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Angelo Oswaldo escreve artigo sobre a Primavera dos Museus
Primavera afro-brasileira
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Cartas e manifestos consagram o conceito que reconhece a diversidade cultural – fonte de intercâmbio, inovação e criatividade – como sendo tão necessária para o gênero humano quanto a biodiversidade para a ordem da vida. No nosso contexto cultural, as vertentes de origem africana são veios ricos que alimentaram e abastecem as mais variadas manifestações, contribuindo, intensamente, tanto para a originalidade da expressão brasileira, quanto para a permanência de uma identidade que evolui com o tempo.
Nenhum espaço mais adequado que os museus para um contato direto com a multiplicidade opulenta e surpreendente das criações que trazem os signos afro-brasileiros, da poesia às artes plástico-visuais, da dança ao teatro, do cinema à gastronomia, da oralidade aos altos estudos, nas trilhas da memória à história. Ao escolher o tema da sétima edição anual da Primavera de Museus – Museus. Memória e Cultura Afro-brasileira – o Ibram quis enfatizar os valores da diversidade e o vigor da cultura afro-brasileira.
Celebramos também o quarto de século completado pela Fundação Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura. Preocupada com a igualdade racial e a valorização da matriz africana, foi o primeiro órgão federal criado para preservar e promover a cultura negra. Nestes 25 anos, a Palmares fortaleceu e fomentou as mais diversificadas iniciativas que balizam as políticas públicas reivindicadas pelos movimentos dos afro-descendentes.
As respostas ao chamado são empolgantes, como se verá até o final deste mês. Os museus se afirmam como admiráveis produtores, razão pela qual quase 3 mil eventos se realizam em cerca de mil instituições, nos 27 Estados e em 460 cidades. Traduzem o empenho com que as equipes conseguiram organizá-los, de modo inventivo e cativante. No Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, por exemplo, as palavras de origem africana estarão em destaque. Nas visitas guiadas, o público vai identificar e decifrar uma infinidade delas. Em Recife, o Museu da Abolição, por sobre o solar aristocrático do Império, é o ponto de convergência dos movimentos pernambucanos de afro-brasilidade.
O “Xirê das Pretas”, no Museu Casa do Benin, no Pelourinho de Salvador, marca a presença forte das mulheres nas ações da Primavera de 2013. São Benedito, o santo negro, é focalizado no Museu de Arte Sacra João Paulo II, em Pelotas, e o embaixador Alberto da Costa e Silva, notável estudioso dos temas da África, faz palestra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. Entre os participantes, inscrevem-se também o Museu do Artesanato do Mato Grosso, em Cuiabá, e o Museu Amazônico, em Manaus.
O Museu do Taquaril, ponto de memória em Belo Horizonte, expõe fotos de moradores da comunidade. Em Ouro Preto, o Museu Casa Guignard focaliza personagens negras em desenhos e pinturas do mestre, enquanto o Inconfidência tem exibição de filmes, palestras e mostras. O Museu do Oratório conta história para crianças e jovens. Em São João del Rei, Caeté, Sabará, Serro e Diamantina, os museus do Ibram da mesma forma se integram ao grande evento.
O dia internacional dos museus, 18 de maio, enseja a promoção da Semana Nacional, que igualmente provoca ações em todo o País. Assim, duas vezes ao ano, o Ibram articula essa projeção das atividades museológicas na agenda cultural brasileira, sempre obtendo êxito nos resultados. A Primavera dos Museus promete belas flores e bons frutos para todos. Consulte WWW.museus.gov.br e conheça a esplêndida agenda dos eventos.
Angelo Oswaldo de Araújo Santos é presidente do Instituto Brasileiro de Museus, Ibram