Acervo Brecheret
Vitor Brecheret teve um papel importante na Semana de Arte Moderna de 22, considerada o marco da arte moderna brasileira. Ressalte-se a sua importância como precursor desse movimento, polarizador que era do grupo dos futuristas. A sólida formação recebida na Itália e a aclamação da crítica daquele país sobre sua obra, apresentada em exposições nos anos de 1919 e 1921, foram credenciais para que Brecheret se transformasse em um trunfo na bandeira de luta dos modernistas. Assim é que, mesmo ausente do país - estava em Paris desde julho de 1921-, foi uma presença marcante no evento, o conjunto de suas obras causando grande impacto no saguão do Teatro Municipal paulista, onde aconteceu a famosa exposição.
A historiadora da arte Daisy Peccinini assinala que “o catálogo da exposição de artes plásticas da Semana de Arte Moderna, elaborado por Emiliano Dei Cavalcanti, é indicativo do protagonismo do escultor Victor Brecheret na realização do explosivo evento. A lista de obras de escultura é encabeçada por doze obras do artista, formando um conjunto de marcante presença...”.
Segundo o escritor José de Nicola, as obras do Brecheret, em termos de artes plásticas, foi o nome que encantou todos os participantes da Semana. “O pessoal se deparava com coisas nunca vistas em termos de arte. As esculturas do Brecheret eram uma proposta totalmente diferente do que se conhecia”, diz ele.
Nascido Vittorio Breheret na cidade de Farnese, Itália, veio para o Brasil com a família aos 10 anos de idade, onde adotou o nome Victor Brecheret. Aos 30 anos, confirmou sua nacionalidade brasileira. Seu talento levou a família a matriculá-lo no Liceu de Artes e Ofícios e com apenas 16 anos ganha da família uma viagem de estudos à Europa, que durou 5 anos.
De volta a São Paulo, conhece Di Cavalcanti, Helios Seelinger, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, os quais, admirados de suas obras, convidam o todo-poderoso Monteiro Lobato (1882-1948) para ver suas obras. Monteiro publicou na Revista do Brasil duas esculturas de Brecheret, ressaltando a juventude do artista, então com 22 anos. “Honesto, fisicamente sólido, moralmente emperrado na convicção de que o artista moderno não pode ser um mero “ecletizador” de formas revelhas e há de criar arrancando-se do autoritarismo clássico, Brecheret apresenta-nos como a mais séria manifestação do gênio escultural surgida entre nós.”
A obra “Portadora de Perfume”, que faz parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes, revela um dos temas preferidos da Belle Époque parisiense, um período alegre e próspero da chique e luxuosa Paris de compreendido entre os idos de 1880 até o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. A Cidade Luz era considerada o centro produtor e exportador da cultura mundial, conhecida também como Madeleine au Parfum. Nessa época, até alimentos como a madeleine - espécie de bolinho - eram servidos com agradáveis fragrâncias. Assim, a escultura remete a uma portadora de perfume, emblemática mulher sempre pronta a atender os desejos de vaidade de um período em que poucos imaginavam a tragédia que o mundo presenciaria - Primeira Grande Guerra, em 1914.
Peccinini ressalta ainda que a temática feminina sempre esteve presente na obra de Brecheret, em variados materiais e dimensões diversas, originadas da impressão visual e tátil que o artista tinha dos corpos femininos.
Os volumes arredondados, roliços e ovoides, os polimentos dessas esculturas, nos remete a uma geometria sensível e delicada que já víramos prenunciada em Modigliani e fundamentada por Brâncusi, a quem Brecheret muito admirava. Despidas de grandes ornamentos, a pujança de suas formas se impõe naturalmente ao olhar do espectador, penetrando-lhe a emoção e trazendo ao lado do prazer estético um quê de mistério que só as grandes obras possuem. Talvez por isso Menotti del Picchia tenha celebrado o amigo ao dizer que ele pertence “à falange das individualidades impressionantes”.
Referências
www.artcanal.com.br/oscardambrosio/victorbrecheret.htm
Victor Brecheret e a Semana de Arte Moderna de 1922. Catálogo da mostra. São Paulo, Pinakotheke, 2022