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O mais completo estudo sobre a flora das cangas de Carajás
Agência Museu Goeldi - Na Floresta Nacional de Carajás, no Pará, se encontra uma das maiores províncias minerais do mundo e também ecossistemas vegetais peculiares, conhecidos como cangas ou campos ferruginosos. É lá que pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e do Instituto Tecnológico Vale (ITV) desenvolvem, desde 2015, o projeto "Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil".
Na próxima quinta-feira (9), será realizado evento para celebrar os primeiros resultados deste estudo, que integram um volume especial do boletim “Rodriguésia”, publicado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O evento acontece a partir das 15h, no Auditório do Campus de Pesquisa do Museu Goeldi, em Belém.
Estudo e Publicação - O Museu Goeldi é a instituição pioneira na investigação científica sobre a flora de Carajás, com a primeira expedição de coleta na região realizada em 1969. De lá para cá, Carajás entrou na rota da pesquisa institucional.
Há dois anos um passo decisivo foi dado para ampliar o estudo da vegetação de Carajás: o Museu e o Instituto Tecnológico Vale (ITV) integraram esforços para desenvolver o mais recente e sistematizado estudo botânico sobre os campos ferruginosos da Floresta Nacional de Carajás e da região em seu entorno. A pesquisa conta com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O esforço científico poderá ser conferido em edições especiais da “Rodriguésia”. No volume especial de 2016 (o volume 1), os leitores poderão encontrar informações sobre 139 gêneros e 248 espécies. Esse contingente de informação será complementado por mais duas edições especiais do Boletim com resultados do projeto "Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil".
Os coordenadores do projeto, os botânicos Pedro Viana (MPEG) e Ana Maria Giulietti (ITV), estimam que, até a conclusão da pesquisa prevista para 2017, serão monografadas mais de 600 espécies vegetais. A informação gerada é resultado de coletas de campo em Carajás e em outros pontos do Pará, levantamento bibliográfico, e consulta a coleções botânicas de várias partes do mundo, que detém dados sobre a vegetação de canga.
Todo o material coletado desde 2015 já está incluído em banco de dados, com 8.800 amostras depositadas no herbário do Museu Goeldi, em Belém. Com esses dados, os pesquisadores esperam organizar informações muitas vezes dispersas ou incompletas sobre as espécies.
A botânica Ana Maria Giulietti (ITV), pesquisadora do ITV, colaboradora do Museu Goeldi e liderança científica no estudo da flora brasileira, ressalta que "o trabalho permitiu atualizar e sistematizar os dados sobre a flora desta importante região que é a canga de Carajás. Espécies que não apareciam nas listas anteriores foram encontradas e espécies consideradas como ameaçadas e raras foram recoletadas".
Vera Fonseca, coordenadora do projeto pelo ITV, complementa ao explicar que muitas plantas tiveram uma única amostra coletada antes de 2015. "Agora, coletamos várias amostras para ampliarmos este conhecimento, estudarmos as populações, pois cada uma carrega um embasamento genético diferenciado, além de marcarmos matrizes para coletas de sementes".
Pedro Viana, curador do Herbário do Museu Goeldi e editor-chefe responsável pelo volume especial da "Rodriguésia", pontua outros impactos da pesquisa: "com os trabalhos de campo do projeto, o acervo botânico de Carajás no Herbário MG praticamente dobrou e novos materiais foram coletados”.
Cangas – São ecossistemas vegetais associados a locais onde ocorre o afloramento de rochas ferruginosas. As cangas são encontradas em vários locais do Brasil e são conhecidas por abrigarem seres vivos muito específicos e adaptados às características desses lugares.
Por geralmente estarem associadas às principais jazidas de ferro do país, as cangas representam desafios para a pesquisa e o planejamento que concilie a conservação da biodiversidade e a exploração dos recursos naturais.
As cangas de Carajás localizam-se imersas na Floresta Amazônica, considerada a grande lacuna de conhecimento florístico do Brasil. A organização da Flora das cangas da Serra dos Carajás visa suprir parte dessa lacuna e também auxiliar o diálogo entre a ciência, o setor produtivo e órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental na região, trazendo informações detalhadas sobre taxonomia (que classifica os seres vivos), morfologia e distribuição das espécies ocorrentes nas cangas de Carajás.
O estudo também contribuirá para a Flora do Brasil 2020 (projeto em construção), que reúne mais de 700 colaboradores preparando um acervo online com objetivo de cumprir a meta 1 da Estratégia Global para Conservação das Plantas, assinada pelo governo brasileiro.
