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Museu Goeldi se despede de ancião do Parque Zoobotânico
Agência Museu Goeldi – Um dos moradores mais antigos e icônicos do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) faleceu no início de setembro. Ancião no Parque, o cabeça-seca viveu cerca de 40 anos compondo a fauna livre e deixa muitas lembranças para quem o visitou. De acordo com a literatura científica, a expectativa de vida da ave é, em média 40 anos.
O nome curioso, que podia parecer apelido, era oficial: cabeça-seca (Mycteria americana) é uma ave pernalta que caminha lentamente em águas rasas e com a ponta do bico imersa procuram peixes, anfíbios e pequenos répteis em campos inundados. É uma ave migratória que pode ser encontrada dos Estados Unidos à Argentina. No Brasil, normalmente habita o Pantanal, apesar de ser visto na paisagem de quase todo o nosso país.
Quem visitou o Parque Zoobotânico nos últimos quarenta anos certamente apreciou a sapiência da ave em observar o ambiente para depois se aproximar. Era cuidadoso com sua segurança, dormia sempre em lugares mais claros e não participava de disputas na hora da alimentação. Não gostava que humanos se aproximassem. Apesar da idade avançada e da artrose que dificultava os passos, ele tinha uma vida ativa no Parque.
O veterinário do MPEG e curador da fauna do Parque Zoobotânico, Messias Costa lembra que o cabeça seca tinha hábitos saudáveis, que podem explicar a sua longevidade. “Ele caminhava diariamente. Saia do lago dos tambaquis, que era onde morava, e variava os locais dentro do Parque, dividia a comida com as cotias e as garças visitantes. Tinha um comportamento muito tímido e calmo, talvez também por conta da fragilidade física, mesmo sendo maior que outros animais”, comenta.
A convivência da espécie no Parque trouxe ensinamento sobre liberdade e bem-estar, tanto para os visitantes quanto para a equipe de cuidadores da fauna. A independência de poder circular livremente pelo espaço, pegar sol e banhar onde desejasse, proporcionou uma excelente qualidade de vida, refletida no seu pouco nível de estresse e alta imunidade do nosso saudoso cabeça-seca.
Segundo Messias, o animal conseguia dormir bem, tinha uma rotina de exercícios e alimentava-se bem, o que indica uma qualidade de vida e saúde. Desta maneira, a equipe de veterinária do Museu optou por deixar o animal livre, sem manipulação humana, o que ocasionaria estresse.
O Cabeça-seca poderá, ainda, ser visitado mais tarde na Coleção Didática do Museu, quando for taxidermizado pela equipe de profissionais do Goeldi.
Espécie - O cabeça-seca (Mycteria americana) é uma ave ciconiiforme da família Ciconiidae. A espécie mede cerca de 95 centímetros tem e o peso médio de 2,8 quilos. Costuma habitar manguezais, pantanais e alagados permeados de florestas.
A espécie é encontrada em quase todo o Brasil, mas sobretudo no Pantanal e na costa do Nordeste. Também ocorre do Sul dos Estados Unidos até a Argentina.
Desloca-se na água rasa à procura de alimento, que geralmente consiste em peixes, mas também se alimenta de anfíbios e pequenos répteis.
É da sua natureza é viver em bandos distintos, sobretudo quando jovem. O cabeça seca pode ser conhecido também como cabeça-de-pedra (Mato Grosso), jaburu-moleque, trepa-moleque (Mato Grosso) ou joão-grande (Rio Grande do Sul).
Texto: Kauanny Cohen