Acervo - Alberto Guignard
Sobre o autor
Nascido no Brasil, Guignard passou os anos formadores de sua vida (dos 10 aos 33 anos) na Europa. Lá obteve uma rigorosa capacitação profissional na Real Academia de Belas Artes de Munique, onde estudou pintura e desenho, e uma sólida cultura artística, na vivência dos principais museus europeus e no contato com o circuito artístico contemporâneo. Portanto, é como artista tecnicamente completo que ele retorna definitivamente ao Brasil, em 1929, onde sua arte tomaria uma feição profundamente pessoal.
As luzes e cores brasileiras penetram em sua obra. A aproximação com o Brasil ocorre, de início, através da natureza tropical que eles pinta no Jardim Botânico carioca, mas sua obra poética e lírica busca também a cultura local. Paisagem, retrato e autorretrato, flores, natureza morta, cena religiosa, todos são carros-chefes em sua obra.
Em 1944, a convite do prefeito Juscelino Kubitschek, muda-se para Belo Horizonte para organizar e dirigir um curso de artes. Lecionando no Instituto de Belas Artes, revela-se um excelente professor e por lá passam alunos com Amílcar de Castro, Farnese de Andrade, Mary Vieira, Inimá de Paula etc. A paisagem, a arquitetura, as festas e a gente das cidades históricas mineiras se tornam, então, uma das mais importantes temáticas e as “paisagens imaginantes”, que povoam seu trabalho a partir de meados dos anos 1940, são consideradas por muitos o ápice de sua obra.
O reconhecimento que obteve através, por exemplo, da premiação no XLVI Salão Nacional de Belas Artes em 1940, a participação em Bienais de São Paulo e Veneza no anos de 1950, as exposições retrospectivas ainda em vida, são marcos do importante papel desempenhado pela obra de Guignard e por sua atividade docente para a afirmação da arte moderna no Brasil, apesar de não ter alcançado, na época, popularidade e sucesso comercial comparável a Portinari.
Sobre a obra
O quadro faz parte de um conjunto temático – a família, e principalmente, a família da camadas populares – que começou a figurar no universo pictórico de Guignard a partir dos anos 1930. Pertencendo anteriormente à coleção Correa de Araújo, a tela exemplifica, de certa forma, alguns dos postulados do modernismo brasileiro, ambicioso em seu projeto de representação da vida nacional e afirmação dos traços específicos de nossa cultura. Nela, uma linguagem formal mais moderna, onde a fluidez da cor e do padrão decorativo se aproximam da inspiração Matissiana, apresenta a temática de elementos construtores de um retrato da nacionalidade que destaca a cultura popular na figura do casal oriundo dos extratos mais baixos da sociedade e no cômodo de cores fortes, bandeira brasileira e símbolos de religiosidade popular.
Em Guignard, os negros ocupam um lugar antes impensado. Durante a vigência da escravidão e mesmo depois, sua imagem não era considerada na arte da pintura ou da fotografia a não ser como personagem exótico ou apêndice da cultura branca dominante. As camadas mais pobres da população não tinham acesso à encomenda de retratos em tela e, portanto, retratos de negros são raros até o modernismo. A arte moderna no Brasil incorporou a cultura popular em sua busca de criação de uma iconografia nacional que funcionasse como marca definidora de uma arte genuinamente brasileira. Portanto, podia-se ver agora um típico retrato de família, nos tradicionais trajes de festa e pose frontal, porém representando personagens negros em um cenário popular.