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Museus e vidas conectadas - Amazônia e Estados Unidos
Agência Museu Goeldi - A partir desse mês, uma pequena vila amazônica do interior da Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará (Brasil), e a cidade de Norwalk, de Connecticut (EUA), estão conectadas. O Stepping Stones Museum for Children (CT - EUA) e o Museu Paraense Emílio Goeldi , instituto de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, foram selecionados para a nona edição do Programa Museums Connect , financiado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Com o título “Lifelines/Aspectos Vitais: A convergência de Artes, Ecologia e Cultura na Amazônia e Nova Inglaterra”, o projeto em desenvolvimento pelo Stepping Stones e o Museu Goeldi foi aprovado em concorrida seleção. Por meio dele, estudantes de ensino fundamental da comunidade rural de São Sebastião na Flona de Caxiuanã, integrante do município de Portel, no Pará, e da Escola Fairchild Wheeler Interdisctrict Magnet, da cidade de Norwalk no estado de Connecticut (Estados Unidos), estão compartilhando informações sobre suas vidas, ciência, meio ambiente e artes.
“Lifelines/Aspectos Vitais” conta ainda com a participação do Maritime Aquarium e da organização sem fins lucrativos Creative Connections , ambos de Norwalk e parceiros do Stepping Stones. O Museu Goeldi, por sua vez, tem a colaboração do Instituto Transformance , de Marabá (PA).
Trocas - Mais de 5 mil quilômetros separam a Floresta Nacional (Flona) de Caxiuanã, no estado do Pará, da cidade de Norwalk, no estado americano de Connecticut. Os cerca de 87 mil habitantes de Norwalk se distribuem em uma área que caberia 35 vezes dentro da área ocupada pela Flona de Caxiuanã, que alcança 3.300 km², e conta com pouco mais de 400 habitantes.
É na Floresta Nacional de Caxiuanã que se localiza a Estação Científica Ferreira Penna, base científica do Museu Goeldi, onde se concentrarão a maior parte das atividades em solo brasileiro do projeto “Lifelines/Aspectos Vitais”
Outras distâncias se impõem entre habitantes da floresta paraense e da cidade norte-americana. Os cerca de 77 mil habitantes de Portel e Melgaço, os dois municípios que abrigam a Flona de Caxiuanã, convivem com os piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil. Em 2013, Melgaço foi listado como o município com pior IDH de todo o país. Enquanto isso, o estado de Connecticut tem a quarta maior renda per capita dos EUA e figura como o primeiro estado em índice de desenvolvimento humano daquele país.
Entretanto, há também proximidades. A começar pelos ecossistemas aquáticos que são parte fundamental tanto da Floresta Nacional de Caxiuanã, parte do maior arquipélago fluviomarinho do mundo, e da litorânea Norwalk, situada estuário de Long Island, um importante ecossistema ao redor do qual vivem pelo menos 23 milhões de pessoas.
O projeto LifeLines é coordenado no Brasil por Maria do Socorro Andrade Silva, responsável pelo programa de educação da Estação Científica Ferreira Penna. “O projeto abordará um vasto leque de impactos, mas o principal é levar o aluno e professores a refletir a construção do conhecimento e a valorização do seu modo de vida, através da troca de experiências que serão vivenciadas por eles”, explica Socorro Andrade.
O projeto – “Lifelines/Aspectos Vitais: A convergência das Artes, Ecologia e Cultura na Amazônia e Nova Inglaterra” propõe que estudantes dos Estados Unidos e do Brasil discutam a importância dos ecossistemas aquáticos para a vida das populações dos dois países.
Apesar das diferenças culturais, econômicas e de infraestrutura, espera-se que estudantes e professores da Vila de São Sebastião da Flona de Caxiuanã e da cidade Norwalk possam investigar questões científicas e de gestão relacionados às bacias hidrográficas onde vivem. As bacias são fonte de inspiração e reflexão para a construção de conhecimentos e troca de saberes através de vídeo, pintura, música, dança e narrativas digitais.
Do lado brasileiro, a bacia amazônica, no estado do Pará, será um laboratório vivo para este aprendizado. A Estação Científica Ferreira Penna, do Museu Goeldi, servirá de base para esses experimentos, por meio de oficinas, minicursos e visitas.
