Frontalismo – Facundo de Zuviría
28/11/2015 a 07/03/2016
Frontalismo é a segunda exposição individual que o fotógrafo argentino Facundo de Zuviría apresenta no Museu Lasar Segall. A primeira, realizada no jardim do Museu por ocasião da Copa do Mundo (2014), faz parte da série dedicada ao time Boca Juniors e ao bairro da Boca, com o título Cada vez te quiero más.
A obra de Facundo de Zuviría ancora-se na tradição da fotografia argentina, em que o olhar urbano está em um primeiro momento associado à visão vanguardista de Horacio Coppola, cujas obras também tivemos a oportunidade de expor em 2010, em uma mostra comparativa com Hildegard Rosenthal.
Dos dois livros dedicados à cidade de Buenos Aires, o primeiro é de autoria individual, Estampas porteñas (1996), e o segundo, a quatro mãos com o próprio Horacio Coppola, Buenos Aires (2012). Como afirmara Adrián Gorelik, “Zuviría é provavelmente o fotógrafo mais coppoliano de Buenos Aires”.
Frontalismo é uma série fotográfica, considerada agora definitiva, e que foi parcialmente publicada no livro de artista Siesta argentina (2003). Nela, o olhar sobre Buenos Aires se radicaliza em todos os sentidos. O clima melancólico das persianas fechadas e também abertas reflete a maior das crises econômicas sofridas na Argentina em 2001, e que ficou conhecida como corralito. Daí, uma Buenos Aires sombria, com o comércio fechado ou semiaberto. As glamorosas vitrines com manequins se convertem agora em fragmentos de uma crise. As persianas grafitadas revelam vozes abafadas, gritos parados no ar.
O que há de notável nesta série é um radical formalismo estético aliado ao discurso ideológico que inspira as fotos. O caráter serial da geometria sucessiva pode nos levar a pensar, de imediato, em Josef Albers, ou até mesmo em remeter às remotas geometrias das culturas pré-hispânicas de Cusco, que inspiraram a geometria ortogonal de Joaquín Torres-García. Nas palavras de Gilles Deleuze, “se a repetição existe, expressa ao mesmo tempo uma singularidade contra o geral, uma universalidade contra o particular, um elemento notável contra o ordinário, uma instantaneidade contra a variação, uma eternidade contra a permanência” (Différence et répétition, 1968). Encontrada no desenho da natureza, do micro ao macrocosmo, é também traço estilístico característico em Andy Warhol, em que a saturação das imagens pop se converte em crítica à reificação da sociedade de consumo. Em última instância, a repetição, em Freud, revela pulsão de morte.
Com esta exposição de Facundo de Zuviría, estamos encerrando um ano de atividades do Museu Lasar Segall, que permaneceu fechado durante dezoito meses para reformas de caráter estrutural.
Jorge Schwartz
Marcelo Monzani