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Temas de produção e cultura estão na mais recente edição da revista do Goeldi
Látex, castanha, minério, espécies aromáticas. São tantas as commodities alvo dos interesses produtivos, que, estudos os mais diversos - da antropologia, da arqueologia e da linguística - se debruçam sobre a dimensão, os significados e as representações que esses produtos assumem na vida da região amazônica. Em uma edição marcada por temas de produção, de cultura e de produção de cultura, o Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (BMPEG. Ciências Humanas) chega a sua segunda edição de 2018.
Com artigos de autores nacionais e internacionais o número 2 do volume 13, traz em “Passaporte para a floresta ...”, de Luciana Carvalho e suas co-autoras, os dilemas dos que extraem látex na floresta estadual Paru, no Tapajós, e enfrentam um modelo de regulação que redefiniu o acesso à matéria prima e estabeleceu relações de trabalho distintas das que viviam num passado não muito distante. Sobre a exploração de recursos na Venezuela, Gabriel Torrealba e Franz Scaramelli analisaram a exploração da semente aromática do cumaru - também conhecida como tonka beans -, pelos Mapoyo na região do Médio Orinoco.
A construção de paisagens pelas populações humanas e as marcas que por elas são deixadas são estudadas por arqueólogos na Serra Leste de Carajás e na região do Nhamundá e do Trombetas, ambos no estado do Pará. Em Carajás, Tallyta Araujo da Silva discute uma trajetória de ocupações motivadas por diferentes razões para demonstrar como a paisagem se constituiu a partir dessas impressões na região. Nos baixos cursos dos rios Nhamundá e Trombetas, Aires da Fonseca explora variáveis de cunho físico e de contribuição humana para gerar modelos para descoberta e identificação de sítios arqueológicos.
No campo da linguística, a preservação é compromisso na Amazônia. Casa de um centro de documentação linguística, o Museu Paraense Emílio Goeldi abriga nas páginas de sua revista científica, resultados de estudos que promovem o registro e a produção de conhecimento. Na recém lançada edição do Boletim, há um sobre a língua Canela e outro sobre a história fonológica do Paunaka. A identificação de característica ainda não reconhecida na língua Canela: a da existência de um sujeito heterogêneo - que comporta predicados verbais e nominais compatíveis com estados mentais ou físicos - é o que demonstra Flávia de Castro Alves.
Falado por menos de dez indivíduos que, hoje, habitam território boliviano, o Paunaka, é língua da família Aruaque. Fernando Carvalho reconstitui a história fonológica do Paunaka a partir da identificação de que mais de uma centena de palavras encontram cognatos em outras línguas da família, como o Mojeno e o Terena.
Ainda na edição, um artigo discute a função social dos museus e a necessidade de os guardiães de cultura se relacionarem de mais perto com seu entorno. Vânia de Oliveira lança mão de um objeto representativo do Carnaval para construir argumento sobre o que considera a felicidade ou infelicidade dos objetos, no mais das vezes, enclausurados em recintos de coleções.
Duas resenhas analisam autores da Antropologia e da Museologia. Lucybeth Arruda faz sua apreciação sobre livro de autoria de Graciela Chamorro, “História Kaiowá: das origens aos desafios contemporâneos”. Já Clóvis Brito e Roberto Fernandes dos Santos Júnior resenharam de Hugues de Varine, “L’écomusée singulier et pluriel: un témoignage sur cinquante ans de muséologie communautaire dans le monde”.
Institucionalidade e sustentabilidade - O BMPEG. Ciências Humanas comemora 124 anos em 2018 e vive uma nova etapa, a de profissionalização, do processo editorial. Em pouco mais de dois anos, implementou-se a submissão eletrônica e a revista alcançou os conceitos máximos (A1 do Qualis-Periódicos) para as principais disciplinas do escopo da revista - Antropologia, Arqueologia e Linguística. A revista é considerada, em avaliação de caráter preliminar pelo indexador SciELO, como representativa do “estado da arte da editoração científica”. Para 2019, a meta é de publicar em caráter contínuo os conteúdos de suas edições, tendência observada no campo das revistas científicas, que torna mais rápida a disponibilização do conhecimento.
Com política de acesso aberto, o periódico dispõe de vários canais de comunicação. Confira: http://editora.museu-goeldi.br/humanas/; no SciELO: http://www.scielo.br/bgoeldi/; Issuu http://issuu.com/bgoeldi_ch; e no Facebook http://www.facebook.com/boletimgoeldiCH
Texto: Jimena Felipe Beltrão, jornalista e editora do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas.