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Sítio arqueológico em Gurupá revela novidades sobre ocupação milenar
Agência Museu Goeldi – Desde o século XIX o arquipélago do Marajó (PA) tem sido uma referência para o estudo dos povos amazônicos que viviam na região antes da colonização europeia, apresentando vestígios materiais de culturas desenvolvidas há milhares de anos.
O projeto “Origens, Cultura e Ambiente” (OCA), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), desenvolvido no município de Gurupá, traz novos fatos sobre o passado das populações regionais. O projeto é desenvolvido em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e sua equipe integra cerca de 20 pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos. Além do MPEG, o OCA conta com especialistas da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Universidade de São Paulo (USP), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Universidade da Flórida (UFL).
Gurupá está localizado na confluência dos rios Xingu e Amazonas, no arquipélago do Marajó. O município possui pouco mais de 31 mil habitantes (IBGE, 2014) e “já foi uma localidade central nas principais transformações históricas da Amazônia, desde a colonização européia até a época da borracha, depois da qual houve uma grande decaída populacional e econômica da região”, informa a arqueóloga do Museu Goeldi, Dra. Helena Lima , coordenadora do projeto.
Resultados preliminares - Com apoio da Prefeitura Municipal de Gurupá, os trabalhos arqueológicos iniciaram na Reserva Ambiental do Jacupi. Helena Lima afirma que a região de Gurupá possui mais decinquenta sítios arqueológicos identificados e estima que haja um número muito maior de sítios ainda não descobertos.
Vários materiais já foram coletados como cerâmicas, carvões e amostras de solo de diversas épocas. Há vestígios de povos que ali viviam tanto antes da chegada dos europeus à Amazônia quanto em períodos mais recentes, daí a riqueza dos sítios encontrados. Os materiais coletados foram trazidos para a Reserva Arqueológica do Museu Goeldi onde se encontram em análise.
Apesar de recentes, os estudos já possibilitam inferir algumas informações surpreendentes, revela Helena. As cerâmicas, por exemplo, apresentam traços estilísticos que mostram contatos culturais com povos do norte da America do Sul. “Isso é muito interessante porque a arqueologia vinha falando de fluxos estilísticos no sentido leste-oeste, ao longo do Rio Amazonas. Mas, ao contrário do que se imaginava [em Gurupá], a cerâmica mostra uma circulação de informações no sentido norte-sul, passando pelas Guianas e Amapá e indo até o rio Xingu, atingindo re”giões como a Volta Grande.
Passado e Futuro – De acordo com Helena, as pesquisas arqueológicas também demonstram que ainda há muito a aprender sobre sustentabilidade com as populações nativas que habitaram a Amazônia. Um exemplo são as chamadas terras pretas antropogênicas, solos férteis de coloração escura que não existem na natureza por si só, e são resultado de trabalho humano realizado há centenas e até milhares de anos atrás. Existem várias áreas de terra preta em toda a Amazônia, com tamanhos variando de poucos metros quadrados a muitos hectares. “Sítios grandes em Gurupá mostram intensidade de ação humana e vários locais onde essa terra preta era formada” informa Helena.
Outra questão é sobre as atuais dificuldades econômicas e sociais de Gurupá: “O que nos intriga é entender como é que toda essa grandiosidade que era mostrada no período pré-colonial e colonial agora se contrapõe a um relativo esquecimento da região. Então as pesquisas podem ajudar na auto-estima da população e no entendimento de seu presente com referência ao passado, para que possam então pensar em um futuro melhor.”
Esse retorno à população local é uma prioridade para o OCA, que conta com o apoio de vários moradores para desenvolver seu trabalho: “As informações são sistematicamente devolvidas para a comunidade. A própria biblioteca de Gurupá conta com todas as publicações do Museu Goeldi, e estava previsto para esse mês um trabalho direto nas escolas. Já tínhamos providenciado materiais como jogos da memória, cartilhas e quebra-cabeças para serem trabalhados com as crianças. Mas infelizmente, devido às situações terríveis que aconteceram no município, esse trabalho está suspenso por enquanto”
No último dia 12, a trágica morte do jovem João Paulo Lima da Silva, 14 anos de idade, dentro da Reserva Ambiental do Jacupi, onde se localiza um dos principais sítios arqueológicos pesquisados pelo OCA, desencadeou uma onda de violência que resultou na depredação e saque da sede da Reserva. Toda a área da Reserva do Jacup está sob a ameaça iminente de desmatamento e loteamento por particulares. O MPEG recebeu ainda informações de que o sítio arqueológico foi violado, o que é considerado crime federal.
Em função da situação perigosa existente no município, o Museu Paraense Emílio Goeldi lançou uma carta aberta à população de Gurupá solicitando apoio para proteger o patrimônio coletivo que representa a Reserva Ambiental do Jacupi. Assim como a Superintendência Regional do IPHAN, o Museu Paraense Emílio Goeldi está solicitando auxílio dos órgãos federais para proteger a área.
Clique aqui para saber sobre a morte do jovem.
Saiba mais sobre a Reserva Ambiental do Jacupi aqu i.
Texto: Uriel Pinho e Joice Santos
Atualizada em 21/08/2014 às 10h54