Verdade – fraternidade – arte
Secessão de Dresden – Grupo 1919 e contemporâneos
Logo após o término da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), em meio às cinzas da derrota na guerra e o desmoronamento do império de Guilherme II, explode na Alemanha a Revolução de novembro de 1918. O imperador abdica, multidões de insurgentes de esquerda e direita tomam as ruas. A nova república é proclamada duas vezes – pelos social-democratas e pelos admiradores da revolução russa de 1917, liderados por Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo, principais representantes do Partido Comunista Alemão. A violência é agravada pela ação de milícias de ultradireita que assassinam os dois líderes comunistas. Para afastar a administração da conflagrada Berlim, a república é transferida para a cidade de Weimar. Tem início, em 1919, um governo parlamentarista, com um horizonte de esperança em maior justiça social. Mas logo esse otimismo seria arrefecido pelos sucessivos fracassos da frágil República de Weimar, que iria ser esmagada em 1933 pela ascensão ao poder do chanceler Adolf Hitler, à frente do Partido Nacional-Socialista.
Enquanto durou, no entanto, a República de Weimar foi um período de intensa efervescência cultural. Os artistas se organizam em movimentos, ligas e associações, com o objetivo de contribuir para uma renovação artística e de valores. Uma dessas comunidades é a Secessão de Dresden – Grupo 1919, que reúne artistas irmanados no ideal de uma arte interiormente verdadeira, com preocupações sociais. No Estatuto divulgado quando da fundação do grupo, em janeiro de 1919, que destaca as palavras de ordem VERDADE – FRATERNIDADE – ARTE, esses jovens revolucionários se autoproclamam ‘O Futuro’. Seus fundadores são: Peter August Böckstiegel, Otto Dix, Will Heckrott, Otto Lange, Constantin von Mitschke-Collande, Conrad Felixmüller, Otto Schubert, Lasar Segall, a escultora Gela Forster e o arquiteto e escritor Hugo Zehder. Oskar Kokoschka é membro estrangeiro convidado. Outros nomes se juntam depois ao grupo inicial.
As artes gráficas são valorizadas, com destaque para a xilogravura e sua função como panfleto. Publicações como Menschen (Homens) e Neue Blätter für Kunst und Dichtung (Novas folhas para arte e literatura) dão suporte ao grupo, reproduzindo suas obras e publicando ensaios críticos. O Grupo 1919 editou um álbum com doze gravuras, exibidas nesta mostra do Museu Lasar Segall, e fez exposições, inclusive com artistas convidados – entre os quais Lyonel Feininger, Eugen Hoffmann, George Grosz e Kurt Schwitters, também aqui representados. Uma sensibilidade aberta à arte internacional permitiu que se espelhassem em personalidades como o austríaco Egon Schiele e o russo Marc Chagall. As obras e as idéias de artistas como Max Pechstein, Karl Schmidt-Rottluff, Käthe Kollwitz, Paul Klee e Wassily Kandinsky também foram referências importantes.
Esta segunda geração dos expressionistas explorou as cenas de portos e barcos que anunciavam a aventura do desconhecido e, como seus antecessores do grupo A Ponte (1905), privilegiaram o primitivo, a natureza, o nu e a energia dionisíaca da sexualidade como força subversiva de renovação e regeneração.
Vera d’Horta
Lista de artistas
Chaim Soutine
Constantin Von Mitschke-Collande
Egon Schiele
Eugen Hoffmann
George Grosz
Karl Schmidt-Rottluff
Käthe Kollwitz
Kurt Schwitters
Lasar Segall
Lyonel Feininger
Marc Chagall
Max Beckmann
Max Pechstein
Otto Dix
Otto Lange
Paul Klee
Peter August Böckstiegel
Walter Jacob
Will Heckrott