Notícias
Os desafios do Museu Goeldi
Agência Museu Goeldi – Prestes a completar 152 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi possui um dos maiores e mais diversificados acervos do país. Na manhã desta quinta-feira (6), a diretora substituta Roseny Mendes, ao lado do corpo técnico-científico do Museu Goeldi, veio a público prestar solidariedade ao Museu Nacional, a mais antiga instituição científica do Brasil, e falou sobre as dificuldades e desafios de preservação das coleções científicas.
“Nós estamos muito longe de ter o ideal. Mas, mesmo com toda dificuldade, ao longo dos anos, a gente conseguiu implantar sistemas de detecção e combate a incêndio em algumas coleções. Todavia, por conta da instabilidade da nossa rede elétrica, o sistema atualmente não funciona. A gente conseguiu recursos para reativar esse sistema e estamos revendo o projeto para a instalação de um sistema adequado as especificidades das coleções. A arqueológica e a etnográfica, por exemplo, não devem entrar em contato com água”, explica Roseny Mendes, Diretora Substituta do Museu Emílio Goeldi.
Coleções – Resultado de sua capacidade de pesquisa, o Museu Goeldi possui 19 coleções científicas principais, que se subdividem em mais de 40 sub-coleções, integrando mais de 4,5 milhões de itens tombados: Arqueologia (120 mil objetos e 2 milhões de fragmentos procedentes da Amazônia); Etnologia (15 mil objetos oriundos de 120 povos indígenas), Linguística (mais de 20 mil itens referentes a aproximadamente 80 línguas/etnias indígenas); Biologia (10 coleções principais, subdivididas em 40 sub-coleções, totalizando mais de 1 milhão e 700 mil itens tombados), incluindo o Herbário (mais de 204 mil espécimes, onde encontram-se 3 mil materiais tipos de plantas vasculares, 96 de briófitas e 50 de fungos), Zoológicas (1.495.239 espécimes de Vertebrados e Invertebrados),Fósseis (6 mil exemplares), Palinologia (500 tipos polínicos pertencentes a espécies, gêneros e famílias botânicas), Solos Minerais e Rochas (mais de 11 mil amostras); Bibliográficas (350 mil volumes, incluindo mais de 3 mil Obras Raras) e Documentais (20 mil documentos, incluindo 1.400 negativos em vidro do século XIX e XX).
O Parque Zoobotânico, o mais antigo do gênero no Brasil, mantém coleções vivas da fauna (mais de 1.700 animais de 80 espécies) e flora (cerca de 500 espécies representadas por aproximadamente 2 mil indivíduos) da Amazônia, além de 14 monumentos e edificações históricas (do século XIX e XX). Recebe em média 400 mil visitantes por ano.
As coleções têm valor histórico, cultural e científico para a produção de novos conhecimentos e fazem a diferença na formação de especialistas para a Amazônia. Os acervos da área das Ciências Humanas guardam elementos preciosos das culturas amazônicas. Todas as coleções da instituição são patrimônio nacional e mundial.
“Os acervos são a representatividade do nosso conhecimento sobre a biodiversidade e a diversidade sociocultural da Amazônia. Essas coleções científicas servem de fundamento para a pesquisa e para a evolução do conhecimento, além de subsidiarem políticas públicas, afirma Ana Vilacy Galucio, coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação do Museu Goeldi.
O MPEG é uma das instituições que mais provê dados para o Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBr). Entre os 93 publicadores do SIBBr é o centro de pesquisa nacional com maior variedade taxonômica e de tipos de acervos. O MPEG se tornou referência nesta área ao padronizar um sistema inovador para o gerenciamento e manutenção de banco de dados dos acervos biológicos. Neste assunto, prestou auxilio para o Museu Nacional (UFRJ), Museu de Zoologia (USP) e INPA (AM).
Desafios – Além da proteção e preservação desse patrimônio, um dos grandes desafios da instituição é dar continuidade ao processo de informatização das coleções científicas, incluindo a ampliação e manutenção dos sistemas de gerenciamento de dados de biodiversidade; reformar o sistema elétrico de coleções e laboratórios; manutenção e adequação física de prédios históricos e não históricos; aquisição de equipamentos e mobiliários; contratação de técnicos, museólogos, conservadores e restauradores.
