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No Museu Goeldi, festival destaca alimentação saudável e orgânica
Agência Museu Goeldi - Alimentação saudável não envolve somente a ingestão de diversos nutrientes. O Guia Alimentar da População Brasileira de 2015 diz que, na mesma medida que a diversidade de nutrientes é indispensável, “igualmente importantes para a saúde são os alimentos específicos que fornecem os nutrientes, as inúmeras possíveis combinações entre eles e suas formas de preparo, as características do modo de comer e as dimensões sociais e culturais das práticas alimentares”.
Neste sentido, a gastronomia inteligente - a potencialização dos nutrientes e a utilização de todas as parte de um alimento - está muito ligada à alimentação saudável.
No último Festival da Gastronomia Inteligente, que ocorreu de 16 a 18 de setembro no Museu Paraense Emilio Goeldi, o público foi convidado a participar de várias atividades que procuravam aproximar a alimentação saudável do cotidiano dos paraenses.
Palestra - O Festival iniciou com a palestra “Segurança, soberania alimentar e nutricional na Amazônia”, ministrada pela Dra. Clara Brandão, na manhã do dia 16. A médica nutróloga discutiu os perigos da contaminação e do consumo de industrializados. Dra. Clara também ressaltou a importância da multimistura - uma farinha desenvolvida por ela que é feita com o pó da folha da maniva, gergelim, farelo de arroz ou de trigo.
“Nós somos acostumados a tratar consequência. Ela tem diarréia? Eu dou um remédio pra prender o intestino. Não pode ser assim. Vamos trabalhar a causa, não a consequência”, explicou a nutróloga durante a palestra, onde o enfoque foi a alimentação como elemento decisivo na melhoria das políticas de saúde pública no Brasil.
Do campo ao garfo - No sábado (17) foi realizada uma visita técnica à Feira dos Produtores Orgânicos na Praça Batista Campos, guiada pela Dra. Clara. No dia 18, a Expo-Feira Arte Goeldi, que ocorreu no Parque Zoobotânico do MPEG, reuniu artesãos, organizações não-governamentais e arte-educadores do Museu Goeldi. Um dos temas enfatizados durante o evento foi o consumo da comida produzida de forma sustentável, ou seja, a comida que não tem agrotóxicos, nem pesticidas e não é ultraprocessada.
Coletivos sustentáveis - A Rede Bragantina, um coletivo de associações e cooperativas que procura incentivar a produção sustentável dos pequenos agricultores, foi um dos participantes da Expo-Feira no domingo. Nazaré Reis, que trabalha com a comercialização de alimentos da Rede, diz que a venda destes é importante “para que os agricultores possam fazer o trabalho deles, já que a gente é só uma das pontas da produção”. O coletivo trabalha com a economia solidária, que produz em coletividade, das plantações até a venda dos produtos.
Nazaré explicou que a Rede funciona em 6 municípios: Santa Luzia do Pará (onde fica a sede), Capitão Poço, Viseu, Cachoeira do Piriá e Bragança. Além disso, em Belém o coletivo vende seus produtos nas Feiras de Produtos Orgânicos - na Praça Batista Campos e na Praça Brasil - e em um ponto na Tv. Lomas Valentinas, 1126. Fora os alimentos in natura - feijão manteiguinha, farinha de mandioca, mel, entre outros -, a Rede Bragantina levou lanches prontos para o Festival, como o bolinho de macaxeira e piracuí feito com produtos orgânicos e regionais.
A comida preparada pelo Projeto Toró - Gastronomia Sustentável também foca nesse tipo de matéria prima. Susane, que é geóloga por formação, destaca a importância de cozinhar com alimentos de pequenos produtores locais: “eu não preciso comprar um ingrediente distante. Isso vai gerar um resíduo pra natureza, de emissão de gases, de não valorizar o produtor local. É uma cadeia, uma coisa vai puxando a outra”.
A representante do Toró diz que, como já estamos acostumados a comer alimentos industrializados, a comida orgânica parece distante. Mas não é - aliás, está mais perto do que parece: “no vizinho”, como ela chama os produtores locais. “A gente não pode dizer que tem que ser orgânico, de uma hora pra outra. Isso é um processo. Com o tempo você vai mudando as coisas, vai percebendo que o teu consumo vai mudando” afirma Susane.
Natureza e o Museu - É a primeira vez que o Projeto Toró, que tem pouco mais de um ano de existência, participa do Festival da Gastronomia Inteligente. Por já terem começado pensando a sustentabilidade, encontram no Museu um lugar que “é muito especial, porque é uma área urbana, mas que a gente pode sentir confortável por estar ouvindo os animais, estar com a natureza. E as palestras da Dra. Clara foram esclarecedoras. Todas foram diferentes, ensinaram algo novo, apesar de serem sobre o mesmo tema”.
A Dra. Clara Brandão, que colabora com a programação desde o primeiro Festival - antes, Festival da Gastronomia Alternativa - encerrou a programação falando sobre formas de aumentar a variedade de nutrientes de uma dieta, além de sugerir usos para a multimistura. De acordo com Helena Quadros, educadora do MPEG e uma das organizadoras do Festival, a parceria rendeu tanto porque a Dra. Clara “tem um trabalho maravilhoso com a multimistura no Brasil e no exterior”.
Texto: Juliana Araujo