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Pesquisa Dicionário Multimídia Sakurabiat-Português recebe Prêmio Destaque do CNPq
Agência Museu Goeldi- Nesta quarta-feira (21), Douglas da Costa Rodrigues Junior, estudante de Letras - Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará - UFPA e bolsista do Museu Paraense Emílio Goeldi- MPEG, recebeu pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq na 18ª edição o Prêmio Destaque na Iniciação Cientifica e Tecnológica na área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, com o projeto Dicionário Multimídia Sakurabiat - Português, desenvolvido sob a orientação da linguista Ana Vilacy Galucio, pesquisadora da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Goeldi.
O Dicionário Multimídia Sakurabiat-Português reúne verbetes da língua indígena Sakurabiat em quatro campos semânticos: fauna, flora, partes do corpo humano e manufaturas. Douglas Júnior aceitou o desafio de contribuir para a dicionarização de uma língua ameaçada de desaparecer, um trabalho complexo que envolve muitas etapas.
Ana Vilacy, especialista no estudo da língua indígena Sakurabiat e coordenadora do projeto, explica que este dicionário multimidia “foi compilado como um documento interativo html, usando a linguagem Markdown - linguagem de formatação aberta, baseada em texto e que permite a fácil exportação dos materiais em html, PDF ou docx". A pesquisadora acrescenta que "para cada entrada lexical, o dicionário apresenta o verbete em Sakurabiat e a chave de pronúncia em transcrição fonética, sua tradução para o português, áudio e imagem, além de exemplos de uso do verbete em Sakurabiat (sempre que possível), acompanhado de tradução e áudio com a pronúncia do exemplo”.
O universitário Douglas Costa comentou sobre a grande emoção de ter seu estudo premiado: “Foi incrível! Eu me senti ganhando um Oscar ou um Grammy. É muito importante ganhar um prêmio como esse, ainda mais em um contexto tão ruim para ciência que estamos vivendo. O esforço, a dedicação e o empenho foram todos recompensados quando eu recebi a notícia através da ligação do presidente do CNPQ. Isso me motiva tanto a continuar pesquisando, continuar me especializando e fazer mais projetos como esse”.
Douglas é um apaixonado pela sua área de atuação. “Quando conheci a professora Vilacy, e começamos a trabalhar juntos, minha vida mudou depois desse encontro fenomenal. Minha visão sobre as línguas indígenas, e sobre a linguística em si, mudaram consideravelmente. Hoje, não me imagino em outro lugar. É um trabalho fascinante”.
No projeto, Douglas Costa estudou sobre os aspectos teóricos e metodologia da organização de dicionários, pesquisou e coletou materiais lexicais da base de dados da língua Sakurabiat, disponível no Acervo de Línguas e Culturas indígenas do Museu Paraense Emílio Goeldi, separando-os em subconjuntos de dados, nas categorias semânticas de fauna e flora. Transcreveu e organizou os arquivos de áudio, organizou e converteu o material, além de ter feito a revisão e verificação do dicionário.
Aos interessados nessa área de pesquisa, Douglas deixou uma dica de como começar: “Preste atenção nas aulas de fonética e fonologia na faculdade, pois são áreas das mais importantes da Linguística. O diferencial desse trabalho é a grande quantidade de material em áudio que organizamos. Para manipular muito bem esses dados, é preciso uma boa base em fonética e fonologia. É importante também ser perseverante em seus desejos! Conheci a professora Vilacy e seus ensinamentos após ter fracassado em uma entrevista de estágio. Se eu tivesse desistido, onde estaria? Deus sabe. Sou feliz no caminho em que fui posto. E espero que quem deseja entrar na área seja feliz igualmente”, manifesta Douglas.
Sakurabiat – Os Sakurabiat habitam a terra indígena Rio Mequéns, no estado de Rondônia. Moram em áreas de floresta, geralmente próximos de igarapés. São agricultores e têm animais de caça como base alimentar tradicional.
Hoje, apesar da população drasticamente reduzida, os Sakurabiat não deixam de lutar por seus costumes e cultura. Assim como a maioria dos povos indígenas brasileiros, eles têm em sua história a marca da exploração por colonizadores, tendo trabalhado por muito tempo no sistema de exploração da borracha.
A terra indígena ocupada por esse povo originário foi demarcada apenas em 1996, após uma longa batalha repleta de problemas e dores para os Sakurabiat, que foram acusados de serem eles os invasores da sua terra ancestral. Hoje em dia, tentam manter vivo aquilo que quase lhe roubaram: sua cultura, história e língua.
A língua Sakurabiat (Lê-se [sakirabi’at], com a 2ª vogal pronunciada de forma semelhante à vogal da 1ª sílaba da palavra Tânia, em Português) pertence ao tronco Tupi. As outras línguas dessa família são Wayoró, Akuntsú, Makurap e Tupari, todas faladas no estado de Rondônia, por pequenos grupos.
A importância do projeto – Em Julho de 2021, a língua Sakurabiat conta com apenas 11 falantes fluentes. Trata-se de uma situação gravíssima, uma língua ameaçada e que sofre um grande risco de deixar de ser falada. O dicionário bilíngue Sakurabiat - Português representa neste contexto um importante avanço para a revitalização dessa língua, trazendo um material de busca e apoio na aprendizagem de fácil acesso para as gerações mais jovens.
No Brasil, temos aproximadamente 155 línguas indígenas faladas, e cerca de 2/3 se encontram na região Amazônica. A grande maioria dessas línguas se encontra em situação de risco de desaparecimento.
A língua de um povo é sua principal forma de comunicação, sendo o meio através do qual a cultura de uma sociedade é transmitida. Por isso é importante preservar a diversidade de línguas e todo o sistema de linguagens dos povos originários da Amazônia.
Atualmente pesquisadores do Museu Paraense Emilio Goeldi trabalham no desenvolvimento de seis dicionários multimídia de línguas indígenas, incluindo o Sakurabiat-Português. A previsão é que essa 1ª versão do dicionário multimidia Sakurabiat-Português seja liberado ao público em janeiro de 2022, após ser referendado pelos Sakurabiat .
Queres saber um pouco mais sobre esse projeto? Confira essa conversa com a Professora Ana Vilacy Galucio e com o estudante Douglas Costa. Acesse aqui o áudio da entrevista com Douglas Jr e Ana Vilacy.
Quer saber mais sobre os estudos linguísticos no Museu Goeldi? Acesse a edição especial do Destaque Amazônia.
Texto e Podcast: Nina Dacier
Edição: Joice Santos