Lasar Segall e Otto Dix: diálogos gráficos
18/05 a 21/07/2002
A exposição de gravuras do artista expressionista Otto Dix (1891-1969), organizada pelo Institut für Auslandsbeziehungen – IFA (Instituto de Relações Culturais com o Exterior), de Stuttgart, vem percorrendo diversos países desde 1993. A mostra chegou ao Brasil em março de 2002, sob auspícios do Instituto Goethe, tendo sido sua primeira apresentação no Paço Imperial, no Rio de Janeiro.
A possibilidade da vinda dessa exposição a São Paulo criou a oportunidade de um instigante confronto desses trabalhos com a obra de Lasar Segall (1889-1957). Os dois artistas – criadores com poéticas pessoais bastante distintas, mas que permitem comparações estimulantes – foram companheiros na cidade alemã de Dresden, logo após a Primeira Guerra Mundial, e continuaram mantendo contato epistolar ao longo da década de 1920, inclusive após a vinda de Segall para o Brasil, em 1923.
Vários pintores expressionistas tiveram participação ativa no front de guerra entre 1914 e 1918, movidos por uma visão pessimista, sem perspectiva de mudança da realidade histórica em que viviam. Os que sobreviveram ao combate retornaram aos seus locais de origem profundamente sensibilizados com a vivência dos horrores da guerra e descrentes dos valores estabelecidos. Esse foi o caso de Otto Dix, que alistou-se no exército alemão em 1914 como voluntário, tendo combatido nas frentes da França, Rússia e Flandres até seu desligamento, quatro anos depois. Segall passou parte da guerra confinado na cidade de Meissen, juntamente com seus compatriotas russos, seguindo o procedimento determinado para os cidadãos estrangeiros. Ambos tiveram a experiência da guerra de diferentes pontos de vista, mas igualmente sofreram suas agruras e privações.
A violência e crueldade da guerra afetou a todos, combatentes ou não. Seres humanos mutilados e edifícios em ruínas atualizavam as atrocidades do passado recente e definiam padrões de leitura da história, do universo interior de cada um e da sociedade. Ao retornar às suas atividades, os artistas buscavam exorcizar os horrores vividos e alertar as consciências. Dix e Segall conheceram-se logo após o término da guerra e, juntos, integraram o grupo fundador da Secessão de Dresden, Grupo 1919.
A exposição da obra gráfica de Otto Dix, organizada pelo IFA, é formada por dois conjuntos de trabalhos. Um deles contendo 50 gravuras em metal, publicadas em 1924 em 5 álbuns com o título Der Krieg (A Guerra) – apresenta o testemunho pessoal do artista sobre sua pungente experiência como soldado. O outro é composto por 35 gravuras avulsas produzidas entre 1920 e 1924, que exemplificam a crítica social tão acirrada em seu trabalho desse período.
A partir desses agrupamentos temáticos foram organizadas as mostras nas duas instituições museológicas paulistanas. No Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado – MAB-FAAP, realiza-se a mostra Otto Dix e Lasar Segall: Imagens da Guerra e no Museu Lasar Segall apresenta-se a exposição Lasar Segall e Otto Dix: Diálogos Gráficos.
A exposição do MAB-FAAP coloca lado a lado a interpretação que os dois artistas fizeram do tema da guerra. Não foi o acaso que determinou que Dix escolhesse a gravura em metal como maneira de dar forma às impressões que a guerra havia lhe deixado. O metal cortado e corroído pelo ácido lhe permitiam, nos anos 20, maior veemência na gravação das imagens que sua memória registrara anos antes, no palco da guerra. As cinqüenta gravuras de Otto Dix expostas, que relatam aspectos da Primeira Guerra Mundial, poderão ser comparadas com as setenta aquarelas contidas na álbum Visões de Guerra 1940-1943, de Lasar Segall, que está sendo apresentada em conjunto e de forma completa pela primeira vez. A transparência característica da aquarela e as cores em tons terrosos foram os meios escolhidos por Segall para conformar, aqui em São Paulo, cenas que traduzem sua compreensão do drama humano e sua solidariedade aos que sofriam as dificuldades impostas pela Segunda Guerra Mundial, na Europa.
Por outro lado, a mostra organizada pelo Museu Lasar Segall tem como foco a crítica social na obra dos dois artistas e compreende dois conjuntos de 35 gravuras de cada um, além de um álbum editado pela Secessão de Dresden, Grupo 1919 e de exemplares da correspondência que trocaram no período 1921-1927. Destaca-se, nas setenta gravuras em exibição, a enfática visão subjetiva de cada artista, ao abordarem temas de crítica social. A linguagem formal utilizada por ambos, no entanto, explicita a filiação aos ideais expressionistas que compartilhavam. Na obra exposta dos dois artistas há coincidência de temas abordados, principalmente os que se referem aos personagens da cena urbana, tais como mendigos, marinheiros e prostitutas, mas tratados de acordo com as particularidades de cada um – nessas imagens estão impressos o comentário ácido de Otto Dix e a angústia silenciosa de Lasar Segall.
A exposição conta com catálogo ilustrado e material didático, disponíveis na recepção do Museu.
Patrocínio
Museu de Arte Brasileira – FAAP
Apoio
Associação Cultural de Amigos do Museu Lasar Segall
Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura do Município de São Paulo
Instituto Goethe São Paulo
IFA