Exposição Correios
Exposição virtual
Selos postais: a construção das celebrações da arte moderna
Apresentação
Ao longo do tempo, os selos postais cumpriram o papel de mídia do Estado, sendo utilizados para reforçar o entendimento do que, em determinadas épocas, se entendia por nação brasileira. Assim, desde os anos 1900, quando foram lançados os primeiros selos comemorativos do Brasil, acerca dos 400 anos do então chamado descobrimento, percebemos esta tentativa de ressaltar as efemérides, personalidades, aspectos culturais considerados os mais típicos de uma determinada visão de “brasilidade”. Os selos postais, portanto, ao celebrarem datas, pessoas, artistas e regiões, ajudam a inventar um país que, do ponto de vista estatal, ao longo do século XIX e boa parte do XX, deveria estar ligado por sentimentos nacionais comuns. Os selos postais que divulgam certos artistas e suas obras, colocados como a síntese de uma “arte brasileira” estão ligados a esta conjuntura. Contudo, que esta unidade pode ser questionada diante de um país extremamente diverso e permeado historicamente por situações de desigualdade.
Algumas emissões filatélicas tentam trazer à tona o recorte da Arte Moderna e do modernismo no Brasil e acabam por construir um memorial dos artistas representativos de uma visão específica de nação. Exemplo disso são os selos em comemoração a marcos eleitos em certos períodos da história como importantes, a exemplo do centenário de Villa-Lobos, de Oswald de Andrade e de Mário de Andrade. No mesmo sentido podemos entender o bloco postal que comemorou o Cinquentenário da Semana de Arte Moderna em 1972.
Neste ano de 2022, o centenário da Semana de Arte Moderna, anteriormente entendido como o evento basilar do início do modernismo no Brasil, vem acompanhado de uma série de reflexões acerca da importância e dos limites deste acontecimento. As investigações a respeito do tema demonstram como o advento dos modernismos não se inicia em 1922, tampouco tem São Paulo como seu epicentro. Além disso, atualmente diversos artistas e intelectuais negros e indígenas tentam, a partir da ideia proposta pelo modernismo de representação popular, reivindicar o espaço de representação artística que, durante a Semana, não lhes era oportunizado. O projeto paulista de arte moderna possui limites, na medida em que sua visão de arte e cultura popular vinha da elite das quais os artistas da Semana faziam parte.
As celebrações do centenário da Semana devem ter essas questões em conta. Nesse sentido, os selos postais também devem atualizar-se e tentar cumprir o desafio de representar o Brasil enquanto um espaço diverso e impermanente, permeado por identidades múltiplas e com diferentes níveis de acesso ao poder social e simbólico. A emissão “Centenário da Semana de Arte Moderna” é um esforço, feito em conjunto com os Correios, o IBRAM e a Casa da Moeda, de repensar os símbolos criados em 1922 e como eles podem ser relidos e atualizados no tempo presente. Contudo, ao homenagear os principais artistas participantes da semana, não questionam o seu legado, construído e lapidado ao longo do tempo e que está claramente vivo no imaginário dos artistas responsáveis pelos selos. Afinal, toda arte é imaginada e executada de acordo com o lugar social de quem a produz.
Esta exposição virtual tem o intuito de colocar o visitante em contato com os principais selos sobre modernismo. Busca-se, portanto, que o expectador compreenda como a memória da celebração da Semana de Arte Moderna e do modernismo foi e continua sendo construída pelos selos postais.