O desenho de Lasar Segall
É no desenho que o pintor apresenta um reflexo mais profundo de sua sensibilidade.
Lasar Segall
Ao expor um acervo que por suas qualidades intrínsecas – um desenho terá quase sempre dimensões reduzidas, e será, por isso mesmo, armazenado de forma mais velada – permanece na maior parte do tempo guardado nas gavetas das mapotecas, acessível aos olhos de poucos, a presente mostra busca oferecer um panorama das atividades empreendidas por Lasar Segall sobre o papel. O desenho, e aqui entendemos o desenho de modo bastante livre, constitui um momento ímpar da produção segalliana. Resultado dúplice da periferia e do centro, Segall preocupou-se, ao longo de toda a sua vida, da infância em Vilna às duas últimas décadas vividas no Brasil, passando pelos estudos realizados nas academias alemãs e sua associação a movimentos europeus de vanguarda, com os problemas formais e expressivos da produção artística: o papel constituindo o espaço por excelência dessas pesquisas. Podemos entrever, nos mais de 2400 desenhos que integram o acervo do Museu Lasar Segall, sua constante batalha e “obstinação realizadora”, à guisa da luta de Jacó com o anjo, na procura de um caminho visual próprio, conservando para tanto, como ele mesmo disse, “muito abertos os olhos”.
Organizada a partir de uma cronologia flexível, a exposição apresenta lado a lado e de maneira não-hierárquica uma seleção de trabalhos, alguns assinados, outros estudos, exercícios acadêmicos e anotações visuais, todos pertencentes ao acervo do Museu, no intuito de evidenciar as diversas formas e estratégias de apropriação do espaço cândido do papel empreendidas pelo artista. Todos eles, da mais singela anotação ao mais acabado desenho, nos revelam suas inesgotáveis possibilidades expressivas e seu extraordinário virtuosismo técnico.
Poderíamos dizer que a exposição O desenho de Lasar Segall constitui um roteiro abstrato de sua biografia criativa, em que angústias e preocupações estéticas encontram-se sobrepostas aos acontecimentos e narrativas de sua vida. É importante dizer que as balizas dessa biografia criativa estão aqui representadas por obras raras vezes escolhidas para exemplificá-las. No entanto, ao organizarmos a mostra com base no desenho, forma de definição transitória, como diria Mário de Andrade, direta e por isso mesmo dotada de risco, esperamos revelar não somente o grande artista que foi Lasar Segall, mas também um pouco da realidade de suas aspirações. Como o poeta e filósofo da antiguidade clássica Lucrécio escreveu em De rerum natura [Da natureza das coisas]: “É mais útil observar um homem em momentos de perigo, e julgá-lo na adversidade; pois é então que do peito rompem-lhe as verdades e tomba sua máscara, deixando às claras a realidade.”
Giancarlo Hannud
Curador e diretor do Museu Lasar Segall
20 de outubro
Feira de publicações promocionais do museu – 11h00 às 19h00
Palestra com a pesquisadora e curadora Regina Teixeira de Barros – 13h00
Abertura da exposição – 15h00
Visita com o curador e diretor do Museu Lasar Segall, Giancarlo Hannud – 15h00