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Prêmios internacionais para botânicos do Museu Goeldi
Agência Museu Goeldi – Todo ano, a Associação Internacional para Taxonomia de Plantas (IAPT, na sigla em inglês) concede prêmios para jovens pesquisadores. A seleção é competitiva e os inscritos precisam ter projetos que demonstrem mérito científico e potencial para criar impactos duradouros para a área da botânica. Este ano, os botânicos Fúvio Oliveira e Rafael Gomes estão entre os premiados. Os dois brasileiros desenvolvem suas pesquisas de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Botânica Tropical , mantido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi e pela Universidade Federal Rural da Amazônia. Para o prêmio recebido por Rafael Gomes e Fúvio Oliveira, a IAPT recebeu 86 inscrições do mundo inteiro. Foram apenas 23 ganhadores selecionados, após a análise criteriosa de um comitê científico.
“Sem dúvida, receber esses prêmios e ter nossa pesquisa validada é um grande estímulo para continuar nossos estudos, que tem um custo financeiro e pessoal envolvido. Também é muito importante por viabilizar partes práticas do projeto de pesquisa, fortalecendo-o e nos instigando a realizar mais perguntas”, celebra Rafael, duplamente premiado por seus estudos em florestas em áreas elevadas da Amazônia. Recentemente, Rafael Gomes também foi distinguido pela The Linnean Society of London (Inglaterra), cuja premiação possibilitará ao jovem botânico analisar plantas que se encontram em museus fora do Brasil, além de investir em novas expedições de campo.
Plantas microscópicas – Um dos premiados, o botânico Fúvio Oliveira , está desenvolvendo um estudo taxonômico integrativo de um grupo de plantas microscópicas chamadas de Radula . A taxonomia é a ciência que identifica, nomeia e classifica os seres vivos, podendo integrar diferentes ferramentas para isso, como análises genéticas e o exame de aspectos morfológicos (a “aparência” dos seres vivos).
Com o prêmio, o pesquisador pretende visitar as coleções botânicas históricas do British Museum of Natural History e da University of Manchester , ambas na Inglaterra.
“Visitar esses herbários é essencial para uma revisão taxonômica e trará bons resultados na pesquisa da tese. Além disso, trará benefícios como vivência em outro país, com outra língua, oportunidade de conhecer especialistas da área e melhorar o currículo que consequentemente trará oportunidades profissionais no futuro”, explica Fúvio.
As espécies do gênero Radula , estudadas por Fúvio, são amplamente distribuídas no mundo, com maior diversidade nas regiões tropicais e subtropicais, ocorrendo em planícies úmidas a florestas tropicais montanas. As plantas desse gênero são indicadoras de ambientes bem preservados, pois dificilmente se desenvolvem em regiões que sofrem algum tipo de perturbação.
O pesquisador pontua que ainda há muito a ser explorado pela ciência e pela biotecnologia sobre essas plantas : “Além de bioindicadoras de ambiente, elas são usadas como ornamentais e algumas espécies apresentam compostos aromáticos e flavonóides. Recentemente, foram descobertos canabinóides em três espécies de Radula. Até então canabinóides eram encontrados somente em plantas do gênero Cannabis (maconha)”. Em seu doutorado, Fúvio Oliveira é orientado pela Dra. Anna Luiza Ilkiu Borges (Coordenação de Botânica/MPEG) e pelo Dr. S. Robbert Gradstein (Meise Botanic Garden, Bélgica/Muséum National d'Histoire Naturelle, França)
Florestas em montanhas – Rafael Gomes , por sua vez, busca entender a evolução de plantas que ocorrem no alto dos tepuis (um tipo de formação montanhosa) da Amazônia, estudando um gênero de plantas chamado Bonnetia . As Bonnetia formam densas florestas nessas montanhas, ecossistemas bastante sensíveis às mudanças climáticas e com alto número de espécies de plantas que não ocorrem em nenhum outro lugar.
Em suas investigações, Rafael usa dados do DNA dessas plantas e informações também de fósseis de cerca de 18 milhões de anos, encontrados no Pará. O objetivo é entender o que aconteceu no passado com o grupo e que pode se refletir na diversidade que se encontra hoje. De acordo com o cientista, a pesquisa vai ajudar a entender melhor como as mudanças climáticas que estamos vivendo vão afetar as populações dessas árvores no futuro.
“Como são plantas restritas ao topo dos tepuis, a conservação das florestas de Bonnetia também implica na conservação da vegetação dos tepuis como um todo, como uma espécie bandeira”, explica Rafael. Um “espécie bandeira” é aquela escolhida para representar uma causa ambiental e ajudar a chamar atenção para a importância de várias outras espécies.
Com o prêmio da IATP, Rafael pretende visitar as coleções botânicas de um dos maiores herbários do mundo localizado no The New York Botanical Garden , nos Estados Unidos. Em seus estudos de doutorado no Museu Goeldi, ele é orientado pelo Dr. Pedro Lage Viana (Coordenação de Botânica/MPEG).
IAPT - A International Association for Plant Taxonomy (IAPT) é uma renomada associação global de taxonomistas e sistematas de plantas, algas e fungos, fundada em 1950. Sistematas são cientistas que investigam as relações evolutivas e de parentesco entre os organismos e, relacionados a eles, estão os taxonomistas, cientistas que nomeiam e classificam organismos. Nessas áreas, a IAPT é responsável pelos mais importantes veículos de publicações científicas na taxonomia de plantas, como a revista TAXON e o Código Internacional de Nomenclatura de algas, plantas e fungos.
Texto: Uriel Pinho, com informações dos pesquisadores
Confira os ganhadores, seus projetos e orientadores:
Fúvio Rubens Oliveira da Silva
Projeto: Towards an integrative taxonomic revision of neotropical Radula based on morphological and molecular evidence.
Orientadores: Dra. Anna Luiza Ilkiu Borges (Museu Paraense Emílio Goeldi) e Dr. S. Robbert Gradstein (Meise Botanic Garden, Bélgica; Muséum National d'Histoire Naturelle, Paris, França).
Rafael Gomes Barbosa da Silva
Projeto: Taxonomy, evolution and biogeography of Bonnetia
(Bonnetiaceae) in the Pantepui: a model group for studies of the Amazonian mountains
Orientador: Dr. Pedro Lage Viana (Museu Paraense Emílio Goeldi)