Já do lado americano, o estuário de Long Island, na costa atlântica do país, será o local de aprendizado e descobertas de estudantes de comunidades rurais do interior do Marajó. Na cidade de Norwalk, eles também ter ão a chance de falar sobre sua realidade para a grande comunidade brasileira residente na região.
Em sua preparação para a vida conectada pelas mídias digitais e artes, os jovens de São Sebastião ter ão ajuda dos participantes da comunidade Cabelo Seco (Marabá – PA) do premiado projeto Rios de Encontro do Instituto Transformance, do projeto “Nortear”, coordenado pelo professor de cinema da UFPa, Luiz Adriano Daminello e do Laboratório de Comunicação Multimídia do Museu Goeldi.
O material produzido pelos jovens será compartilhado nas mídias e em exposições em ambos os museus. O aprendizado dos jovens brasileiros também será compartilhado com as comunidades da flona.
Intercâmbio no Brasil – A programação do intercâmbio no Brasil já começou. Oito jovens estudantes da Escola Fairchild Wheeler Interdisctrict Magnet, acompanhados de professores e dirigentes do Stepping Stones Museum for Children, Maritime Aquarium e da Creative Connections visitaram o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, em Belém, no dia 20 de novembro . A visita foi uma preparação para a próxima escala da delegação americana - conhecer presencialmente seus 25 parceiros brasileiros, a vila de São Sebastião, a Estação Científica do Museu Goeldi na Floresta de Caxiuanã e interagir com mais 100 jovens de outras vilas rurais amazônicas durante a VII Olimpíadas de Ciências da Floresta Nacional de Caxiuanã.
A delegação americana do projeto LifeLines/ Aspectos Vitais no Brasil é composta por: Bill Jeffries (director of strategic initiatives/ Stepping Stones Museum for Children), Kim Kuta Dring (director of learning and experience/ Stepping Stones), Miguel Barreto (program diretor/Creative Connections), Tom Naiman (director of education /The Maritime Aquarium), Bridget Cervero, (education supervisor of public & secondary programs and training /The Maritime Aquarium), Lucien Bouffard (teacher/Fairchild Wheeler Interdisctrict Magnet School) e os estudantes Abigail Lee Joseph, Alexandra Erazo Henrique, Angel Torres, Gabriela De Paula, Maia Mneimne, Sejal Kabre, Sydney Kmetz e Tommy Trinh
Ao retornar da floresta de Caxiuanã no dia 30 de novembro , os participantes do projeto conhecerão a experiência dos pesquisadores mirins do Museu Goeldi, além das coleções científicas no Campus de Pesquisa e a nova exposição da instituição, intitulada Transformações, cujo objeto é o Antropoceno e os impactos na Amazônia.
De acordo com Maria Emília Sales, coordenadora de Comunicação e Extensão do Museu Goeldi, o projeto LifeLines é um ótimo desafio. “Para esse intercambio selecionamos o programa de educação de Caxiuanã, como uma experiência consolidada e de êxito. Para as crianças da comunidade de São Sebastião vai ser uma experiência única, pra nós também. O intercâmbio na Estação Científica com pesquisadores e estudantes universitários já acontece, mas é a primeira experiência levando um grupo de estudantes de high school para o meio da floresta amazônica. Estamos com uma grande expectativa. Espero que seja o primeiro de vários intercâmbios”, explica Maria Emília.
Em Março de 2017, uma delegação de 8 estudantes da comunidade rural de São Sebastião, na Floresta Nacional de Caxiuanã, arquipélago do Marajó, junto a seus professores e técnicos do Museu Goeldi também farão viagem de intercâmbio para os Estados Unidos. Os alunos amazônidas farão uma apresentação especial em Nova York.
Museums Connect - O Programa é uma iniciativa conjunta da Aliança Americana de Museus e do Escritório de Assuntos Culturais e Educacionais do Departamento de Estado. Por meio de uma concorrida seleção, o Museums Connect concede prêmios para o financiamento de projetos de museus e comunidades nos Estados Unidos em parceria com instituições de outros países.
O objetivo é promover intercâmbios culturais que impactem principalmente populações jovens. Os participantes desenvolvem projetos comunitários que tratam de temas como empoderamento feminino, sustentabilidade ambiental e expansão do acesso à educação de qualidade. Em seu nono e último ano, o Museums Connect já promoveu atividades conjuntas entre museus de 30 estados americanos, mais o distrito de Columbia, e parceiros em outros 51 países.
Texto: Uriel Pinho e Joice Santos