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Nova espécie de calango descoberta no sertão nordestino
Agência Museu Goeldi – Pesquisadores de instituições do Brasil e dos Estados Unidos acabam de nomear uma nova espécie de lagarto que vive em rochas do semiárido da Caatinga, no estado da Bahia. Trata-se do Tropidurus sertanejo. A espécie, coletada pela primeira vez no início da década de 90, foi batizada em homenagem aos habitantes do sertão nordestino. A descoberta foi publicada no periódico American Museum Novitates , de Nova York.
Os adultos de Tropidurus sertanejo podem chegar a oito centímetros de comprimento, possuem a cabeça com coloração bronze e o corpo marrom com pequenos pontos de cor salmão. A espécie possui ainda uma combinação única de dobras de pele conhecidas como “bolsas de ácaros”, que concentram larvas de ácaros parasitas em regiões específicas do corpo.
“Até o início da década de 80 eram conhecidas apenas sete espécies de Tropidurus . Com a descrição de Tropidurus sertanejo, o número total de espécies chega a 26”, explica André Luiz Carvalho, do American Museum of Natural History, pesquisador líder do estudo. “Durante o meu doutorado analisamos dados genéticos e morfológicos de diversas populações desses lagartos ao longo de toda a América do Sul. Os resultados do projeto sugerem que ainda existem diversas espécies não descritas no grupo”, comenta André.
A descrição de Tropidurus sertanejo é uma das etapas de um estudo mais amplo, que investiga os limites de distribuição de todas as espécies do grupo na América do Sul, sua diversidade e complexidade morfológica —a configuração das formas da partes internas e externas de seu corpo— e genética, além de uma estimativa do número de espécies existentes.
Quebra-cabeça - Sobre a descoberta, Pedro Peloso, coautor da descrição e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, diz que descobrir uma nova espécie, por si só, já é fascinante para qualquer biólogo, mas que a maior importância de um achado como este está na informação que cada nova espécie acrescenta ao conhecimento sobre a evolução da biodiversidade no planeta.
“Cada uma acrescenta uma nova peça ao quebra cabeça, mas a verdade é que ainda estão faltando muitas peças até termos uma visão completa dos fatores que levam à origem, diversificação e extinção das espécies”, diz Pedro.
Os pesquisadores ainda conhecem pouco sobre a distribuição geográfica, os hábitos e as interações da espécie com outros animais e o ambiente. Ela foi registrada apenas em duas localidades na Bahia, separadas por cerca de 150 km. Somente uma dessas localidades é uma área protegida por lei, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Pé da Serra, com pouco menos de 13 km quadrados. Por ser muito pouco conhecida e por estar associada a ambientes específicos dentro da Caatinga, os cientistas dizem que a situação da espécie deve ser tratada com atenção especial do ponto de vista da sua preservação.
Esforço de Pesquisa – De acordo com os pesquisadores, a descoberta dessa nova espécie só foi possível porque o projeto envolveu viagens a diversas localidades na América do Sul, onde realizaram coletas de material em campo e analisaram espécimes depositados em museus de História Natural.
Rachel Montesinos, aluna de doutorado da Universidade de São Paulo e também autora do estudo, explica ainda o trabalhoso processo de identificação do lagarto: “o André Carvalho visitou coleções e foi para campo em diversos países, como a Argentina, Bolívia e Paraguai, por exemplo. Durante esse processo, descobrimos outras espécies ainda não descritas, bem como pudemos mapear melhor a ocorrência das espécies do grupo. Sem esses registros antigos das coleções, unidos aos novos registros feitos pela nossa equipe no campo, seria impossível mapear com precisão a distribuição dessas espécies”.
O artigo – Publicado no período American Museu Novitates , o artigo que descreve o Tropidurus sertanejo foi conduzido pelo Dr. André Luiz Carvalho durante o seu doutorado, realizado no American Museum of Natural History, Nova York, Estados Unidos. São autores do estudo também Pedro Peloso (Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém); Marco Sena, Fabio Machado, Rachel Montesinos e Miguel Rodrigues (Universidade de São Paulo); Hélio R. Silva (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro); e Gwyneth Campbell (American Museum of Natural History).
O estudo teve auxílio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) da Richard Gilder Graduate School, do Explores Club, e da Andrew Sabin Family Foundation.
Texto: Uriel Pinho, com informações da equipe de pesquisa