Lasar Segall nasceu em Vilna, capital da atual República da Lituânia, em 21 de julho de 1889. Sexto entre oito irmãos, descendia de uma família de judeus. Seu pai, Abel Segall, além de negociante, exercia a função de sofer, escriba da Torá, cujo texto, manuscrito em pergaminho, é utilizado em cerimônias religiosas nas sinagogas.
Vilna era então parte do Império Russo. Sob o regime dos czares, leis severas restringiam os direitos dos judeus, impedindo-os de exercer cidadania plena. Não podiam possuir propriedades rurais, devendo dedicar-se a algumas poucas atividades urbanas. Eram vítimas da pobreza e de surtos de violência contra suas pessoas e propriedades, os pogroms.
A experiência desse ambiente marcaria o artista para toda a vida. Adulto, dedicaria parte de suas obras aos temas ligados à experiência judaica, inspirando-se tanto nas facetas negativas – perseguições, discriminações e violências – quanto no rico imaginário do seu povo, na sua religiosidade e tradições. As migrações e deslocamentos, constantes no cotidiano dos judeus orientais, dariam o tom em muitas de suas obras.
Ainda muito jovem Segall descobriu o pendor artístico, e frequentou a escola de desenho local. Em 1906, aos 17 anos, para que pudesse prosseguir com os seus estudos, empreende sua primeira migração. Transfere-se para Berlim, onde frequenta a Escola de Artes Aplicadas e, depois, a Academia Imperial de Belas Artes.
Descontente com as concepções tradicionalistas da Academia Imperial, muda-se novamente, desta vez para Dresden, em 1910, onde frequenta a Academia de Belas Artes.
Em 1912, empreende uma prolongada viagem. Passa pela Holanda e parte em seguida para o Brasil, onde já viviam seus irmãos Oscar, Jacob e Luba. Em 1913, realiza duas exposições no Brasil, em São Paulo e Campinas. É bem acolhido pelo senador José de Freitas Valle, grande mecenas das artes daquele período, e conhece pela primeira vez a jovem Jenny Klabin, a quem ministra aulas de desenho.
Quando retorna à Europa, em fins de 1913, deixa algumas obras em coleções brasileiras. No navio que o levava para casa, ouve os primeiros rumores sobre uma grande guerra que ameaçava deflagrar-se na Europa. De volta a Dresden, conhece a atriz Margarete Quack, com quem se casaria após a Primeira Guerra Mundial.
Com o início da guerra, Segall sofre algumas restrições por ser cidadão de estado inimigo da Alemanha. Por algum tempo, fica retido em Meissen, cidade vizinha a Dresden, numa espécie de prisão domiciliar. Graças a amigos influentes, que atestaram o caráter pacífico do pintor, o confinamento foi relaxado e Segall pôde voltar a Dresden. As consequências da guerra agravam-se e vemos relatadas nas cartas desse período a morte de amigos e conhecidos nos campos de batalha, a falta de víveres e os constantes racionamentos, as greves violentamente reprimidas e até mesmo a escassez de materiais de trabalho, como telas, tintas e solventes.
Para Segall, havia ainda outra preocupação, sua cidade natal fora tomada pelas tropas russas, e o pintor temia pela segurança de sua família. Em 1916, obtém autorização para visitar Vilna. Encontrou sua cidade natal destruída pela guerra. A paisagem desolada causa-lhe forte impressão, e o artista produz uma série de desenhos e gravuras. Décadas mais tarde, diria que a necessidade de dar forma visual à violência contra os judeus o forçou a abandonar a fidelidade à natureza, permitindo que a emoção ditasse as formas e as distorcesse. Em outubro de 1916, Segall expõe alguns desses trabalhos em Dresden, obtendo elogios da crítica. Essas obras marcam a transição para uma nova linguagem expressiva.
Em 1917, Segall aproxima-se de um grupo de artistas, escritores e intelectuais de Dresden que, descontentes com as formas vigentes, estimulam o desenvolvimento de novos caminhos de expressão. Decidem formar um grupo voltado ao fomento e à divulgação dessa estética. Batizam-no de Neue Kreis [Novo Círculo]. O grupo realiza exposições e conferências, mas é efêmero, dissolvendo-se no ano seguinte.