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Seminário em Recife debate museus comunitários e movimentos sociais
Debater como os museus viraram instrumentos de libertação na linguagem e nas práticas dos movimentos sociais: este foi o chamado do Seminário “Acervos de Museus Comunitários e Movimentos Sociais: Territórios, Patrimônios e Memórias Insurgentes”, que aconteceu nos dias 15 e 16 de junho no Centro de Filosofia e Ciências Humanas/CFCH e da Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco/UFPE, em Recife (PE).
O evento foi uma realização da Escola Livre de Museologia Política/PE em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade/NEPE (PPGA/UFPE). Coordenado pelo historiador e antropólogo Alexandre Gomes (pesquisador associado ao NEPE/UFPE), o evento aprofundou um debate público sobre a demanda crescente entre diferentes populações, grupos, povos e movimentos étnicos e sociais que desenvolvem práticas de autogestão de seus acervos, buscam formar seus próprios museus e desenvolver projetos autônomos a partir de suas memórias sociais.
O encontro marcou o lançamento do projeto cultural “Pesquisa Participativa e Mapeamento Colaborativo de Acervos de Museus Comunitários & Movimentos Sociais: Territórios, Patrimônios e Memórias Zona da Mata de Pernambuco”, realizado com o incentivo da SECULT/PE, voltado a uma pesquisa colaborativa para a identificação e catalogação de acervos de museus comunitários e movimentos sociais que desenvolvem projetos de memória e patrimônio associados às lutas por direitos sociais na região da Zona da Mata de Pernambuco.
Na ocasião, foram realizadas conferências, sessões de debates e o pré-lançamento de obras. Participaram do evento camponeses, indígenas, babalorixás, líderes comunitários, educadores sociais, assentados, gestores de ONGs, indigenistas, ciganos, ativistas do movimento negro e líderes de grupos de Cultura Popular, que ressaltaram os desafios da autogestão de acervos e memórias a partir das perspectivas dos movimentos étnicos e sociais.
Os destaques do evento foram os relatos marcantes de diferentes experiências museológicas pernambucanas de base comunitária, como o Museu das Tradições do Cavalo Marinho (MTCV) (comunidade Chã de Esconso, município de Aliança) e o Memorial das Ligas Camponesas Francisco Julião (Assentamento Galiléia, município de Vitória de Santo Antão).
Dentre as temáticas abordadas ao longo das sessões, destaque para a defesa dos direitos dos povos indígenas, a luta contra o preconceito por parte dos grupos afrorreligiosos e povos de terreiros; e a história dos movimentos dos trabalhadores rurais e do campesinato no Brasil. Em comum entre as várias experiências compartilhadas, destacou-se a relação dos projetos de memória com as mobilizações por uma variedade de direitos sociais, como reconhecimento étnico, acesso à territórios, à saúde, à memória, à educação de qualidade.
Os participantes debateram a rearticulação do setor museológico brasileiro, com ênfase no papel e nos desafios das iniciativas de museologia comunitária e das redes de memória, patrimônio e museologia social. O protagonismo de diferentes movimentos sociais na autogestão de seus patrimônios culturais foi conhecido através da apresentação de mais de 15 experiências diversificadas, que evidenciaram diferentes concepções de acervos e suas especificidades.
Os acervos abordados no seminário foram formados através de mobilizações de movimentos sociais, como testemunhos das trajetórias de indivíduos e coletividades que reuniram coleções e conjuntos de objetos, imagéticos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, sonoros e/ou audiovisuais, materiais e imateriais, culturais e ambientais, entre tantos outros, que são a expressão da vitalidade de projetos políticos em prol das transformações sociais.
Um dos debatedores convidados do evento foi o museólogo e professor Mário Chagas, diretor do Museu da República/Ibram. Chagas proferiu a conferência de encerramento do seminário, "Lutas Sociais, Memória e Novas Perspectivas para a Autogestão de Acervos de Museus Comunitários e de Movimentos Sociais no Brasil". Fundador do Ibram e idealizador da Política Nacional de Museus, Chagas compõe a equipe técnica como consultor do projeto “Pesquisa Participativa e Mapeamento Colaborativo de Acervos de Museus Comunitários & Movimentos Sociais: Territórios, Patrimônios e Memórias na Zona da Mata de Pernambuco”, responsável pela realização do seminário.
De acordo com a organização do Seminário “Acervos de Museus Comunitários e Movimentos Sociais: Territórios, Patrimônios e Memórias Insurgentes”, o evento passará a ser periódico e será realizada em breve sua primeira edição virtual.