Marina Caram: a alma pelo avesso
30/04 a 28/08/2005
Exposição temporária da artista Marina Caram, que faz parte do ciclo de artistas brasileiros de linhagem expressionista, iniciado em 2001. A mostra apresenta 44 obras, entre desenhos, gravuras, pinturas e esculturas.
Desde o início de sua carreira, nos anos 1940, Marina Caram se identifica com a visão de mundo expressionista. Essa não era uma opção entre outras. “Eu não escolhi ser expressionista, eu nasci assim”, diz ela. O vigor de sua linguagem pessoal e a escolha dos temas, centrados no drama de personagens urbanos vivendo à margem da vida, definem a natureza de sua produção. São cenas recolhidas em Paris, onde viveu por quase dois anos, no início dos anos 1950, em São Paulo, na Bahia, em várias cidades da Bolívia. Além de trabalhos independentes, esta exposição apresenta obras de sete séries temáticas. Nos desenhos de grande formato, feitos em 1954 e 55, conjunto que ela chamou Os humilhados, sua atenção se concentra nas questões sociais. Seus personagens são os desfavorecidos pela sorte – varredores de rua, engraxates, mendigos, prostitutas, crianças prisioneiras do próprio desamparo. Dessa multidão de mártires se destaca a figura do Cristo, imolado por seu heroísmo exemplar. Na Bahia, Marina produz os trabalhos da série Orixás e as xilogravuras da série Barroca. Na série Bolívia, ela retrata o povo simples, à beira das sarjetas. Nos anos 1960, outros temas se destacam – O homem e as profissões e O homem e a máquina. Na série Carnaval, dos anos 1980, uma alegria desesperada quase toca o seu oposto. Marina Caram vira do avesso as aparências, as injustiças sociais, a hipocrisia, fazendo uma representação visceral da alma humana. Em mais de cinqüenta anos de atividade, ela se mantém fiel à sua obstinada militância pelos valores humanos mais elevados. Afinal, a arte é, para ela, a necessária expressão de uma verdade interior, e isso não é uma opção, é o seu destino.
Texto: Vera d’Horta
Fotografia das obras: Vera Albuquerque