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Museu Goeldi registra nova espécie de lagarto na Colômbia
Agência Museu Goeldi – Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) acabam de anunciar a descoberta de uma nova espécie de lagarto da região do Chocó colombiano. A espécie recebeu o nome de Alopoglossus embera , em homenagem ao povo indígena Emberá, habitantes da região onde o lagarto foi descoberto. O estudo evidencia a importância dos museus de história natural, como é o caso do Goeldi. O detalhe é que exemplares da nova espécie já haviam sido coletados há quase 45 anos. A descoberta foi publicada no periódico South American Journal of Herpetology , revista oficial da Sociedade Brasileira de Herpetologia. Leia o artigo na íntegra .
A região do Chocó está localizada no oeste da Colômbia, com litoral tanto nos oceanos Pacífico quanto no Atlântico, apresenta semelhanças na diversidade biológica da Amazônia. Os pesquisadores do Museu Goeldi têm tido uma participação importante na descrição e divulgação de novas espécies para a ciência nesta região. Este é o caso do lagarto Alopoglossus embera , cuja descoberta resulta dos estudos empreendidos pelo pesquisador Pedro Peloso (bolsista de pós doutorado do Goeldi e professor no Programa de Pós Graduação em Zoologia PPGZOOL, do convênio entre Museu Goeldi e Universidade Federal do Pará) e Cristian Morales (mestrando do PPGZOOL).
Peloso e Morales desenvolvem um estudo sobre a evolução das espécies da família de lagartos Alopoglossidae. Para isso, os pesquisadores visitaram diversas coleções analisando em detalhe a morfologia dos exemplares dos gêneros Alopoglossus e Ptychoglossus. Foi durante o exame de material desse grupo, depositado em coleções internacionais, que os pesquisadores encontraram a nova espécie.
Importância das coleções zoológicas – De acordo com o estudo, os exemplares utilizados na descrição já estavam disponíveis para estudo há mais de 30 anos. Pedro Peloso destaca que grande parte do material foi obtida em 1973, por pesquisadores do American Museum of Natural History , de Nova York (EUA): “Diversas expedições científicas resultam na coleta de material que pode ficar muitos anos sem ser estudado em detalhe. No caso do Alopoglossus embera, boa parte do material foi coletado na década de 70 e ficou guardado nas prateleiras do museu americano desde então. A outra parte estava guardada na Universidad del Valle , na Colômbia, mas também estava disponível para estudo desde os anos 80”.
Este caso exemplifica a importância das coletas científicas para estudos em biodiversidade. “Embora exista uma certa polêmica envolvendo a coleta de material biológico, a verdade é que se esse material não tivesse sido coletado, mais de 30 anos atrás, não saberíamos da existência dessa espécie”, explica Peloso. É comum que a descrição de uma espécie só seja feita muitos anos depois da sua coleta porque geralmente são necessários diversos estudos e comparações com espécies já descritas. Os taxonomistas geralmente precisam estudar material depositados em museus do mundo inteiro.
Pedro Peloso completa que há espécies conhecidas somente por poucos ou, até mesmo, um único exemplar. Essa situação dificulta o trabalho do taxonomista (cientista que estuda a nomenclatura dos seres vivos). “Para este estudo, além da coleção do Museu Goeldi, precisamos olhar o material depositado em coleções dos Estados Unidos e da Colômbia, só assim tivemos certeza de que os exemplares que encontramos não se encaixavam em nenhuma das espécies já descritas” confirma o pesquisador.
Homenagem aos índios emberá – Os Emberá formam um grupo étnico composto por diversos subgrupos e que habitam a região de Darién, no Panamá até a região do Chocó, na costa pacífica da Colômbia e do Equador.
Cristian Morales, colombiano e aluno de mestrado no Museu Goeldi, destaca que a região do Chocó é extremamente importante do ponto de vista biológico. “Trata-se de uma região bem diferenciada do restante da América do Sul, especialmente se comparada aos ecossistemas presentes do lado oriental dos Andes”.
Os autores destacam que o Chocó possui imensa diversidade biológica e cultural, da qual grande parte é encontrada exclusivamente ali. Cristian destaca que a região e a sua biodiversidade estão em perigo, especialmente devido ao avanço da agricultura e mineração. Por outro lado, o pesquisador destaca a dificuldade em acelerar os estudos acerca da diversidade do Chocó: “O problema fica ainda maior pela dificuldade para levar a cabo estudos nessa região, devido ao difícil acesso e as dinâmicas de violência presentes na zona” destaca Cristian.