Hilde Weber: lápis de malícia lírica
14/04 a 21/10/2007
O Museu Lasar Segall exibe, entre 14 de abril e 24 de junho de 2007, em sua sala de exposições temporárias, a mostra Hilde Weber: Lápis de Malícia Lírica. Para esta retrospectiva da artista, cujo trabalho não era exibido ao público há mais de 13 anos, a curadora, profª. Maria Augusta Fonseca, livre-docente em Teoria Literária pela Universidade de São Paulo, selecionou cerca de 70 obras que colocam em evidência o desenho de Hilde, diversas vezes premiado. Também têm destaque, nesta mostra do Museu Lasar Segall, as charges publicadas na imprensa brasileira e que tornaram Hilde conhecida do grande público, além das outras linguagens que explorou: pintura, inclusive pintura sobre azulejos, gravura e ilustração.
Hilde Weber: Lápis de Malícia Lírica
A notável concisão crítica de Rubem Braga – “lápis de malícia lírica” – com a qual pinçou a sensível e inquieta força poética do desenho de Hilde Weber, serve de divisa para esta retrospectiva da artista. Esta exposição é significativa porque extrai do legado moderno de Hilde uma grande variedade de obras e é pioneira porque reúne alguns de seus mais relevantes trabalhos no campo das artes plásticas e gráficas, perfazendo um arco temporal abrangente no curso do século XX.
A artista nasceu na Alemanha em 1913, começou a trabalhar na década de 20, e seguiu produzindo até as vésperas de sua morte na cidade de São Paulo, em 1994. Marcada por sólida formação, a arte de Hilde distingue-se pela diversidade técnica, variação temática e experimentação de vanguarda, resultando numa dinâmica em nada trivial. Assim funde sensibilidade, rigor do traço, subjetividade lírica e consciência crítica – que é misto de ironia e de humor irreverente. Ainda estudante em Hamburgo, Hilde experimentou várias técnicas em desenhos de figuração autônoma, em ilustrações para jornais e revistas, e para um livro infantil. Suas obras de maior envergadura, porém, respondem por sessenta anos de atividade profissional no Brasil, onde aportou em 1933. Várias delas figuraram nas Bienais de São Paulo, onde foram premiadas. Há também, nesta exposição, um número representativo de charges que consagraram a desenhista no cotidiano da imprensa brasileira, além de xilogravuras, desenhos-reportagem, contidos em instantâneos que recolheu dos espetáculos teatrais, ilustrações e pinturas – do óleo sobre papelão à difícil arte da azulejaria.
Este panorama, que dá visibilidade a Hilde Weber no átrio do século XXI, apresenta-se ao observador como um convite que contempla e ultrapassa a fruição sensível. É que seu desenho, de força enigmática e de caráter questionador, concentra, nas linhas tensas e nos traços inacabados, imperativos universais da arte, traduzidos por um intrincado complexo de sinais particulares.
Por Maria Augusta Fonseca
Curadora
Hilde Weber nasceu em 1913, na cidade de Waldau, na Alemanha. Freqüentou escolas de Artes Gráficas em Hamburgo e Altona. Com 17 anos, começa a desenhar para os jornais Hamburger Anzeiger e Hamburger Fremdenblatt. Em 1933, veio para o Brasil com o objetivo de reencontrar o pai, que se mudou para o País após o fim da Primeira Guerra Mundial. Na década de 40, Hilde participou de grupos de artistas e intelectuais com Mário Pedrosa, Sérgio Milliet, Alfredo Volpi, Livio Abramo, Zanini, Rebolo e Lasar Segall. No Palacete Santa Helena produziu parte de suas pinturas, enquanto na Osirarte – ateliê de pintura sobre azulejos de Paulo Rossi Osir -, realizou trabalhos para os painéis de Portinari, bem como azulejos individuais, com temas extraídos do folclore brasileiro. Na década de 50, Hilde naturalizou-se brasileira e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como chargista na Tribuna da Imprensa. Ficou por lá até 1962, quando o veículo encerrou suas atividades. De volta a São Paulo, foi contratada pelo jornal O Estado de S. Paulo, onde permaneceu até depois de se aposentar. Seus últimos trabalhos datam de 1992. Hilde Weber faleceu em dezembro de 1994, na cidade de São Paulo.
Módulo na exposição de longa-duração
Lasar Segall: Traços de Humor – Durante a exposição de Hilde Weber, a mostra permanente de obras de Lasar Segall terá um módulo paralelo, com cerca de 30 trabalhos do artista – entre desenhos, gravuras, aquarelas e guaches. A característica mais marcante dessa série é o surpreendente “humour” com que Segall observou uma variedade de tipos humanos, produzindo registros instantâneos em pequenos cadernos de anotação. Em algumas obras, como na gravura Primeira classe, de 1929, estão retratados os viajantes da primeira classe dos navios, contraponto aos emigrantes que lotavam a terceira classe. Há também a decoração do Baile Futurista do Automóvel Clube, em 1924; figurinos e alegorias para os dois Bailes de Carnaval da SPAM (Sociedade pró Arte Moderna), realizados em 1933 e 1934; e uma série de desenhos de bichos, da década de 30.