Rodriguesia - “A Rodriguésia é uma das mais importantes e tradicionais revistas nacionais na área de Botânica, especificamente na Taxonomia Vegetal. Todos os volumes estão disponíveis online , com acesso livre” explica o pesquisador Pedro Viana.
A revista é publicada desde 1935 pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Este número especial da Rodriguésia, o volume 1 da Flora das Cangas das Serras dos Carajás , é composto por 55 monografias em nível de família botânicas, incluindo 139 gêneros e 248 espécies tratadas. As monografias incluem descrições taxonômicas, ilustrações, distribuição geográfica e chaves de identificação para os gêneros e espécies. É o resultado do primeiro ano de pesquisa do projeto, que inclui um extensivo programa de coletas na área.
O projeto conta com a colaboração de 74 botânicos taxonomistas do Brasil e do exterior, sendo que para este primeiro volume, participam 55 autores, oriundos de 22 instituições nacionais e estrangeiras, refletindo o caráter colaborativo da iniciativa. É possível que o número total de espécies da flora, quando concluída, prevista para dezembro de 2017, atinja quase 10% das 7.071 espécies referidas para o Estado do Pará.
Através da sistematização da informação e do resgate de registros do passado, o estudo atual contribui para disponibilização de informação correta e autenticada, substituindo listas desatualizadas e propiciando o uso dessa informação para os mais variados fins.
Perspectivas - O desenvolvimento do projeto também desencadeou uma série de outros estudos que estão em andamento. Essas pesquisas envolvem o aprofundamento do conhecimento da distribuição das espécies consideradas ameaçadas, endêmicas e raras. Entre os estudos em curso, há também o projeto pioneiro de implantação de um banco de dados com identificação molecular das plantas já certificadas por meio do código de barras de DNA, trabalho conduzido por pesquisadores do ITV, em Belém.
Ao término do projeto e após a compilação completa das espécies ocorrentes em canga na Serra dos Carajás, será possível estabelecer uma visão comparativa desta flora com outras áreas de formações rupestres já inventariadas na Amazônia, como o Parque Estadual do Cristalino (Mato Grosso) e a Serra do Aracá (Amazonas). Também, será de grande importância para a comparação com outras áreas de cangas e de campos rupestres na Amazônia e em outras partes do país onde essas ocorram, e espera-se que seja um incentivo para novos inventários em áreas com flora ainda inexplorada.
Os dados anteriores a este novo levantamento faziam referências a três espécies de Ipomoea como nativas de Carajás, consideradas endêmicas da região: Ipomoea carajasensis , Ipomoea cavalcantei (a flor-de-Carajás) e Ipomoea marabaensis . O trabalho atual refere mais quatro espécies de Ipomoea como nativas, mas de distribuição ampla. Com o novo levantamento foi possível atualizar este dado, sabendo-se agora que há um total se sete espécies deste gênero da região de canga. Outros casos semelhantes também já foram registrados para outros grupos de planta.
Histórico - O início das investigações botânicas na Serra dos Carajás é relativamente recente. As primeiras coletas registradas datam de 1969, quando o botânico Paulo Bezerra Cavalcante, do Museu Goeldi, realizou sua primeira expedição à região para coleta de material. Por meio de seus registros, foram descobertos e posteriormente descritos gêneros e diversas espécies até então desconhecidas para a ciência, a exemplo do Monogereion carajensis .
Nos anos seguintes, as coletas de material botânico na região foram intensificadas por pesquisadores do Museu Goeldi, com o apoio da então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), atual Vale, que mantém os estudos para conservação de espécies nativas. A empresa desenvolveu o Estudo Fenológico de Espécies Vegetais da Província Mineral de Carajás e faz o monitoramento contínuo do ciclo e desenvolvimento das espécies a fim de analisar e implantar programas para contribuir para a sua proteção.
Decorrente desses esforços, foi publicada em 1983 da primeira listagem florística para a vegetação de canga da Serra dos Carajás, organizada por Ricardo Secco (MPEG) e Antônio Mesquita (Instituto de Tecnologia da Amazônia). A publicação serviu como base para estudos com diversas abordagens. Mais tarde, em 1991, Manoela da Silva (MPEG), no estudo “Análise florística da vegetação que se cresce sobre canga hematítica em Carajás-PA (Brasil)”, lista 58 famílias, 145 gêneros e 232 espécies para a vegetação de canga.
