Fayga Ostrower ilustradora
12/11/2011 a 04/03/2012
A ideia dessa exposição surgiu de duas constatações: o diálogo entre a letra e a figura é tão antigo quanto o livro; e a obra de Fayga está entre as mais altas realizações da arte brasileira do século XX. Mostramos, assim, uma faceta bem pouco conhecida da artista: a de ilustradora.
Na complexa trama desses trabalhos, podem-se distinguir três conjuntos: o primeiro é estritamente figurativo, constituído de gravuras em linóleo, cujas imagens surgem apenas da cor preta sobre o papel; o segundo caracteriza-se pela passagem da figuração para a abstração, com linhas negras estruturando volumes e ritmos sobre a superfície branca; no terceiro conjunto, a linguagem é já a do abstracionismo, e é também aí que surgem as cores.
Mas o olhar atento enxergará mais que isso. Poderá perceber que a minúcia realista do primeiro conjunto deixa ver, aqui e ali, linhas e volumes em composições quase abstratas, ou ainda que nas representações de O cortiço e de Fontamara vibra algo de biográfico: uma sensibilidade marcada pela fuga dos pogroms, bem como pela vida pobre num Brasil não muito diverso daquele retratado por Aluísio Azevedo na segunda metade do século XIX ou do mundo rural, estacionário e opressivo, criado por Ignazio Silone para falar da Itália sob o regime fascista. No segundo conjunto, o mesmo olhar deverá colocar-se diante de uma realização em si mesma e encontrará mais que a passagem de uma linguagem a outra. No terceiro, notará que as cores despontam sóbrias em xilogravuras e, mais tarde, explodirão vibrantes com outra técnica, a serigrafia, e que a abstração deixa ver elementos figurativos.
Fayga esteve, desde sempre, voltada para técnicas de origem artesanal — e, nisso, gravar não se diferencia de pintar ou esculpir —, mas também para os meios de produção capazes de gerar imagens multiplicáveis; daí sua fidelidade à gravura, com breves passagens pelo desenho e pela aquarela. E, em tudo, fidelidade a si mesma.
Eucanaã Ferraz
curador