Gisela Eichbaum: trabalhos sobre papel 1958 – 1976
15/02 a 16/03 de 2020
Nascida em Mannheim (Alemanha) em junho de 1920, no seio de uma tradicional família de músicos, Gisela Eichbaum foi no Brasil importante expoente daquilo que se convencionou chamar de abstracionismo lírico. Tomando a intuição e o inconsciente como pontos de partida para a substancialização de uma expressão individual, ela produziu ao longo de mais de meio século um corpo de obra notável pela consistência e sinceridade de sua linguagem.
Gisela Eichbaum chegou ao Brasil em 1935, fugindo dos nazistas e da perseguição aos judeus, então assumida pelo Nacional Socialismo. Já residente em São Paulo com seus pais, que rapidamente se estabeleceram como importantes atores da cena cultural paulistana e conhecidos professores de piano, Gisela daria aulas de música. Certo dia caiu doente e por conta de sua recuperação teve de ficar imobilizada por longo tempo na cama, em que desenhava sobre um caderno de notas para passar o tempo.
Posteriormente, em 1942, daria início aos seus estudos artísticos. Foi aluna de Yolanda Mohalyi, Karl Plattner e Samson Flexor, integrando brevemente o Ateliê-Abstração no qual entrou em contato com a proposta de Flexor de uma “ordenação calculada de formas e cores”. Ao longo dos anos seguintes, sua carreira se estabeleceria, com mostras em importantes espaços culturais e galerias, participações em exposições coletivas e premiações.
A presente mostra busca sublinhar a centralidade do papel como suporte na obra de Eichbaum, e também sua preferência por pequenos formatos. Ela foi uma artista que soube como poucos trabalhar o campo do desenho, ao qual se dedicou com especial afinco, juntamente com o problema da cor, alimentando seu trabalho com um universo cromático particular e que o escritor e crítico de arte Geraldo Ferraz chamou de “luminoso sóbrio”. O espaço temporal tratado, por sua vez, explicita a passagem de Gisela de uma figuração expressionista emblemática, da década de 1950, para a abstração lírica, com poucos exemplares das obras mais conhecidas de sua produção, tal como ocorreu com as realizações posteriores à década de 1980.
O conjunto de papéis ora apresentado evidencia um trabalho constante e diligente, de uma artista rigorosa, sofisticada e exigente, que fez uso de sua obra para lidar com as angústias do mundo imediatamente anterior e posterior à Segunda Guerra Mundial, revelando-nos as profundas trincheiras deixadas na consciência de artistas que, como ela, tiveram de se refugiar em paragens distantes de seus países de origem e lidaram com a experiência da perda de um mundo e a inquietude engendrada pelo encontro de um novo.