Nesta listagem, 31% dos táxons (usados no sistema de classificação dos seres vivos) não foram identificados até o nível de espécie ou carecem de confirmação na determinação. Grande parte do material botânico testemunho desses trabalhos encontra-se depositado no herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi (Herbário MG).
A partir do final de 2007, consultores, professores e estudantes vinculados ao herbário BHCB, da Universidade Federal de Minas Gerais, desenvolveram estudos sobre a flora das cangas de Carajás, visando, principalmente, a elaboração de relatórios do impacto ambiental nas abrangências da FLONA Carajás. As análises florísticas e fitossociológicas desta vegetação resultaram num incremento de aproximadamente 5.000 amostras, depositadas no acervo da Universidade de Minas Gerais.
Em 2014, pesquisadores do MPEG tiveram aprovação de auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para iniciar a elaboração da Flora de Carajás, um projeto a médio-longo prazo. No início de 2015, com a contratação da Dra. Ana Maria Giulietti, uma botânica reconhecida mundialmente e que já atuou na elaboração e organização de várias floras nacionais (como, por exemplo, a Flora da Serra do Cipó, a Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, Flora de Grão-Mogol e Flora da Bahia), a Flora de Carajás foi alavancada. O MPEG e o ITV-DS firmaram um Acordo de Cooperação Técnica para o desenvolvimento do projeto "Flora das cangas da Serra dos Carajás" visando a retomada dos estudos sistemáticos sobre essa flora, uma parceria público-privada que permitiria uma produção muito mais rápida de resultados.
Museu Goeldi – É a instituição de pesquisa mais antiga da Amazônia, fundada em 06 de outubro de 1866. Atualmente, o Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG é um instituto de pesquisa vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Possui 3 bases físicas: um Parque Zoobotânico e um Campus de Pesquisa, em Belém, além de uma Estação Científica na Floresta Nacional de Caxiuanã, localizada no arquipélago do Marajó. Mantém 18 coleções científicas principais com mais de 4,5 milhões de itens tombados, e 6 programas de pós-graduação. O MPEG é uma referência na pesquisa sobre o bioma amazônico, tendo descoberto mais de 249 novas espécies de fauna e flora apenas nos últimos anos. A instituição é pioneira e tem atuação constante em estudos científicos na região de Carajás, na área de Botânica, Zoologia, Arqueologia e outras especialidades. O Herbário do Museu Goeldi reúne atualmente 216.120 espécimes, incluindo exsicatas de plantas vasculares, amostras de briófitas e fungos. A coleção de tipos nomenclaturais inclui 3.231 espécimes. Associadas ao herbário, existem ainda coleções de plântulas (120 registros), plantas aromáticas (900), lâminas palinológicas (8.200), carpoteca (2000) e xiloteca (7.276).
Vale - A Vale começou no sudeste do Pará em 1985, na operação do Projeto Ferro Carajás, onde, atualmente, a empresa opera minas de ferro, cobre e níquel. A mais recente operação é o Complexo S11D Eliezer Batista, inaugurado no final de 2016. A empresa tem mostrado que é possível conciliar a atividade mineral com respeito ao meio ambiente. A Floresta Nacional de Carajás, onde se localiza o complexo mineral da Vale, tem 412 mil hectares de floresta nativa e, após 30 anos de atividades na região, mesmo com a implantação do S11D, a interferência da Vale na Flona é de cerca de 4%. Além de apoiar o ICMBio na proteção da floresta, que integra o Mosaico de Unidades de Conservação, a empresa desenvolve programas de monitoramento e de recuperação de áreas. Há oito anos, a Vale criou o Instituto Tecnológico Vale (ITV), com o objetivo de buscar soluções inovadoras que auxiliem o desempenho operacional da empresa e gere mudanças fundamentais nas estruturas de negócios com respeito ao meio ambiente e às comunidades. O ITV mantém duas unidades: uma em Belém (PA), especializada em questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável; e outra em Ouro Preto (MG), voltada a temas ligados à mineração.
Textos: Carmem Oliveira (Vale) e Uriel Pinho (MPEG)
Serviço:
Lançamento Rodriguesia – Flora de Carajás – Volume 1
Data: 09 de fevereiro de 2017
Local: Auditório Paulo Cavalcante, Campus de Pesquisa do Museu Goeldi
Horário: 15 horas
Programação
15h - Cerimônia
16h30 – Sorteio de exemplares para o público presente
16h45 - Coffee table