Notícias
Paisagens da floresta amazônica também são frutos da ação milenar do Homem?
Agência Museu Goeldi – Um dos aspectos mais conhecidos da região amazônica são suas florestas densas. As plantas e os animais que elas abrigam muitas vezes são vistas como separados historicamente das populações que as ocuparam ou ocupam. Mas, e se a floresta não fosse assim tão “natural” e independente das pessoas quanto se pensa?
Pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento estão descobrindo que a formação de parte das florestas e da biodiversidade amazônicas não seria o resultado apenas da evolução natural, mas sim da seleção e domesticação do Homem. Paisagens florestais conhecidas como naturais na região seriam, na verdade, culturais.
Esse assunto está presente na mais nova exposição do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), intitulada “Origens: Amazônia Cultivada”, que abre ao público a partir da próxima quinta-feira (23), com curadoria das arqueólogas Edithe Pereira e Cristiana Barreto , e no livro “Amazônia Antropogênica”, organizado pelo arqueólogo Marcos Pereira Magalhães , que coordena há vinte os estudos na Serra de Carajás (PA), e cujos resultados também podem ser observados na exposição.
Além dos pesquisadores e gestores do Museu Goeldi, o evento contará também com representantes da mineradora Vale, que apoiou os estudos na região de Carajás. Os eventos ocorrerão no Parque Zoobotânico do MPEG, a partir das 19h, com entrada aberta e gratuita.
Exposição – A exposição é uma amostra das pesquisas realizadas por diferentes equipes do Museu Goeldi na região de Carajás desde a década de 1960. O público poderá acompanhar os caminhos dos arqueólogos pelos sítios onde encontraram várias evidências de que o Homem interfere no ambiente amazônico há muito tempo. São apresentadas peças milenares encontrados nas grutas das Serras de Carajás e de sítios em áreas abertas, com idade de mais de 5.000 anos.
Peças de povos agricultores e ceramistas, como um machado semilunar e urnas funerárias encontradas próximas aos rios Itacaiúnas e Parauapebas, ajudam a contar a história e são elementos de destaque na exposição. No trajeto expositivo, os visitantes encontrarão em fotos e gráficos algumas informações sobre como esses antigos habitantes se relacionavam e interferiam em paisagens, caminhos, matas e florestas.
Livro – O livro “Amazônia Antropogênica”, organizado por Marcos Pereira Magalhães tem 425 páginas, 7 capítulos e 17 pesquisadores que assinam os textos. Tendo como referência as pesquisas realizadas em regiões como Trombetas, Xingú, Amazônia Central, Maracá e, principalmente, em Carajás, o livro apresenta argumentos filosóficos e teóricos, além de dados que indicam que o Homem vem influenciando a formação das florestas há milhares de anos.
Em cavernas localizadas no topo da serra de Carajás, existem evidências de que populações humanas teriam chegado na Amazônia no início do período geológico conhecido como Holoceno, há 11.000 anos, e que já exerciam algum tipo de ação sobre o ambiente.
Essas populações, que viviam da caça, da coleta, da pesca, do manejo e ou do cultivo de pequenas roças, desenvolveram o que Marcos Magalhães chama de Cultura Tropical. Foram elas que iniciaram o manejo e domesticação de plantas, além da produção artesanal de cerâmica. Seis mil anos depois, populações da Cultura Neotropical tomaram o lugar das antigas. Esses povos desenvolveram técnicas mais eficientes de cultivo e manejo, privilegiando as plantas domesticadas, os bosques cultivados, sofisticadas técnicas de manipulação de alimentos e de produção de cerâmica.
Em Carajás, eles deixaram inúmeros sítios nas margens dos rios, onde são encontrados artefatos cerâmicos e florestas repletas de plantas úteis e concentrações de castanheiras, que até hoje são exploradas pelas comunidades locais.
Interferência – Desde sua chegada à Amazônia, há milhares de anos, os primeiros habitantes da região utilizaram plantas para alimentação, medicina, rituais, artesanato, construção e em vários outros processos. Com isto, os povos pré-coloniais foram distribuindo e protegendo plantas das quais dependiam social e culturalmente, introduzindo espécies de uma região em outras, e alterando profundamente as características naturais de alguns ecossistemas, especialmente os de terra firme e várzeas.
Ao domesticar algumas plantas para consumo, como a castanheira e palmeiras, os indígenas teriam agido de modo a cultivar florestas inteiras, conhecidas como florestas antropogênicas. Como explica o antropólogo Glenn Shepard Jr na apresentação do livro “Amazônia Antropogênica”, a principal contribuição da obra é apontar um início para esse processo: centenas e até milhares de anos atrás. Acesse aqui o book trailer do livro “Amazônia Antropogênica”.
Texto: Uriel Pinho
Serviço:
Abertura da exposição "Origens: Amazônia cultivada", curadoria de Edithe Pereira e Cristiana Barreto.
Data: 23/06/2016 (quinta-feira), às 19h.
Local: Pavilhão Expositivo Domingos Soares Ferreira Penna (Rocinha), no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, Av. Magalhães Barata, 372 - São Brás.
Entrada aberta e gratuita.
Horários de exposição ao longo da semana: Quarta a Domingo, das 9h às 15h. Entrada R$ 3,00 com meia para estudantes e gratuidade para crianças e idosos.
Lançamento do livro "Amazônia Antropogênica", organizado por Marcos Pereira Magalhães ( 425 páginas)
Data: 23/06/2016 (quinta-feira), às 19h30.
Local: Jardim ao lado da “Rocinha”, no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, Av. Magalhães Barata, 372 - São Brás.
Entrada aberta e gratuita
O Livro poderá ser adquirido durante o lançamento pelo preço promocional de R$60. Posteriormente, estará à venda na biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi (Av. Perimetral, 1901 – Terra Firme)