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Os guardiões das florestas e a conservação dos recursos naturais
Agência Museu Goeldi - Os modos peculiares das comunidades tradicionais e de povos indígenas perceberem as relações entre humanos e não humanos – desde animais e plantas até os espíritos e consciências de rios ou montanhas, rochas e fungos, por exemplo – podem revelar muito além das amplas cosmovisões de povos tradicionais do mundo inteiro e passar a servir de guia para novas políticas sobre atividades antrópicas em espaços naturais.
Esta é uma das ideias centrais do artigo “Curupira e Caipora: o papel dos seres elementais como guardiões da natureza”, publicado na edição corrente do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Os autores argumentam a urgência da união da espiritualidade com a ecologia, a partir do apoio e entendimento das crenças locais, com foco na implementação de estratégias ecologicamente inspiradas - tanto para a conservação racional dos recursos naturais quanto para a manutenção do patrimônio biocultural a eles ligados.
Apresentada por Eraldo Costa Neto, biólogo e professor catedrático da Universidade Estadual de Feira de Santana-Bahia (UEFS-BA); Dídac Santos Fita, da Universitat Autónoma de Barcelona e Leonardo Matheus Aguiar, mestrando em Ecologia e Evolução, também da universidade do centro-oeste baiano, a pesquisa traz uma revisão bibliográfica comparada de entes guardiões da natureza e dos recursos - principalmente de espécies animais consideradas de interesse para a caça.
O universo anímico é o das narrativas orais e do folclore, onde o Curupira e a Caipora são destacados como as duas entidades mais conhecidas no imaginário brasileiro, ambos responsáveis por proteger as caças e os recursos naturais. O estudo mais atento de suas lendas, mitos e relatos de casos apontaram para outras possibilidades de estudos em Etnoecologia e uma elaboração de políticas públicas.
Tais estudos foram levantados em buscas qualitativas nas bases Google Scholar e Scientific Eletronic Library Online (SciELO), no período de janeiro a julho de 2021, tanto em livros; capítulos de livros; artigos publicados em revistas e em anais de eventos, sites e blogs sobre lendas brasileiras. Os descritores, as palavras-chave elencadas, foram: Curupira; Caipora; seres sobrenaturais; folclore; lendas e mitos indígenas; espíritos da natureza; caça; etnoconservação e suas combinações.
Seja na Tailândia ou no Benin; Butão ou Namíbia; Sibéria; Europa; América do Norte ou do Sul, bem como na Amazônia Brasileira... a pesquisa aponta à existência de ‘donos/donas’, ‘senhores/senhoras’, ‘pais/mães’ ou ‘guardiões’ dos animais e da floresta, em todo o mundo, e leva à reflexão necessária da “importância de diferentes percepções culturais sobre ecossistemas e paisagens naturais para o desenvolvimento e fortalecimento de estratégias mais eficazes e holísticas direcionadas ao manejo dos ecossistemas e coexistência das realidades simultâneas”, como observam os autores.
Os pesquisadores também destacam que “a modernização socioeconômica e a introdução de novas instituições e cultos religiosos dogmáticos (cristãos e neopentecostais) têm causado o descrédito e aversão dos mesmos habitantes locais pelos espíritos da floresta, ocasionados por mudanças em sua cosmovisão e nos modos de vida tradicionais, consequentemente interferindo nos sistemas autóctones de crenças e práticas relacionadas à regulação do acesso e do uso de recursos, comprometendo, assim, a conservação da natureza”.
A partir de 59 materiais para a revisão bibliográfica, com análise crítica textual discursiva e interpretação sobre o assunto, à luz da literatura levantada, e apesar desses novos cenários sociais adversos, o resultado da pesquisa reforça a importância das populações locais poderem ser “consultadas sobre a localização de lugares encantados, bem como sobre os tipos de interações que desenvolvem com as entidades residentes, e seu conhecimento deveria ser incorporado nos planejamentos e tomadas de decisão”, podendo servir como “ferramenta poderosa para mitigar os impactos negativos das atuais pressões antropogênicas sobre a natureza e seus elementos”.
Leia a íntegra do artigo em http://editora.museu-goeldi.br/humanas/ e também em https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/DhHSLwsm93pQvGjMW5PjZSr/?lang=pt
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Texto: Luiza Bastos