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Tudo índio, tudo parente?
Agência Museu Goeldi – O Brasil está muito longe de ser uma nação de uma língua só. Apesar das agressões históricas contra as culturas dos primeiros habitantes do país, ainda temos um universo de 160 a 180 línguas indígenas, como informa o linguista do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Hein Van der Voort. Ele foi o palestrante na abertura do “Mês dos Povos Indígenas” no Museu com o evento “A Origem das Línguas Indígenas”.
“As línguas indígenas são patrimônio cultural do Brasil e da humanidade”, afirmou o pesquisador. “Durante milhares de anos, essas línguas se desenvolveram, surgiram e se diversificaram. Só no Brasil são mais de uma centena de línguas, muitas delas tão diferentes entre si como o turco e francês”. No espaço da Biblioteca de Ciências Clara Galvão, em Belém, o linguista falou das famílias linguísticas nacionais, o que torna uma língua semelhante à outra ou não, da língua como identidade cultural e sobre a grande influência dessas línguas no falar amazônico.
Os linguistas organizam as semelhanças e as diferenças entre línguas através da idéia de troncos e famílias linguísticas. A família linguística é um grupo de línguas rigorosamente identificado, sendo uma unidade filogenética, ou seja, todos os seus membros derivam de um ancestral comum. No Brasil, as línguas indígenas foram originadas de diversas famílias, em um sistema de idiomas e falantes mais complexo que as famosas línguas indo-européias (onde está incluindo o português).
Como trabalham os linguistas e porque é importante conhecer e estudar as línguas indígenas também foi ressaltado por Hein Van der Voort. Pesquisando há décadas na Amazônia, especialmente em diálogo com comunidades indígenas de Rondônia, Hein falou da contribuição das pesquisas linguísticas para demarcação de Terras Indígenas (TI) no Brasil e também para a difusão da cultura falada entre os próprios descendentes de etnias nativas, como os Kwaza. “Esse é um legado que não pode se perder e por isso no Museu Goeldi nós estudamos essas línguas, uma boa parte inclusive ameaçada de extinção”, disse. Para saber mais acesse a edição especial do Destaque Amazônia.
Van der Voot conversou sobre esses assuntos com os jovens da Associação “Lar Fabiano de Cristo” do bairro do Guamá. Para a maioria deles, o tema do evento soou como novidade. “Na escola, a gente não estuda essas coisas”, disse Yasmin Costa, 13 anos. “Foi muito interessante aprender mais sobre as línguas indígenas”. A coordenadora do Serviço de Educação (SEC) do Museu Goeldi, Lúcia Santana, defende que “é o momento de tornar esse assunto corrente nas escolas brasileiras, principalmente com estudantes do 1º e 2º grau. A programação do Mês dos Povos Indígenas também tem esse objetivo, de discutir com a juventude a questão indígena”.
Mês dos Povos Indígenas – A agenda de atividades dedicada aos povos e culturas indígenas no Museu Goeldi segue no dia 14 de abril, às 9h30, com a oficina “Nheengatu: não perca seu latim nem seu tupi”, ministrada pelo antropólogo do Goeldi, Antônio Maria de Souza Santos. Na sequência, tem a Mostra da Cultura Kayapó, com vídeos, danças, fotografias e pintura corporal, e feira de artesanato onde artesãos de diversas etnias disponibilizarão seus trabalhos para venda.
No dia 20, no Campus de Pesquisa do Museu, será realizada a palestra de Suzana Primo “Experiência desde a aldeia Caripuna, até o Museu Goeldi”, seguida de nova edição da Mostra da Cultura Kayapó. Às 10h30, o Campus de Pesquisa do Goeldi também recebe a feira de artesanato e às 14h, a programação termina com a roda de conversa “150 anos de interação”, com a participação de indígenas de diferentes etnias e mediação de pesquisadores do Goeldi.
Texto: João Cunha