Poéticas do mangue
31/03 a 17/06/2012
E há partidas para o Mangue
Com choros de cavaquinho, pandeiro e reco-reco
És mulher
És mulher e nada mais
MANUEL BANDEIRA
O Mangue foi a grande zona da prostituição no Rio de Janeiro e, segundo Manuel Bandeira, teve o seu auge, quando era frequentado por sambistas, intelectuais e artistas. “Aquilo era uma cidade dentro da cidade, com muita luz, muito movimento, muita alegria.”
A exposição Poéticas do Mangue aborda a atração que o Mangue, com seus prostíbulos, bares e cabarés, exerceu sobre os diversos artistas. Lasar Segall lançou o álbum Mangue em 1944, com reproduções de desenhos realizados entre os anos 1925 e 1943. Nas obras sobre a prostituição, Segall volta-se, sobretudo, para questões sociais, preocupa-se com a situação de solidão e miséria. Retrata os ambientes como observador atento e não como um cliente, um usuário.
Di Cavalcanti, ao contrário de Segall, frequentou o Mangue como artista e para se divertir em grandes noitadas. Di evitava ser um observador distante, um artista que vê o mundo como espectador. Nas cenas de bordéis, seus desenhos revelam intensa proximidade e, até mesmo, certa promiscuidade com os assuntos tratados. Sua arte flui como experiência vivenciada, o desenho surge como um ato de intimidade amorosa. No álbum Fantoches da meia-noite, publicado em 1921, retrata figuras notívagas, com grã-finos, poetas e prostitutas.
Nesse mesmo ano, ainda vivendo na Alemanha, Segall publicou o álbum Bubu, no qual, pela primeira vez, aparece em sua obra a figura de uma prostituta. O expressionismo alemão, já nos primórdios do século XX, abordava com frequência temas da vida boêmia, para criticar a decadência dos costumes burgueses.