso crítico, ao mesmo tempo em que associam às mulheres às características de instabilidade e emocionalismo, ocasionalmente invalidando as decisões e os pontos de vista femininos. Acredito que superar este desafio, além de tornar o ambiente de pesquisa mais satisfatório para as mulheres atuantes, também trará um maior incentivo às jovens que se interessem pela área, superando também um outro desafio, que é a falta de representatividade. Diante de tantos desafios, a celebração ainda é discreta, mas não dá para negar que estamos progredindo. É muito gratificante poder ver mulheres fazendo ciência; e, mais ainda, é saber que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação tem uma mulher como líder. É muito importante mostrar à sociedade que somos capazes de alcançar posições de poder. Porém, mais do que isso, é importantíssimo fazer nossas meninas e mulheres se enxergarem nesses exemplos e saberem que também podem chegar aonde quiserem e serem muito mais do que a sociedade nos designou.” – Tamires Machado, assessora da Direção do ON. |
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“Ser mulher é um desafio na humanidade. Vem sendo assim desde sempre. O que falta é sempre o respeito. Aquela frase: ela escolhe o quer ser, apesar de ser mulher... Eu digo que: Sim! Podemos ser o que queremos sendo mulher. Basta olhar as estatísticas. As mulheres provam todo dia que Sim, conseguem ser o que querem e são muitas em uma só!! Vamos celebrar a luta das que vieram antes de nós, e torcendo para que haja Equidade e Respeito para todas!” – Suze Guimarães, pesquisadora da Coordenação de Geofísica do ON (COGEO). | |
“O meu maior desafio é ser pesquisadora, servidora, gestora e ao mesmo tempo mãe, avó, esposa, irmã, sogra. Em cada dia atuar da melhor forma possível, persistindo em nossas lutas em todas essas instâncias é um grande desafio, mas não desisto! A minha ancestralidade e os exemplos de outras mulheres inspiradoras me fortalecem. É da maior importância. Historicamente a atuação das mulheres na área de Ciência, Tecnologia e Inovações foi muito oprimida. Hoje, temos conhecimento de pesquisas e descobertas de autorias femininas que foram atribuídas aos homens. Sabemos também, dentre outras coisas, que ao longo de séculos as meninas foram desmotivadas a pensar de forma científica. Por isso é tão importante a nossa ação em todos os projetos que favoreçam o pensamento científico às meninas. No ON atuamos em 3 projetos relacionados a isso: Meninas do MAST (parceria com o MAST), Meninas e Mulheres na Astronomia (parceria com o NOC-Brasil) e Garotas do ON. É preciso atuar também em nossas famílias e na sociedade. Eu tenho motivado vovós e vovôs, mamães e papais, titias e titios, etc, que levem suas crianças e jovens para eventos culturais e de divulgação e popularização da ciência.” – Josina Nascimento, pesquisadora da Coordenação de Astronomia do ON (COAST) e gestora da Divisão de Comunicação e Popularização da Ciência (DICOP). |
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"Na minha opinião o maior desafio é ser respeitada. Ainda há muita desigualdade no tratamento e nos direitos entre homens e mulheres no meio científico. Isso muitas vezes é disfarçado, por meio de brincadeiras ou nas entrelinhas de uma conversa. Cabe a nós mulheres expor atos misóginos e lutar diariamente pelo respeito e por uma igualdade de gênero dentro das instituições de ciência, tecnologia e inovação. Mulheres pesquisadoras, estudantes e técnicas, são fundamentais em um ambiente majoritariamente masculino na área de ciência e tecnologia. Eu acho fundamental que haja um sistema para equilibrar o número de mulheres e homens nas instituições de pesquisa. Não faltam mulheres competentes, basta que tenham oportunidades." – Katia Pinheiro, pesquisadora da COGEO. |
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"O maior desafio é saber que sou capaz porque a área de exatas é majoritariamente dominada por homens (situação que vem mudando bastante), então há momentos em que você não se sente capaz por não ter ninguém para se espelhar. Mas você é capaz e mesmo se não tiver ninguém para você se inspirar sobre um assunto, torne-se você a sua principal inspiração. Ter a mulher como presença na ciência, tecnologia e inovação é fundamental para incentivar meninas de todas as idades a trilharem o mesmo caminho e saberem que é possível chegar aonde elas quiserem." – Jezebel Santos de Oliveira, bolsista de iniciação científica da COAST. |
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"O principal desafio é a quebra de paradigmas relacionados às relações de gênero. Acredito que obtivemos relevante empoderamento nesta área, principalmente trabalhando no local e observando inúmeras protagonistas em vários âmbitos de pesquisas. A presença de mulheres nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, demostra que não há barreiras e sim pensamentos que se conectam em melhorias para a sociedade. E que a capacidade de se desenvolver independe do gênero." – Angélica de Souza, vigilante do Serviço de Apoio Logístico (SELOG/ON). |
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"Os desafios são os mesmos de outras áreas, usualmente dominadas pelos homens. Precisamos marcar território dentro da instituição e mostrar nosso valor com muito mais entusiasmo, energia e disposição! Muito mais, por exemplo, do que na minha área de formação original: o magistério. É importante para trazer o olhar da mulher, nossa sensibilidade, o nosso modo de acolher e cuidar, próprios das mulheres, com generosidade e leveza, delicadeza, força e dedicação. É importante também que a presença e as contribuições dessas mulheres ganhem mais visibilidade." – Regina Sampaio, bolsista PCI da COAST. |
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"Creio que se fazer ouvir dentro de um ambiente predominantemente masculino e ter sua opinião respeitada é um grande desafio. Ser uma mulher no meio científico é explorar a intersecção de diferentes identidades e compreender como o meu trabalho impacta na sociedade e de que maneiras eu posso contribuir para o seu desenvolvimento. Ainda existem diversos obstáculos tanto no meio científico como na esfera social, porém apenas o fato de ser mulher e poder fazer o que eu amo auxilia a inspirar as futuras cientistas. Isso também implica em manter o legado e sentir gratidão por todas as mulheres que foram pioneiras e abriram as portas para nossa geração e lutaram pelos direitos que possuímos atualmente." – Thereza Mayra de Souza, bolsista PICT do ON. |