“Nessa semana, o Corpo de Bombeiros veio ao Campus de Pesquisa e vai hoje ao Parque Zoobotânico para atualizar o auto de vistoria. Nós temos o alvará de funcionamento e estamos atualizando o que for necessário para que a gente possa continuar trabalhando com tranquilidade, mantendo em segurança os acervos, o corpo funcional, visitantes, animais e plantas do Museu Goeldi”, destaca Roseny.
A necessidade de novas contratações se estende para todas as áreas de atuação do sesquicentenário instituto e ameaça estrangular a capacidade de responder as demandas da sociedade. Hoje, o MPEG tem o mesmo limite de recursos humanos na década de 90 do século passado, e está impedido de repor as vagas que perde por aposentadoria e falecimento. Em 2007, o Museu Goeldi dispunha de 255 servidores, sendo 72 pesquisadores desse total. O quadro atual é de 226 servidores, onde se incluem 53 pesquisadores. Atualmente, 70 profissionais se quiserem já podem se aposentar.
Orçamento – Os cortes e contingenciamentos no orçamento quase provocaram o fechamento de duas bases físicas - seu centenário Parque Zoobotânico, na capital paraense, e da Estação Científica Ferreira Penna, que funciona há 24 anos na Floresta Nacional de Caxiuanã, entre os municípios de Melgaço e Portel, interrompendo décadas de estudos de longo prazo e monitoramento da maior floresta tropical do mundo. Após um amplo movimento popular em setembro de 2017, a instituição conseguiu descontigenciar recursos para o ano passado e refazer seu orçamento para 2018 (de R$ 8.116.460,00 para R$ 15.426.022,00 ). Todavia, a PEC 241/55, que congela os investimentos federais por 20 anos, demanda que a cada ano o Museu Goeldi enfrente a mesma crise, que inviabiliza o funcionamento integral da instituição.
O orçamento liberado para 2018 garantiu a continuidade das atividades até o final do ano, possibilitando ainda a finalização de obras importantes no Parque Zoobotânico, como o Espaço Educativo e o Pavilhão de Exposições Eduardo Galvão.
Museu Goeldi – O Museu Emílio Goeldi é o segundo museu de ciência mais antigo do Brasil e pioneiro na Amazônia. Desde a sua fundação, em 1866, desenvolve estudos científicos dos sistemas naturais e socioculturais amazônicos, além de atuar na divulgação de conhecimentos e acervos. Atualmente, possui quatro bases físicas: o Parque Zoobotânico e o Campus de Pesquisa em Belém (PA); a Estação Científica Ferreira Penna, no arquipélago do Marajó (PA); e um Campus Avançado, em Cuiabá (MT).
Atualmente, o Museu Goeldi tem 127 projetos em andamento, 82% dos quais se referem à pesquisa, desenvolvidos com recursos nacionais e internacionais. Outros 18% são projetos de educação, comunicação e extensão, desenvolvidos por pesquisadores e tecnologistas do quadro funcional, com ou sem participação de instituições parceiras nacionais e internacionais.
O Museu Goeldi mantém em parceria, ou sozinho, seis cursos de pós-graduação – nesta semana aprovou mais um curso de doutorado. Em duas décadas, já formou mais de 650 novos mestres e doutores, sendo uma das instituições mais importantes na formação de especialistas para a Amazônia. Neste início do século XXI, pesquisadores do Museu Goeldi já descobriram mais de 500 novas espécies da fauna, da flora e de fungos da região.
Em breve, o Museu Goeldi apresentará dados que demonstram como seus pesquisadores e parceiros vem ampliando a descrição de espécies novas de fauna, flora e fungos. Ainda este ano, o Goeldi divulgará a lista completa das espécies descobertas entre os anos de 2014 e 2017. No século 21, os cientistas do MPEG já descobriram mais 500 novas espécies.
Museu Nacional – Na última segunda-feira (3), o Museu Emílio Goeldi emitiu uma nota em solidariedade ao Museu Nacional, instituição tragicamente atingida por um incêndio que destruiu grande parte das suas coleções científicas: “Com um incêndio de proporções gigantescas, o mais antigo museu brasileiro, um dos símbolos da constituição da nação, o nosso Museu Nacional tombou como resultado da falta de investimentos na cultura, ciência e educação. A imagem das chamas consumindo patrimônio, história e conhecimento nos levou ao choque e a desoladora sensação de perda”, registra. Para ler a nota na íntegra, acesse o link .
Texto: Joice Santos e Phillippe Sendas.