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Nova espécie de bambu é descoberta no Marajó
Agência Museu Goeldi – Durante o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, área de concentração Botânica Tropical (PPGBot), Kauê Nicolas Lindoso Dias catalogou 39 espécies da família Poaceae, as famosas gramíneas. A maior surpresa da pesquisa foi a descoberta de uma nova espécie do gênero Pariana no Arquipélago do Marajó (PA), onde o Museu Paraense Emílio Goeldi instalou e mantém a Estação Científica Ferreira Penna.
Batizada de Pariana caxiuanensis, em homenagem a Floresta Nacional de Caxiuanã, situada nos municípios marajoaras de Portel e Melgaço, a nova espécie descoberta é um Bambu, que se diferencia por ter colmos (caule) floríferos dimórficos, ou seja, estruturas diferentes entre si. Alguns colmos têm inflorescências e folhas, alguns apenas inflorescência. Nos colmos vegetativos as folhas são concentradas no seu ápice. É uma planta de porte pequeno, alcança mais ou menos 40 cm de altura e tem potencial ornamental, segundo seus descobridores.
“Ela possui um enorme potencial ornamental. É uma planta de pequeno porte. Por ser uma planta de sombra, é fácil de ser cultivada dentro de casa,” explica Kauê Dias, que atualmente é aluno de doutorado em Biodiversidade e Evolução, pós-graduação oferecida pelo Museu Goeldi, e continua sua parceria com o botânico Pedro Lage Viana, seu orientador tanto no mestrado quanto no doutorado, pesquisador e coordenador da Botânica do Museu Goeldi.
A descoberta da espécie de Pariana foi publicada na revista Phytotaxa por Kauê Dias, em parceria com Fabrício Moreira Ferreira, bolsista de pós-doutorado na Universidade Federal de Uberlândia, e Pedro Viana.
Quando perguntado sobre a emoção de participar da catalogação de uma nova especie, Kauê Dias respondeu: “É uma emoção ímpar, desde a coleta até a publicação. Quando coletei a espécie eu não tinha ideia de quem ela era, estava descobrindo as parianas. Meu atual co-orientador, o Fabrício Ferreira, em uma visita ao Museu Goeldi, olhou ela comigo e disse que era nova. Já foi uma emoção muito grande saber que eu tinha uma espécie nova em mãos, então foi hora de começar a pensar na publicação dela, o que incluía dar um nome à nova espécie. Depois de muitas conversas entre mim, Fabrício e o Pedro Viana (orientador), decidimos homenagear a FLONA de Caxiuanã, que é onde ela ocorre. Até então só sabemos da ocorrência dela lá. A emoção final foi quando finalmente saiu a publicação, sendo a primeira publicação da minha dissertação desenvolvida na Pós-Graduação em Botânica Tropical, fruto da parceria entre o Museu Goeldi e a Universidade Federal Rural da Amazônia. Com essa publicação encerramos o ciclo e entregamos uma nova espécie para a ciência”.
Flona de Caxiuanã – Localizada no estado do Pará, no Arquipélago do Marajó, entre os municípios de Portel e Melgaço, a Floresta Nacional de Caxiuanã é uma unidade de conservação federal, criada em 1961. É gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A Estação Cientifica Ferreira Penna é a base de pesquisa do Museu Goeldi na Flona de Caxiuanã e que oferece aos pesquisadores infraestrutura de laboratórios e alojamentos para realização de projetos diversos de biosociodiversidade.
A população tradicional que habita dentro e no entorno da FLONA pratica agro extrativismo de subsistência, com farinha de mandioca, castanha do Pará e açaí como principais produtos.
Bambus – A Pariana Caxiuanesis, como já foi citado, é uma espécie de bambu da Amazônia e são parte da família das gramíneas. Existem em quase todas as regiões tropicais do mundo, principalmente na Ásia, América do Sul e Central.
Os bambus asiáticos estão entre os mais altos e mais famosos, estando no imaginário popular associados a alimentação dos ursos pandas.
Os bambus sul-americanos são comumente de porte pequeno, podendo aparecer em forma de cipó ou até mesmo ervas bem pequenas com até 5 centímetros de altura. Também temos algumas espécies de porte grande, as famosas tabocas.
O pesquisador Pedro Viana considera que os bambus são um recurso natural subutilizado no Brasil. “Os bambus maiores, como as tabocas, tem potencial gigante de usar na construção civil, artesanato, bioconstrução, etc. Vários usos. Existem muitas técnicas já difundidas mundialmente com o uso de bambu para construção de sistemas de permaculutra e de casas tradicionais também. O bambu tem uma capacidade de crescimento muito rápido e de produzir muita matéria orgânica. Deles dá para tirar celulose para fazer papel, por exemplo. Existe também o potencial ornamental dos bambus pequenos, que são fáceis de cultivar, gostam de sombra. São muitas potencialidades que não são exploradas. Agora, estão começando a aparecer iniciativas tecnológicas para utilização de bambus, principalmente no Acre, que possui formações gigantescas de bambu em seu território”.
Confira a conversa completa com os pesquisadores e conheça mais sobre essa descoberta. Acesse o áudio da entrevista.
Texto e Podcast: Nina Dacier
Revisão: Joice Santos