Acervo - Portinari
Sobre o autor
Candido Portinari, pintor nascido em Brodósqui, São Paulo, recebeu formação artística acadêmica na Escola Nacional de Belas Artes, que lhe conferiu o grande prêmio de viagem à Europa em 1928. No retorno ao Brasil, na década de 1930, viria a se firmar como o primeiro grande pintor moderno nacional. Esta reputação, tecida com o apoio da crítica de arte do período, especialmente de Mario de Andrade, tomaria impulso com o prêmio de menção honrosa recebido do Instituto Carnegie de Pisttsburg, EUA, vindo a consolidar-se, definitivamente, a partir de 1936, com o convite para a realização dos murais para o Palácio Capanema, edifício moderno, sede do Ministério da Educação. Ao longo dos anos 1940-50, a carreira de Portinari se desenvolveu no exterior com exposições nos EUA, França, Argentina, Uruguai, Israel e México e obras presentes em algumas coleções particulares expressivas e em museus internacionais.
O pintor tentava reciclar em uma notação pessoal à notória influência da arte praticada nos centros hegemônicos – sobretudo de Pablo Picasso – o que lhe granjeou uma reputação de ter elevado a expressão da arte latina a um nível compatível ao europeu. Pela primeira vez na história um artista brasileiro alcançava certo grau de notoriedade internacional.
Um questionamento a essa postura consagradora começaria a aflorar a partir de finais da década de 1940 transformando os entusiastas e os críticos de Portinari em sujeitos antagônicos em uma batalha, travada na imprensa especializada, entre portinaristas e antiportinaristas. De qualquer modo, levando-se em conta uma perspectiva histórica, é indubitável que a estatura artística do pintor alcançou em sua época tão elevado patamar que se torna difícil ignorar o papel desempenhado por Portinari na afirmação da arte moderna no Brasil.
Sobre a obra
Castro Maya foi mecenas e amigo dos artistas brasileiros de seu tempo, especialmente, Candido Portinari, com quem desenvolveu muitos projetos desde a década de 1940 até a morte do artista. Deste relacionamento de vinte anos resultou a acumulação de 168 originais, entre pinturas, desenhos, gravuras e ilustrações de livros. O fluxo de aquisição, iniciado nos anos 1940, não cessou nem mesmo com a morte do pintor, sendo que a ênfase concentrou-se em obras dos anos 1940. O Sapateiro foi a última tela de Portinari a entrar na coleção Castro Maya, comprada em 1967 da irmã do artista, Inês, que havia recebido a obra como presente de casamento. Ela faz parte de um conjunto de obras produzidas pelo pintor durante uma estada em sua cidade natal no ano de 1941.
Portinari notabilizou-se principalmente pela criação de uma iconografia baseada no trabalhador brasileiro, tipos populares e crítica social – notadamente as figuras de retirantes trabalhadores do café, habitantes de favelas cariocas e do interior paulista – e também pelos painéis e murais históricos. A conciliação de uma forma universal, de raiz clássica, com uma fundo especificamente brasileiro passava pela temática ligada ao drama humano, realçado pelas deformações próprias da nova linguagens.
Consequentemente, o personagem do Sapateiro é fruto tanto da necessidade de desenvolver uma constante experimentação plástica, quanto do desejo de representar um trabalhador anônimo e sofrido. A deformação do corpo colabora para enfatizar a as ações desempenhadas no ato do trabalho, enquanto a torção da cabeça e a expressão do menino evocam um estado de espírito de tristeza, a chamar a atenção para o quanto o trabalho rouba da felicidade da infância e juventude.